CRITICAN A LA ESPOSA DE TEMER, MARCELA, POR SU VISION CONSERVADORA Y MACHISTA (videos)

Una primera dama “recatada y de hogar”

 

 

 

Página 12/ Argentina – Un reportaje de Veja que la definía como “bella, recatada y de hogar” desató mordaces críticas de organizaciones civiles y grupos feministas. Dice que sus días se centran en las tareas del hogar.

Cuando Marcela Tedeschi ganó a los 19 años el título de Miss Paulínia, ciudad en el estado de San Pablo, no podía imaginar que terminaría casada con Michel Temer, un político 43 años mayor que ella, que llegaría a la Presidencia de Brasil y la convertiría en primera dama del país.

Tras la asunción de Temer como presidente interino, con Marcela, Brasil vuelve a tener primera dama después de casi seis años. La última fue la esposa de Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa Leticia.

Desde sus primeras apariciones en público, durante la asunción presidencial de Dilma Rousseff, en 2011, Marcela Temer robó la atención de la prensa y provocó las reacciones más dispares tanto por su exuberante belleza rubia como por sus comentarios. En medio de una crisis política sin precedentes en un cuarto de siglo en el país, que terminó con la separación del poder de Rousseff y la asunción del hasta ahora vicepresidente Temer, Marcela volvió a levantar polémica.

Un reportaje de la revista Veja que la definía como “bella, recatada y de hogar” desató mordaces críticas de organizaciones civiles y grupos feministas por la visión conservadora y machista del papel de la mujer que traslucían las palabras de Marcela. La nueva primera dama brasileña cuenta que sus días se centran en el cuidado de su hijo, de 6 años, de su esposo, Michel, y en las tareas del hogar. Marcela Temer “aparece poco, le gustan los vestidos a la altura de las rodillas y sueña con tener otro hijo con el vicepresidente”, señalaba la revista en el reportaje.

Rápidamente se multiplicaron las comparaciones con Rousseff, que acaba de ser separada del poder y que cuenta con un pasado de militancia política que la llevó a la cárcel en su juventud y una prolífica carrera política. La experiencia de Marcela es muy distinta. Estudio en un colegio de Paulinía –a unos 500 kilómetros de San Pablo– y con 19 años, en 2002, consiguió el título de Miss de la ciudad y de “vice Miss San Pablo”.

Trabajó como modelo y como recepcionista en un diario local hasta que conoció a Temer en un asado organizado por afiliados al Partido del Movimiento Democrático de Brasil (PMDB), y un año después, en 2003, se casaron en una ceremonia íntima. Ella tenía 20 años y él 63. En 2009, estudió derecho en una universidad de Sao Paulo pero, según explicó a medios locales, no rindió el examen final por el nacimiento de su hijo, Michelzinho. Cuando Temer, líder del PMDB, llegó a la vicepresidencia arropado por Dilma Rousseff, en 2011, se instalaron en el Palacio de Jaburu, en Brasilia, después de una profunda reforma. La hoy primera dama de Brasil, que se tatuó el nombre de su esposo en la nuca cuando comenzó su relación, se muestra en un discreto segundo plano en los actos públicos, aunque eso no evita que se convierta en blanco de las revistas del corazón.

Ajena a los comentarios sobre la diferencia de edad con su marido, Marcela asegura que “la edad no es obstáculo”. “Es como si Michel tuviera 30 años, suena gracioso pero es así”, dijo. La pareja parece vivir uno de sus mejores momentos, a juzgar por el reportaje de Veja, que reveló como el vicepresidente agasajó a su joven esposa hace unos meses reservando un exclusivo restaurante de Sao Paulo solo para “Mar” y “Mi”, como al parecer la familia se refiere a Marcela y Michel.

La pasión de Michel por “Mar” le inspiró como poeta: “Llamas de fuego, ojos brillantes, labios rojos, un incendio, toma cuenta de mí, de mi mente, de mi alma, de todo. En brasas, mi cuerpo, incendiado, consumido, disuelto. Finalmente quedan cenizas que esparzo en la cama”. Quizás, con sus nuevas responsabilidades como presidente interino de Brasil en medio de un huracán político y económico y con los Juegos Olímpicos en puertas, Michel Temer no tenga tanto tiempo para escribirle apasionados versos a su joven esposa.

O assédio é a única resposta do homem machista?

Num ato de mulheres em São Paulo pelos direitos da mulher, homens se acharam no direito de ridicularizá-las e até de se masturbar em público. Por quê?
Ato de mulheres: Cunha sai, a pílula fica

Ato de mulheres: Cunha sai, a pílula fica

por Clarice Cardoso

Nenhuma mulher se surpreendeu quando eu contei do rapaz branco, “bem vestido”, e aparentemente de classe média que decidiu se masturbar em plena Avenida Paulista, em São Paulo, enquanto milhares de mulheres protestavam contra o presidente da Câmara Eduardo Cunha, o PL 5069/13 e as cotidianas violências a que estão sujeitas.

Foi na esquina da própria Paulista, assistindo ao ato do outro lado da rua, que aquele rapaz de cerca de 30 anos de idade resolveu abrir as calças, colocar o pênis para fora e se exibir.

Eu esperava o farol fechar para atravessar quando percebi que ele olhava para mim e sorria. Eu já estava no meio da travessia quando percebi o que ele tinha na mão. A única reação foi sair dali o mais rápido possível.

Esse episódio não surpreendeu nenhuma mulher com quem eu conversei. Pior, passei a ouvir os mais variados relatos de situações similares.

Este não é um texto sobre este e os outros homens que encontrei na rua na sexta-feira. Esses homens que se infiltraram num ato de 15 mil pessoas para assediar mulheres e tentar, talvez, causar algum tipo de dispersão.

Este é um texto sobre a absurda incompetência do Estado em garantir a segurança de mulheres nas ruas das cidades, mesmo quando se trata de um ato feito por mulheres pelos direitos das mulheres.

Porque foi isto o que fez com que o cara da esquina achasse que ele podia fazer o que fez: a certeza da impunidade. Nenhum policial iria fazer nada porque sabemos, vemos todos os dias, não é atrás de pessoas assim que a polícia vai. E mesmo se fosse, “atentado ao pudor” é uma redução leve demais para o que acontece.

Pouco antes, tinha observado com atenção os homens que por ali passavam, alguns acompanhando suas mulheres e filhos, outros sozinhos ou com amigas, que caminhavam por São Paulo em sinal de apoio a questões de que eles só conseguem se aproximar por um exercício enorme de abstração. Alguém que não sabe o que é o medo do estupro gritando contra essa cultura é uma pessoa louvável.

No meio deles, um grupo de jovens vestidos de mulher, como se fossem a um baile de Carnaval, caminhava de um lado ao outro da rua se achando muito espirituosos. Porque é engraçado para eles ridicularizar as mulheres (cis e trans). Porque nossos corpos estão à disposição para usar, agredir, julgar ou fazer piada. Não estão? O Congresso acha que sim.

