SIMPLICIDADE COM SOFISTICAÇÃO
No meu livro “A Preparação do Escritor” defendo a ideia de que é preciso escrever com sofisticação – recorrendo a variadas técnicas- mas o texto precisa chegar ao leitor com o máximo de simplicidade.Ou seja, o máximo de sofisticação para o máximo de simplicidade. Tudo parece simples e fácil, mas não é. Encontro agora em Nabokov um texto que examina a questão e que justifca-a:” Simplicidade é pura conversa fiada.Nenhum grande escritor é simples. A linguagem jornalística é simples. Mamãe é simples.Condensações são simples. Mas autores da estirpe de Tolstói e Melville nunca são simples.” Raimundo Carrero
A VAIDADE DO ÓBVIO
Impressionante a vaidade de quem diz o óbvio e é celebrado em sua mesmice. Ou você dá um passo à frente no que te ocorre no bate pronto, ou fica esse círculo pesado de falsa produção de pensamento. O que vemos é a defasagem das análises em relação à riqueza dos acontecimentos e criações. É frustrante, para quem ousa fazer algo contundente e importante, receber em troca o silêncio ou então a mesmice. Ou assistir ao impávido espetáculo do já sabido, embalado como grande coisa.
Noto o esgar pomposo de quem diz coisas, normalmente num tom cool, descontraído, falsamente gaguejante para atrair simpatia, como se fôssemos uma humanidade de prejudicados. Diga a que veio de maneira direta, clara e precisa, ou invente sua linguagem apostando na própria radicalidade. Senão seremos todos reféns de ídolos de barro, comerciantes da vilania com fama de grande arte. Nei Duclós
ESCREVER COM ALEGRIA
O escritor deve escrever, sempre, com alegria. Isso não quer dizer que tudo o quanto escreva deva ser róseo, “feliz” (não daquela felicidade genuína e concreta, mas da adocicada e enjoativa, que costumamos chamar de “água com açúcar”). Esta, artificial e falsa, não existe. É logo desmascarada face à realidade. Aliás, essa opinião, que obviamente compartilho, nem mesmo é minha. Tomei-a emprestada de Jorge Luís Borges, cuja literatura influenciou o meu modo de encarar essa atividade que tanto amo e que, por amar tanto, não raro lhe devoto ódio mortal (à atividade e não ao meu “guru”).
Sinto-me escritor o tempo todo, em casa, quando resolvo os problemas domésticos da família, no trabalho na redação do jornal, nas reuniões sociais, nos momentos de lazer, quando estou no estádio da Ponte Preta torcendo pelo meu time de coração. Sem exagero, vivo, o tempo todo, como escritor. Se bom ou ruim, não me compete julgar. Até porque, eu não teria a isenção necessária para isso. Ou seria complacente em demasia com minhas falhas e contradições. Ora seria sumamente rigoroso a ponto de destruir toda a minha produção. Deixo, pois, o julgamento a esse juiz implacável (que às vezes considero injusto) dos meus textos: o leitor. Pedro J. Bondaczuk
UMA ESPÉCIE DE DANAÇÃO
Essa questão de “para quem” a gente escreve – frequentemente colocada, nos últimos anos – para mim é uma falsa questão, porque eu sou daqueles que acreditam no ato de escrever (ou de pintar, de esculpir, compor etc.) como resposta a uma pulsão profunda. Na verdade, uma espécie de “danação” que impele os espíritos mais atormentados pelos caminhos da arte, em busca de resposta a perguntas – que (eu concordo) estão sendo pouco a pouco “abolidas” – tipo “quem somos?, para onde vamos?” etc. Fernando Monteiro