Eles só não eram piores que o grupo que se comportava como se estivessem numa balada. Entre milhares de mulheres, o teste do macho era para ver quem “pegava” mais mulheres. Um comportamento já por si só condenável replicado num ato sério, representativo, que precisa ser tratado com toda a seriedade que merece.

Dois chamaram a atenção pelo “apoio” às avessas que davam à causa. Sem camisa, usaram batom para escrever no corpo: “Meu útero, minhas regras”. A lógica explica o que há de errado nisso.

O que na pauta de demandas de todas aquelas mulheres incomodou tanto esses homens a ponto de eles lançarem mão do assédio como única forma de resposta? Por que é tão difícil para eles respeitar uma situação em que eles não são os protagonistas? Uma situação em que ninguém precisa pedir a ajuda deles para ser ouvida?

É quase como se o assédio fosse a última carta na manga para tentar voltar à cena.

aborto

“O feminicídio é a última instância do controle da mulher”, diz promotora Silvia Chakian

 

Silvia Chakian:O feminicídio é a última instância do controle da mulher

Silvia Chakian: O feminicídio é a última instância do controle da mulher

 

por Cristina Grillo

 

Na primeira década do século XXI, 50 mil mulheres foram assassinadas no Brasil –uma morte a cada hora e meia. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que grande parte desses homicídios foi consequência de atos de violência doméstica ou familiar, já que cerca de um terço deles aconteceram no domicílio das vítimas. A punição contra este tipo de crime, chamado feminicídio, pode se tornar mais dura caso a Câmara Federal aprove um projeto de lei que o inclui no Código Penal e entre os crimes considerados hediondos. Assim, os condenados pela morte de mulheres poderão ter suas penas aumentadas de um terço até a metade da punição determinada. “É um fenômeno tragicamente democrático, atinge mulheres de todas as classes sociais”, diz a promotora Silvia Chakian, coordenadora do Gevid (Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica) do Ministério Público de São Paulo e defensora da inclusão do feminicídio na legislação brasileira.
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A lei Maria da Penha, em vigor há nove anos, não diminuiu a violência contra a mulher?
Houve avanços, rompeu-se o padrão de ver a violência como algo comum, mas não houve redução nos índices. Ainda que haja uma diminuição do total de homicídios no Brasil, não aconteceu a mesma coisa no caso das mulheres. É uma epidemia mesmo.
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Como se caracteriza o feminicídio?
É um homicídio em que a questão do gênero tem grande importância. Grande parte dos casos acontece dentro de casa, com mortes causadas por parceiros que têm sobre as vítimas um poder de dominação, de hierarquia. O feminicídio é a última instância do controle da mulher.
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Nos anos 80, advogados costumavam usar a tese da legítima defesa da honra para defender homens acusados de matar suas mulheres. Essa tese ainda é usada nos tribunais?
Infelizmente, a essência da tese continua a ser usada nos plenários. Ainda há longas discussões a partir de estereótipos, como atribuir à vítima a culpa pelo crime, questionar sua fidelidade, argumentar que ela se recusara a manter relações. A tese continua lá, mas com outra roupagem. Ainda há quem fale em crime de amor
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Atos de violência contra mulheres têm maior incidência em alguma classe social?
Infelizmente é um fenômeno tragicamente democrático, que atinge todas as classes. E muitas vezes a mulher não se enxerga como vítima, nem o homem se vê como agressor. Fonte Revista Época

Homofobia e suicídio de crianças e adolescentes

gay bandeiro feminino

Toda semana lemos notícias de LGBTs, muitos deles/delas crianças e adolescentes, cometendo suicídio por não aguentarem mais serem rejeitados pela família, humilhados na escola e no trabalho.

Não existem estatísticas. O suicídio no Brasil é tabu.

Os pais deviam informar como forma de confissão, e pedido de perdão pós-morte. De alerta a outros pais. De denúncia. A maioria dos suicídios foram provocados pelo bulismo na escola, pelo stalking no trabalho, pela violência nas ruas dos homofóbicos.

Temos campanhas realizadas pelo fundamentalismo religioso e o fanatismo político, sendo os principais líderes os pastores Silas Malafaia, Marco Feliciano, padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, militar Jair Bolsonaro e até candidatos asquerosos a presidente do Brasil.

A pregação da Santa Inquisição de pastores e padres tem origem no judaísmo (Velho Testamento). No cristianismo (Novo Testamento) apenas  existe uma frase de São Paulo, em uma carta cuja autenticidade não pode ser comprovada. Jesus jamais tocou nesse tema.

O “raivoso” discurso de Bolsonaro é exclusivamente nazista, machista e eleitoreiro.

Não existe no Velho Testamento nenhuma referência ao amor lésbico. Venho divulgando esta verdade. E fica o desafio para qualquer teólogo provar o contrário

Não existe no Velho Testamento nenhuma referência ao amor lésbico. Venho divulgando esta verdade. Renovo o desafio para qualquer teólogo provar o contrário

 

Em um estudo realizado por Fernando Silva Teixeira Filho
e Carina Alexandra Rondini Marretto (Faculdade de Ciências e Letras da UNESP-Assis), realizado em maio de 2008 em uma Escola do Ensino Médio de uma cidade do interior do Oeste paulista. A amostra que compôs o estudo corresponde a 108 adolescentes, de ambos os sexos, entre 14 e 20 anos cursando as três séries do Ensino Médio. “Observamos que os/as jovens da amostra incorporaram o discurso preventivista pelo menos durante as primeiras relações sexuais com o sexo oposto. Suas crenças sobre as sexualidades não-heterossexuais revelaram-se homofóbicas e segregatórias. Encontramos que 25.0% da amostra já pensou em se matar e dentre estes 40% já tentou, havendo maior concentração entre as jovens. Acreditamos estar diante de um grande desafio para as políticas públicas de Educação e Saúde, respectivamente, no sentido de garantir o acesso e pleno direito de expressão das homossexualidades no espaço escolar, bem como lidarem de modo preventivo em relação à Saúde Mental dos/das jovens que freqüentam a escola”.

De 2002 a 2012 houve um crescimento de 40% da taxa de suicídio entre crianças e pré-adolescentes com idade entre 10 e 14 anos. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5%.

Transcrevo trechos de uma reportagem de Maria Fernanda Ziegler e Ocimara Balmant: “Ao contrário do adulto, que normalmente planeja a ação, o adolescente age no impulso. São comportamentos suicidas para fugir de determinada situação que vez ou outra acabam mesmo em morte’, afirma a psiquiatra Maria Fernanda Fávaro, que atua em um Pronto Socorro de psiquiatria em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo. Aos cuidados de Maria Fernanda, são encaminhadas as crianças e os adolescentes que chegaram feridas ao hospital após tentarem se matar.

Ao serem perguntados sobre o motivo de terem se mutilado com lâmina de barbear, se ferido com materiais pontiagudos, cortado o pulso ou ingerido mais de duas dezenas de comprimidos, a resposta é rápida, e vaga. ‘A maioria diz que a vida não tem sentido, que sentem um vazio enorme. Muitos têm quadros associados à depressão’, afirma Maria Fernanda. O cenário é tão recorrente, diz a psiquiatra, que há sites, blogs e páginas de rede social que ensinam as melhores técnicas e ferramentas para que a criança tire a própria vida”. Leia mais.

 

cartaz 1

pai filho

Poesia A verdade seja dita sobre os Bolsonaros

Mel Duarte

Mel Duarte

A poetisa e o recado ao Bolsonaro: “Você que não mova sua pica para impor respeito a mim”

 

Mel Duarte escreve e declama poesia que é um grito de revolta de mais uma mulher contra os impropérios ditos pelo parlamentar à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS)

Por Igor Carvalho

Mel Duarte, poetisa paulistana, é mais uma das mulheres que se revoltou quando viu o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) atacar a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Como resposta à essa indignação, ela escreveu o poema “Verdade seja dita.”

A poetisa apresentou o poema, pela primeira vez, no Rachão Poético, no último domingo (14). Porém, o vídeo com a apresentação de Mel Duarte foi feito durante o sarau da livraria Suburbano Convicto, no Bixiga, região central da capital paulista.

Mel Duarte é autora do livro “Fragmentos Dispersos”

 

bolsonaro 2

Verdade seja dita!

por Mel Duarte

 

Verdade seja dita
Você que não mova sua pica pra impor respeito a mim.
Seu discurso machisma, machuca
E a cada palavra falha
Corta minhas iguais como navalha
NINGUÉM MERECE SER ESTUPRADA!
Violada, violentada
Seja pelo uso da farda
Ou por trás de uma muralha
Minha vagina não é lixão
Pra dispensar as tuas tralhas

Canalha!

Tanta gente alienada
Que reproduz seu discurso vazio
E não adianta dizer que é só no Brasil
Em todos os lugares do mundo,
Mulheres sofrem com seres sujos
Que utilizam da força quando não só, até em grupos!
Praticando sessões de estupros que ficam sem justiça.

Carniça!

Os teus restos nem pros urubus jogaria
Pq animal é bixo sensível,
E é capaz de dar reboliço num estômago já acostumado com tanto lixo

Até quando teremos que suportar?
Mãos querendo nos apalpar?
Olha bem pra mim? Pareço uma fruta?
Onde na minha cara ta estampado: Me chupa?!
Se seu músculo enrijece quando digo NÃO pra você
Que vá procurar outro lugar onde o possa meter

Filhos dessa pátria ,
Mãe gentil?
Enquanto ainda existirem Bolsonaros
Eu continuo afirmando:
Sou filha da luta, da puta
A mesma que aduba esse solo fértil
A mesma que te pariu!

Decadência da Faculdade de Medicina do Governo de São Paulo: Bacanais, tráfico de mulheres, de drogas, de álcool, curra, estupro, filme pornô e doenças sexuais

Violência sexual, castigos físicos e preconceito na Faculdade de Medicina da USP

por Tatiana Merlino, Igor Ojeda, Caio Palazzo/Vídeos e Rafael Bonifácio/Edição de vídeos

 

Fachada da Faculdade de Medicina da USP

Fachada da Faculdade de Medicina da USP

 

Muitas das garotas têm menos de 20 anos. A maior parte delas é branca, de família de classe A ou B. Estão felizes por realizar um sonho. Apreensivas pelos desafios que enfrentarão nos anos seguintes. Assustadas com o novo ambiente e os rostos desconhecidos.

São reunidas em círculo. Em volta, outro círculo, de garotos igualmente brancos, igualmente nascidos em famílias ricas ou de classe média alta. Mas são mais velhos. Intimidadores. Ordenam que todas gritem “bu”. Elas obedecem:

– Bu! Bu! Bu! Bu! Bu! Bu!

Um coro alto de vozes masculinas, a dos garotos em volta das garotas, abafa as vozes femininas e ressoa pelo ambiente:

– Buceta! Buceta! Buceta eu como a seco! No cu eu passo cuspe! Medicina é só na USP!

É assim que calouras da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) são recepcionadas em seu primeiro dia dessa nova fase da vida. Todos os anos. É uma das muitas tradições da faculdade de ciências médicas considerada a melhor do país. “De elite.” Para as mulheres, no entanto, grande parte dessas tradições se traduz em opressão permanente, que traz como consequência extrema casos graves de abusos sexuais, incluindo estupros, no interior do ambiente universitário. Casos sobre os quais recai um pesado manto de silêncio que impede que se tome providências a respeito. É fundamental que se preserve o bom nome da instituição.

Ou melhor: das instituições, no plural. Pois a FMUSP abriga entidades tão tradicionais que elas próprias parecem ser autossuficientes. É o caso da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC), ou simplesmente Atlética, e do Show Medicina, que reúne alunos para uma apresentação teatral anual e que recentemente virou notícia quando estudantes que dele fazem parte pintaram um anúncio de sua 72ª edição sobre um grafite na avenida Rebouças, em São Paulo.

Violências sexuais, trotes violentos, castigos físicos, humilhações, machismo, racismo e discriminação social. A Ponte reuniu inúmeras denúncias de violações sistemáticas aos direitos humanos ocorridas nessas instituições, quando não incentivadas ou promovidas por elas. Comumente varridos para debaixo do tapete, tais abusos passam atualmente por uma inédita publicização, fruto da luta das vítimas e de coletivos de direitos humanos da faculdade. Tanto que hoje são alvos de investigação por parte do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e objetos de uma histórica comissão interna formada por professores com o objetivo de apurá-los. As denúncias também chegaram à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), que realizará uma audiência pública sobre o tema nesta terça, 11/11.

Com esta reportagem, a Ponte dá início a uma série especial sobre o assunto. Tradição, hierarquia, segredo, ritualismo, elitismo, regras rígidas e punições são as palavras-chave. Os relatos são impactantes.

 

Abusos sexuais: a naturalização

Na segunda-feira à tarde da semana de recepção aos calouros, acontece o primeiro evento do ano no clube da Atlética, no bairro paulistano de Pinheiros. É a “Espumada”. Os estudantes de Medicina festejam com churrasco e bebidas o início do novo semestre. Numa quadra poliesportiva, é formada uma espécie de piscina cheia de espuma, que chega a cobrir a cabeça dos presentes. Garotas e garotos que lá entram mal veem um ao outro. Mas são elas as mais vulneráveis. Mãos masculinas anônimas apalpam tudo que encontram pela frente: seios, bundas, vaginas. “A caloura não sabe como é a festa. Qualquer menina que entra na espuma perde o controle sobre o corpo. É mão de todo lado, sem você saber quem é. O menino te agarra, te beija. E se você tenta fazer algo, a resposta é que se você está na espuma é porque quer, está lá para isso. Rola uma pressão. Se está lá é porque está topando qualquer negócio”, relata uma das alunas, que não quis se identificar. “Os veteranos abusam do poder que têm sobre as meninas, que estão vulneráveis, não sabem o que está acontecendo. Muitas ficam bêbadas. Abusam mesmo delas.”

“Muitos veteranos usam o fato de você estar numa situação vulnerável e forçam o beijo, o sexo. Às vezes a menina está desmaiada e ele tira a roupa dela.”

Segundo a estudante Marina Pikman, do coletivo feminista Geni, formado no final de 2013 dentro da FMUSP, é comum que as alunas reclamem do constrangimento a que são submetidas logo quando chegam à faculdade. “Há muita ênfase na hierarquia, em tirar a identidade do calouro, falar: ‘você não sabe de nada, esquece toda a sua vida pregressa que e a gente vai te ensinar’. Com as mulheres, isso acontece de forma machista, os veteranos acham que têm livre acesso às calouras”, diz.

 

 

Ana Luísa Cunha, também integrante do Geni, lembra que quando o grupo foi fundado começaram a chegar vários relatos de abusos sofridos na semana de recepção. “Você chega e não sabe o que vai acontecer. Quer se enturmar, está na euforia e os caras se aproveitam, muitos veteranos usam o fato de você estar numa situação vulnerável e forçam o beijo, o sexo. Às vezes a menina está desmaiada e ele tira a roupa dela”, conta.

Mas os casos de abusos não ocorrem apenas na primeira semana ou na “Espumada”. Há relatos de violências sexuais em outras festas, tanto promovidas pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (Caoc), como as cervejadas, quanto pela mesma Atlética, a exemplo das tradicionalíssimas “Carecas no Bosque” e “Fantasias no Bosque”, realizadas uma em cada semestre. De acordo com o Geni, são pelo menos 8 casos de assédios graves nos últimos 3 anos. Marina avalia, no entanto, que esse é um número bem menor do que a realidade, já que muitas estudantes não denunciam as violências sofridas por vergonha e medo de serem hostilizadas.

Cartaz de festa da Faculdade de Medicina da USP

Cartaz de festa da Faculdade de Medicina da USP. Na gíria universitária: Carecas (sexo masculino) no Bosque (sexo feminino)

Das festas que acontecem na FMUSP, a “Carecas no Bosque” e a “Fantasias no Bosque” são as que criam o ambiente mais “propício” para abusos. A começar pelos cartazes de divulgação, quase sempre com destaque a mulheres cheias de curvas, trajes mínimos e olhares provocantes. Os preços dos convites são diferenciados. Em geral, mulheres pagam quase a metade do que os homens. “Todo o marketing é baseado no fato de que lá haverá muitas mulheres e que vai ter sexo à vontade. A USP inteira sabe que tanto a ‘Carecas’ quanto a ‘Fantasias’ são para isso, para ir lá e transar”, explica a aluna que optou por permanecer anônima. O problema, segundo ela, não é a questão moral, mas o ambiente de machismo extremo que cria a impressão de que qualquer garota presente está disponível.

A festa acontece no campo de futebol da Atlética. As equipes masculinas de cada modalidade esportiva erguem suas barracas para vender bebidas e arrecadar recursos. Atrás destas são montados os “cafofos”: estruturas fechadas com colchões ou almofadas apropriadas para se levar garotas. Segundo relatos, uma das modalidades costuma contratar prostitutas, cuja tarefa é agradar os presentes com strip teases e “body shots” de tequila nos seios, além de deixar o corpo à mercê das apalpadelas. Na barraca de outra modalidade, filmes pornôs são projetados. Outra equipe batiza seu espaço de “matadouro”.

“Nessas festas, minha impressão é que as meninas são um pedaço de carne na prateleira.”

Em torno do campo de futebol, há um pequeno bosque, para onde os casais vão para transar. Seguranças contratados pela organização vigiam a entrada. “Nessas festas, minha impressão é que as meninas são um pedaço de carne na prateleira. A mentalidade dos meninos é que elas estão disponíveis para transar. Chegam de maneira agressiva, ao ponto de vários caras tentarem te puxar para o bosque. E, na minha percepção, se você entra no cafofo você não sai, vai ter de transar com o cara”, opina a estudante. “Ter” de transar. Marina, do coletivo Geni, revela que já ouviu muitas histórias de garotas assediadas e estupradas entre as árvores. “Houve uma vez em que meu namorado ouviu gritos e foi socorrer. Um cara que ele conhecia tinha rasgado a calcinha da menina contra a vontade dela”, conta.

“Há estupros de meninas inconscientes, casos de colocar ‘boa noite Cinderela’ na bebida delas. É algo sistemático porque acontece em todos os anos”, diz professora da FFLCH

Heloísa Buarque de Almeida, coordenadora do programa USP Diversidade e professora de estudos de gênero na antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), pesquisa a ocorrência de violência sexual, machismo, homofobia e trotes violentos na FMUSP desde que foi procurada pelos coletivos da faculdade, há alguns meses. “As violências se tornam rituais que se repetem a partir de uma ideia de tradição que querem manter, que não é exatamente do curso, mas uma tradição de algumas festas e instituições que se torna escandalosa”, analisa. “Há estupros de meninas inconscientes, casos de colocar ‘boa noite Cinderela’ na bebida delas. É algo sistemático porque acontece em todos os anos. A festa ‘Carecas no Bosque’ é tradicional entre aspas. Eles consideram tradicional que tenha prostitutas lá dentro, e no meio disso algumas meninas são estupradas porque estão bêbadas.”

 

‘Você estava muito bêbada’

 

Cartaz de festa dos alunos da Medicina da USP

Cartaz de festa dos alunos da Medicina da USP

Foi na “Carecas no Bosque” de 2011 que a então caloura Doralice* foi estuprada no “cafofo” do judô. Ela estava desacordada. “Demorei para saber o que tinha acontecido, porque eu retomei a consciência apenas quando estava no hospital. Não me falaram direito, só: ‘acho que você foi abusada’”, diz ela, em depoimento à Ponte. Posteriormente, juntando os relatos que foram surgindo, muitos por insistência dela, a estudante pôde entender melhor o que ocorreu após as 4 horas da madrugada, quando ainda estava consciente e havia ido tomar uma bebida na barraca do judô – depois disso, não se lembra de mais de nada. De acordo com o que lhe contaram, Doralice ficou com um dos garotos da modalidade, que a levou ao cafofo, onde a deixou. Quando ele voltou, viu-a desacordada com um homem sobre ela, estuprando-a.

O que se seguiu, segundo a aluna, foi uma série de tentativas, por parte da Atlética e da diretoria da faculdade, de abafar o caso. No Hospital das Clínicas, para onde foi levada por diretores da entidade esportiva, não foram feitos exame de corpo de delito, para se comprovar a violência, ou toxicológico, para identificar uma possível adulteração em sua bebida. No entanto, a caloura começou a tomar medicamentos antirretrovirais como prevenção ao HIV.

“Eles falaram que eu não tinha como provar, que não poderia dizer que havia sido estuprada porque estava muito bêbada.”

Apesar da insistência, os responsáveis pela Atlética demoraram a lhe explicar exatamente o que tinha acontecido. Foi somente 2 dias depois, quando teve a confirmação de que havia existido penetração, que Doralice decidiu denunciar o caso. Mas foi sistematicamente desencorajada pelos diretores da Atlética. “Eles falaram que eu não tinha como provar, que não poderia dizer que havia sido estuprada porque estava muito bêbada.”

Mesmo assim, a estudante fez um Boletim de Ocorrência na Delegacia da Mulher. Algum tempo depois, a delegada apontou um funcionário terceirizado da faculdade como o agressor. “Até hoje, quando o inquérito policial está sendo finalizado, eu descubro coisas sobre meu caso que não sabia, por exemplo, que a diretoria da Atlética não permitiu que a polícia entrasse no local da festa”, conta.

As pessoas que ela procurava para testemunhar se mostravam ariscas. Falavam que deveria “tocar a vida para frente”. “Foi feito um pacto de silêncio, como tudo é tratado dentro da Faculdade de Medicina. Meu namorado era mais velho e falavam para ele que a história não poderia vazar, que iria destruir a imagem da Atlética, que iria destruir a festa”, revela. Ela conta, ainda, que a diretoria da FMUSP tomou conhecimento do caso, mas não fez nada a respeito.

“Abaixou minha calça, enfiou o dedo, me beijou à força.”

O estupro no “Carecas no Bosque” de 2011 não foi a primeira nem a última violência sexual sofrida por Doralice. No início daquele mesmo ano, durante a semana de recepção, ela foi abusada por um dos diretores da Atlética, que inclusive faria parte do grupo que a levaria ao hospital alguns meses depois. Numa tarde de bebedeira, ele a levou a uma sala escura da equipe de atletismo e a jogou no chão. “Abaixou minha calça, enfiou o dedo, me beijou à força. Mas teve uma hora em que ele parou”, relata Doralice. “Depois ele fez isso com outras meninas, uma delas da ‘panela’ dele, outra, uma colega minha de turma. Ele vê que a menina está bêbada e não conseguindo oferecer muita resistência.” Nos anos posteriores ao estupro, outro diretor da Atlética aproveitou duas “Espumadas” para passar a mão em seu corpo. Segundo a aluna, ele igualmente costuma repetir o abuso com outras estudantes.

 

‘Eu sei que você quer, deixa de ser chata’

Em novembro de 2013, a estudante de Medicina Leandra* sofreu abuso sexual de 2 alunos durante uma cervejada do sexto ano realizada no Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. Eles ficaram insistindo para que ela fosse até o estacionamento ao lado. “Vamos para meu carro que eu vou dar bebida para você”, diziam.

“Eu falava que não queria, eles insistiam para eu ir. Me puxavam, mas eu não queria ficar com eles. Nesse vai e vem acabamos chegando ao carro deles. Lá eles começaram a me beijar, enfiar a mão dentro da minha roupa, dentro da minha calça. Queriam que eu entrasse no carro, abriram a porta, e eu comecei a gritar, a fazer um escândalo, dizendo que não queria. Tentava sair e eles impediam a minha passagem. Me empurravam, e um deles começou a gritar comigo: ‘para de gritar, para de gritar!’. Eu dizia que não queria os dois e um deles respondia: ‘você quer sim, eu sei que você quer, deixa de ser chata’. E os dois me beijavam, passavam a mão em tudo, não me deixavam sair. Nisso uma menina que estava no estacionamento brigando com o namorado viu o que aconteceu, deu um grito e me chamou. Então consegui sair.”

 

 

A partir de então, Leandra iniciou uma epopeia para que a violência sofrida por ela fosse reconhecida. Fez um Boletim de Ocorrência e denunciou o caso à diretoria da faculdade. Uma sindicância formada por 4 professores foi criada, mas apenas a estudante e um dos agressores foram ouvidos, já que o outro estava viajando. Em abril de 2014, a conclusão divulgada foi que a relação havia sido consensual, e que o problema havia sido o consumo de álcool. “Para mim, essa decisão tira a culpa do agressor e a joga na vítima, porque ela estava bêbada. Chegaram à conclusão de que foi consensual só com meu depoimento e de um dos garotos”, reclama.

O forte corporativismo existente no ambiente universitário da Faculdade de Medicina da USP, que havia se manifestado no caso de Doralice, voltou a “atacar” no caso Leandra. A vítima, e não os agressores, passou a ser hostilizada sistematicamente desde então. “Eu passo no corredor, as pessoas cochicham, apontam, principalmente os amigos dos caras. Eu mesma ouvi dizerem: ‘ah, aquela menina sai com todo mundo, logo ela vai reclamar disso? Está querendo aparecer’”. A preocupação maior é com a imagem da faculdade. Até mesmo um dos que abusaram de Leandra foi tirar satisfação. Ameaçou processá-la por difamação.

“Quando fui denunciar, achei que o meu era um caso isolado, mas descobri que havia mais.”

Uma das instâncias procuradas por ela foi o Núcleo de Estudos em Gênero, Saúde e Sexualidade (Negss), grupo de alunos criado no início de 2013. “Quando fui denunciar, achei que o meu era um caso isolado, mas descobri que havia mais”, diz. Foi divulgada então uma nota sobre o ocorrido no Facebook, gerando grande repercussão, em sua maioria, negativa. O texto foi publicado na página mantida nessa rede social pelo Grupo Pinheiros, do qual participam alunos e ex-alunos da FMUSP. A reação de seus membros foi violenta, diz Marina Pikman, do Geni. “Temos um monte de prints com postagens supermachistas, homofóbicas, classistas, xenófobas… tirando sarro do que aconteceu. Foi bem difícil para ela [Leandra]. Ela é ridicularizada nas redes sociais.”

Questionada pela reportagem, a diretoria do Centro Acadêmico afirmou que ofereceu apoio e orientação a Leandra e a incentivou a registrar um Boletim de Ocorrência. Disse, ainda, que solicitou à FMUSP a instauração de uma sindicância administrativa, “uma vez reconhecida a dificuldade e inadequação do CAOC de realizar tal apuração”. Todas as respostas enviadas pelo Caoc à Ponte podem ser lidas aqui.

A estudante, no entanto, nega. Ela diz ter procurado a segurança da faculdade, que a levou até ao chefe da graduação. Este a teria orientado a fazer o BO. “Os diretores do Caoc disseram que não poderiam me ajudar pelo princípio da isonomia em relação aos alunos. Só após a pressão do Negss eles enviaram um ofício à diretoria da faculdade pedindo abertura de sindicância.”

 

Modus operandi da violência

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Ao Geni chegaram outros exemplos de abusos semelhantes. Como o de uma aluna violentada por um ficante. Ou de uma caloura que “apagou” numa festa “Fantasias no Bosque” e acordou numa enfermaria às sete da manhã sem sapato e calcinha. Ou o estupro de uma estudante de Enfermagem por um aluno de Medicina na Casa do Estudante, a moradia estudantil do Hospital das Clínicas. Ou até de um aluno estuprado por um veterano numa “Espumada”.

“No começo elas nem se dão conta de que sofreram assédio. Elas acham que estavam muito bêbadas, que não resistiram o suficiente. Depois, quando se dão conta, acham que passou muito tempo, que as pessoas relativizarão o ocorrido.”

Nenhum desses abusos, no entanto, foi denunciado, com a exceção dos de Doralice e Leandra. “É claro que não são casos isolados, é claro que há uma cultura institucionalizada de violência, impunidade, desamparo das vítimas”, avalia Marina. Ela explica que se pode até dizer que há um modus operandi. “A maioria dessas violências acontece em festas, em ambientes nos quais a menina está bastante alcoolizada. Às vezes está inconsciente, às vezes consciente, mas ofereceu resistência à agressão, e não foi respeitada pelo menino. E ela se sente culpada por não ter conseguido se defender. E há a lógica machista de considerar sempre que foi consensual.”

A partir daí, inicia-se uma luta para decidir denunciar o assédio e/ou buscar apoio. As vítimas, porém, esbarram nas próprias dúvidas e na falta de mecanismos institucionais de acolhimento. “No começo elas nem se dão conta de que sofreram assédio. Elas acham que estavam muito bêbadas, que não resistiram o suficiente. Depois, quando se dão conta, acham que passou muito tempo, que as pessoas relativizarão o ocorrido”, analisa Marina, para quem seria fundamental uma instância que amparasse as alunas que sofreram violência. “Mesmo que não tenha havido denúncia, a maioria procurou alguma ajuda institucional, porque foi fazer o tratamento antirretroviral.”

Ainda que as estudantes decidam ou cogitem denunciar, devem enfrentar mais obstáculos: o pacto de silêncio e abafamento em relação aos escândalos, e a transformação das vítimas em algozes. “As meninas são ridicularizadas, estigmatizadas como loucas que só querem chamar a atenção, que estão inventando coisas, manchando a imagem das instituições da faculdade”, pontua a integrante do coletivo Geni.

Segundo Marina, o grupo chegou a se reunir com a diretoria da faculdade e da Atlética para pressionar por medidas que diminuíssem a vulnerabilidade das alunas nas festas promovidas pela entidade, mas seus diretores responderam que não era possível tomar providências antes de uma decisão judicial. “As meninas não reclamam muito, fica velado, pois ninguém tem coragem de criticar a Atlética, porque é uma instituição muito forte. Existe um corporativismo muito grande envolvendo a Atlética, ou o Show Medicina. Você vai ser perseguido se reclamar, se der a cara para bater”, lamenta Leandra. Foi justamente a violação sofrida por ela o estopim da criação do Geni. “Meninas vinham contar histórias de estupro por colegas que nunca haviam denunciado porque tinham medo, porque não viam canais de denúncia antes”, explica Marina.

No dia em que foram anunciadas as conclusões da sindicância sobre o caso de Leandra, as estudantes realizaram um ruidoso protesto criticando a decisão e denunciando outros abusos. Foi o suficiente para que a faculdade decidisse formar uma comissão para apurar os inúmeros exemplos de opressão em seu interior. Instalado em março deste ano, o grupo formado por professores da FMUSP vem ouvindo relatos de violações sexuais, físicas, morais, machistas e homofóbicas, entre outras. O relatório elaborado a partir dessa apuração deve ser divulgado nos próximos dias.

Enquanto isso, após a publicação de matérias na imprensa sobre os casos de Doralice e Leandra, a edição deste ano da festa “Fantasias no Bosque” foi cancelada.

A Ponte solicitou uma entrevista com o diretor da FMUSP José Otávio Auler, mas a assessoria de imprensa da faculdade informou que ele se encontra em um simpósio fora do país e enviou a seguinte nota:

“A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) se coloca de maneira antagônica a qualquer forma de violência e discriminação (com base em etnia, religião, orientação sexual, social) e tem se empenhado em aprimorar seus mecanismos de prevenção destes tipos de casos, apuração de denúncias e acolhimento das vítimas. A Cultura da Instituição é baseada na tolerância e respeito mútuos, valores que são passados aos seus alunos. Com o intuito de fortalecer esta cultura, foi formada recentemente, inclusive, uma Comissão com docentes, alunos e funcionários com o objetivo de propor ações de caráter resolutivo quanto aos problemas relacionados às questões de violência, preconceito e de consumo de álcool e drogas. Em relação às denúncias envolvendo membros da FMUSP ou de casos ocorridos em suas dependências, foram abertas sindicâncias para apuração. Em caso de comprovação, a Faculdade adota as punições disciplinares de acordo com o Código de Ética da USP.”

A reportagem também procurou a Atlética, via assessoria de imprensa da FMUSP, mas até a publicação desta reportagem não havia obtido retorno.

* Nome fictício para preservar a identidade da vítima

Curra da polícia militar do RN e outras malvadezas

A ERA DA HOMOFOBIA E DO MACHISMO INCONTESTADOS

 

por Cristina Moreno de Castro

Por favor, seja valente

Por favor, seja valente

Não, não estamos no século 21. Achava que era 2014? Nahhh… acho que não. Ou me recuso a pensar que, já tão avançados no tempo, ainda sigamos presenciando coisas do século 19.

Pois bem, a verdade é que as duas cenas abaixo foram presenciadas no espaço de dois dias. Ou seja, devem ocorrer aos montes todas as horas. E nos fazem pensar que, depois da era do racismo incontestado, em que um branco se levantava de um banco de ônibus quando o negro se sentava ao lado, hoje vivemos a era da homofobia — e do velho machismo — incontestados. Tão incontestados que as próprias vítimas ou dão de ombros ou reforçam o problema.

Vejam só:

CENA DE HOMOFOBIA

Eu estava no cinema, no último domingo. Fazia muito tempo que não ia ao cinema. Por isso, animada, cheguei antes de todos e fiquei comendo minha pipoquinha, e observando as pessoas que se sentavam depois.

A umas cinco fileiras de mim, à minha frente, havia um casal heterossexual. Uma mulher, mais perto do canto da fileira, e o homem, mais centralizado. Eis que surge outro casal, agora homossexual. Eles param pouco antes da mulher para conferir os números de suas cadeiras. Descobrem que são aquelas ao lado do homem, e dirigem-se para lá.

Passados menos de dois segundos de os dois terem se acomodado, o homem do casal hétero pede para trocar com sua mulher de lugar. Como se tivesse levado um choque: um gay se senta ao seu lado e ele já salta imediatamente do lugar. Pior: sua namorada concorda sem contestar. Os dois trocam de posições, sob os olhares constrangidos de quem assistia à cena — no caso, eu. Os gays, provavelmente calejados com esse tipo de sinal de desprezo, dão de ombros.

CENA DE MACHISMO – esta foi presenciada pela socióloga Neuza Lima, que escreveu o surpreendente relato abaixo:

“Eu estava num bar e, numa mesa próxima à minha, um grupo de amigos estavam bebericando. Na mesa, algumas mulheres e apenas dois homens. Um deles, totalmente alterado pelo álcool, começou a querer beijar todas as mulheres na boca. Uma delas se recusa, e ele a chama de vagabunda. Ela retruca: ‘Vagabunda é sua mãe!’

Ao ouvir isso, ele a agride fisicamente, dando-lhe um tapão nas costas com as duas mãos. Tão forte, que ela caiu na mesa.

E ele sai correndo, ileso.

Ela, aos prantos, começa a se culpar (!). Diz: ‘Isto aconteceu porque eu sou uma mulher sem homem, mulher sem homem não pode sair de casa, pois é vista como mulher de todo mundo, todos podem tirar uma casquinha, independente de sua vontade!’”

Levamos anos para que o racismo começasse a ser contestado. Hoje, qualquer cena de racismo explícita é brutalmente criticada, existem campanhas, processos judiciais etc. E, mesmo assim, o problema ainda está longe de ser eliminado, infelizmente. No caso da homofobia e do machismo, em que a contestação ainda é muito pequena e que as próprias mulheres contribuem para reforçar e retransmitir a parte que as afeta, quanto tempo será que levaremos para nos ver livres desses problemas? Um chute: nunca.

 

Mas melhora…. certo?

Mas melhora…. certo?

CURRA MILITAR

Uma terceira cena acrescento à narrativa de Cristina Moreno de Castro.

É uma vergonha.É uma covardia.É desumano.É cruel.Quem tem uma polícia dessa não tem medo de cachorro louco. Pode acontecer com qualquer estudante potiguar. Essa curra policial tem que ser investigada. Os safados nus, num nojento troca-troca, abusaram da garota certos de que ficarão impunes. E estão prontos para um novo bacanal. Quem será a próxima vítima? O comandante da PM disse que não sabia de nada. Agora sabe.

Uma estudante de 18 anos registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Plantão da Zona Sul de Natal no qual acusa ter sido estuprada por três policiais militares dentro de um carro da própria corporação. O crime aconteceu em uma das ruas mais movimentadas de Ponta Negra, na Zona Sul da cidade, durante a madrugada do dia 25 de junho, momento em que ela comemorava, juntamente com um uruguaio, a vitória da seleção Celeste sobre a Itália por 1 a 0. A partida foi realizada na Arena das Dunas na tarde do dia anterior, válida ainda pela primeira fase da Copa do Mundo.

O comandante geral da Polícia Militar, coronel Francisco Araújo Silva, disse ao G1 que ainda não foi comunicado oficialmente sobre o caso. Porém, ele orienta que a jovem também registre a queixa na Corregedoria da Secretaria de Segurança Pública.

Consta no registro da ocorrência que a abordagem dos policiais aconteceu na Rua Dr. Manoel Augusto Bezerra de Araújo, mais conhecida como a Rua do Salsa, um dos redutos mais boêmios de Natal. Por estar localizado em uma região turística e concentrar dezenas de bares e restaurantes, o local virou um dos pontos de encontro preferidos pelos milhares de turistas que visitaram Natal durante o período em que a cidade recebeu jogos do Mundial.

No depoimento, a estudante conta que estava acompanhada de um amigo uruguaio quando o carro da polícia se aproximou. Ao serem abordados, os policiais revistaram o estrangeiro e depois o mandaram embora. Em seguida, a estudante foi obrigada a entrar no veículo, onde os policiais alegaram que ela havia feito uso de cocaína. A partir de então, a jovem foi forçada a fazer sexo com os três PMs.

Segundo a Polícia Civil, após registrar a ocorrência, a estudante foi levada ao Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), onde foi submetida a um exame de conjunção carnal. O caso foi repassado para a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), que aguarda o resultado do laudo pericial para a constatação do estupro.

Além do abuso sexual, a estudante também afirma que os policiais a teriam agredido fisicamente e roubado dela a quantia de R$ 30. Os policiais civis que atenderam a jovem na Delegacia de Plantão contam que ela, por estar em estado de choque e bastante nervosa, não conseguiu dar detalhes que pudessem identificar os policiais. Mas a PM deve saber que carro atuava na área. Esses três pervertidos sexuais e ladrões de 30 moedas devem ser punidos exemplarmente.

Postituto ou gigolô gay?

carteira de prostituto

Os jovens sem dinheiro das cidades do interior do Nordeste costumam se vangloriar: – Tenho tesão de sobra, até gay eu como. E muitos, em troca, ganham presentes, e não se consideram protitutos, ou gigolôs. É como se esse comércio sexual fosse a coisa mais natural do mundo. Da natureza do machismo.

Na Europa, os gays prostitutos recebem dinheiro para fazer sexo. No Brasil, são eles que pagam.

Conheço, virtualmente, uma universitária mui linda e inteligente, de um humor criativo, que disse certa vez, por pura troça, que o hino da sua cidade natal era o Papa Frango de João do Morro. Eis a letra:

A moda agora é
ganhar sapato do frango,
calça do frango, camisa do frango,
boné do frango, relógio do frango,
celular do frango!

Sem discriminação!
A minha roupa quem me deu foi o frango
Essa camisa, essa bermuda
foi o frango que deu!
O celular
foi o frango que deu!
O dinheiro da cerveja,
o ingresso do espaço aberto
Foi o frango que deu!
E esse celular?
Foi o frango que deu!
Esse trancelim?
Foi o frango que deu!
Essa moto aí?
Foi o frango que deu!

Ei boyzinho, você é papa frango!
Ei boyzinho, olha, deixa do teu caor!
Ei boyzinho, essa camisa, essa bermuda!
Ei boyzinho, foi o seu frango que comprou!
Eu boyzinho, olha, não diga que é mentira!
Ei boyzinho, porque o frango me contou
Ei boyzinho, que você além de papa frango
Ei boyzinho, é papa frango e gigolô!

No espaço aberto, você tava com o frango
No carrão de luxo, você tava com o frango
Lá no restaurante, você tava com o frango
Você tava comendo pra depois ser comido
Lá no shopping center, você tava com o frango
Na loja de sapato, você tava com o frango
Lá na lanchonete, você tava com o frango
Você tava comendo pra depois ser comido

Esse boné foi o frango que deu!
Essa camisa foi o frango que deu!
O celular foi o frango que deu!
Esse sapato aí foi o frango que deu!
O relógio também foi o frango que deu!
O dinheiro da cerveja foi o frango que deu!
O ingresso do espaço aberto foi o frango que deu!
O dinheiro do táxi foi o frango que deu!

Quando tu passa pela rua, a galera diz:
Ei boyzinho, você é papa frango!

 

 

 

 

 

Elogios que matan

 

por Koldo Campos Sagaseta

 

 

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No hay elogio para una madre que se tenga por mayor muestra de respeto que esa cruel observación de que “mi madre es una mujer de su casa, una mujer que no pisa la calle, entregada a la causa de su padre, de sus hermanos, de su familia…”.
Y junto al cumplido, la puntilla… “y por ello es que el amor perdura”.

Es perverso confinar a la madre a un “burka” de cal y ladrillos, pero aún es más cruel celebrarle la clausura. El resto son sus… labores, la prolongación de los muchos afanes en la casa de una mujer desprovista de identidad y convertida en la esposa de, la madre de, la viuda de…

Y las labores de una madre que se respete, devota y desprendida, siempre transcurren entre las mil y una paredes del hogar, entre esos muros hechos a la medida de la costumbre ante los que se rinde la curiosidad y se quiebran las alas; esas rígidas paredes a prueba de llantos, que apagan las voces y encierran los pasos y en las que los relojes únicamente marcan la espera.

Si acaso, queda la ventana del consuelo y el encuentro fugaz con la vecina mientras se tienden al sol los desahogos y se comparten todos los silencios.

Al otro lado del muro está la vida, el aire, la gente paseando por la calle, la juventud doblando las esquinas, los tragos en las mesas, la música en los pies, las monedas rodando por las manos, la lluvia, las paradas de buses, el amor paseando en bicicleta, la noticia caliente, la cerveza fría, eso que hemos dado en llamar vida y que, gracias a Dios y a nuestro cálido elogio, nunca perturba el sueño de las madres ni amenaza tampoco su virtud.

 

 

 

 

Louise Bourgeois. Femme maison, 1945-6

Louise Bourgeois. Femme maison, 1945-6

Romance entre poetas y devotos

por Esther Diaz

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“Lo que el salvaje que con torpe mano/ hace de un tronco a su capricho un dios/y luego ante su obra se arrodilla,/eso hicimos tú y yo./ Dimos formas reales a un fantasma,/de la mente ridícula invención,/y hecho el ídolo ya, sacrificamos/en su altar nuestro amor.” Así expresa el más romántico de los poetas de habla hispánica –Gustavo Adolfo Bécquer– el simulacro de base de la forma de amor que, paradójicamente, él mismo sustentaba, el romántico.

La astucia del sometimiento es hacerles creer a sus presas que lo que ocurre es “natural”. A ello hay que agregar que la gramática no es inocente, aunque hay algo de ingenuidad en creer que por escribir en género neutro o incluso en femenino se van a equiparar los derechos de las mujeres. El amor romántico o la preponderancia del género gramatical masculino son efectos de la dominación, no sus causas.

Pero, ¿cómo comenzó históricamente la sumisión por medio de los sentimientos y el discurso amoroso? Los orígenes son múltiples y lejanos. Pero pongamos coto y extendamos una línea histórica que nos lleve –con la rapidez de unas pocas palabras– desde fines del medioevo hasta el presente. En el siglo XI europeo el volumen cultural ocupado por la figura de la mujer se transformó. Comenzaron a menguar los asesinatos de niñas recién nacidas y surgieron mujeres con espacio de poder intelectual, religioso o económico, fundamentalmente a raíz del alejamiento de los varones comprometidos con guerras de conquista a las que disfrazaron de religiosas. Las Cruzadas.

Además, el discurso culto, que era masculino, comenzó a tematizar a la mujer. Surgió así el amor cortés, una expresión literaria que acompañaba cierta realidad en las prácticas de la nobleza, y la devoción a María como contrafaz religiosa de ese tipo de amor. Hasta esa época la figura de la madre de Jesús había sido irrelevante. Es decir que se formó una pinza que atrapaba a la mujer no solamente desde el laicismo sino también desde la religiosidad. El modelo de María acaricia el ego macho: madre sin haber conocido la concupiscencia, fiel, bella e inmaculadamente protectora.

Los discursos marianos y los cortesanos empezaron a dibujar el modelo de lo que con el tiempo iba a convertirse en un sentimiento que parece natural: el amor romántico. Obviamente que existe una base psíquico-fisiológica que sustenta nuestros sentimientos, pero las formas son labradas por las prácticas y los discursos que los configuran. Las voces masculinas acompañadas por laúdes le cantaban al amor: debía ser único y para toda la vida, el verdadero amor no desea otros besos que los de su enamorado, sin celos no se puede amar, no come ni duerme quien está enamorado, la amada debe esperar pacientemente al hombre que, al regresar, le ofrecerá sus trofeos. Y si bien la obligación en principio parecería mutua, es claro que no lo es puesto que el varón corretea libre por el mundo mientras ella aguarda con apacible devoción y a veces hasta con cinturón de castidad.

Una forma posible de abordar la sumisión impuesta sería analizar las prácticas y las operaciones discursivas que descalifican a la mujer. Desnudar las estrategias de la religión, la justicia, la pedagogía, la economía, la empresa, la ciencia en general, las disciplinas técnicas en particular y, obviamente, la familia tradicional. Habría que someter esos resultados a una crítica política que busque frustrar la dominación mediante dispositivos de resistencia.

La ignominia del femicidio, la disparidad en el reconocimiento laboral, la inequitativa distribución de las tareas domésticas o las trampas escondidas detrás de los símbolos románticos reclaman una desestructuración de la red patriarcal alimentada no sólo por la mayoría de los varones sino también por varias mujeres. El machismo no tiene género.

Ahora bien, ¿cómo abordar semejante problema? Esa respuesta no está disponible. Pero la deconstrucción de las categorías fundamentales de la coacción puede ofrecer pistas para análisis que, eventualmente, logren mover conciencias y habilitar acciones. Hace falta mucho trabajo para desentrañar la malla dominante. Sin embargo, cuando nos damos cuenta de lo que acecha detrás del amor perenne, la unicidad de la pareja, la fidelidad, la disparidad de edades aceptada para el varón (que puede ser mayor y desprolijo) y prohibida para la mujer (que debe ser joven y bella) o el contigo pan y cebolla, ya logramos al menos una vibración que, aunque milimétrica, comienza a hacer estremecer –cual leve temblor de ave dormida– la móvil y resistente red de la opresión.

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