Diario británico cuestiona ‘narcoestética’ de las mujeres en Medellín

‘The Guardian’ señala que son vistas como ‘objetos’ y que se realizan cirugías desde niñas.foto 1

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“En Colombia las niñas crecen en un mundo donde son vistas como objetos decorativos y donde la cirugía plástica manda”. Con ese postulado, el diario británico ‘The Guardian’ publicó un reportaje gráfico en el que retrata una porción de ese mundo que es la narcoestética.

Con los testimonios de jóvenes como Tatiana y Estefanía, que empezaron a realizarse cirugías plásticas a los 15 años, la fotógrafa Manuela Henao da cuenta del mercado que se mueve alrededor de la belleza femenina: desde procedimientos estéticos, pasando por productos para suprimir el apetito; hasta piñatas con enormes senos.

El reportaje recoge testimonios como el de la modelo Alejandra Ramírez, de 23 años, quien cuenta que ha gastado 16,5 millones de pesos en liposucciones, implantes de seno y hasta implantes en los glúteos. Estos últimos, cuenta la mujer, tendrán que ser retirados porque fueron hechos por un médico no calificado y ponen en riesgo su salud.

La publicación levantó polémica en las redes sociales, donde los usuarios debaten si se trata de un análisis frívolo sobre la realidad nacional, o si realmente la ciudad se convirtió en un paraíso de la narcoestética; es decir, de aquella idealización de las mujeres como mujeres más bonitas que inteligentes, voluptuosas, con ropas ceñidas.

¿Qué pasa?

Cada vez es más común que medios internacionales relacionen a la ciudad y sus habitantes con la belleza artificial, el comercio sexual y la fiesta desenfrenada. Ello a pesar de que se han realizado esfuerzos institucionales para acabar con el estigma.

En toda Antioquia, por ejemplo, se suprimió el reinado de la belleza para cambiarlo por un concurso que reconoce a las mujeres talento y se prohibió la realización de ese tipo de certamenes de belleza en los colegios públicos.

Sin embargo, proyectos como el radicado por el senador Mauricio Lizcano para prohibir las cirugías estéticas en niñas menores de edad, sugieren que la problemática aún existe.

Colombia está entre los cinco países del mundo donde más cirugías plásticas se realizan. Según estadísticas de la Sociedad Internacional de Cirugía Plástica Estética, al año se realizan más de 420.000 de estos procedimientos; muchos de ellos con menores de edad. Cali y Medellín son las ciudades donde más procedimientos se registran. In DiarioADN/Colômbia

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Las fotografías fueron tomadas por la reconocida fotógrafa Manuela Henao, quien en su cuenta de Twitter aseguró que su trabajo no hace alusión al narcotráfico, pero “aunque duela” las mujeres en Medellín han crecido con este tipo de referentes. Escreve Manuela Henao:

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CINCO CASOS DE FEMINICÍDIO EM HOLLYWOOD

La palabra femicidio se refiere a los asesinatos de mujeres motivados por el sexismo y la misoginia, estos implican el desprecio y el odio hacia ellas porque sus victimarios sienten que tienen el derecho de acabar con sus vidas o también las consideran de su propiedad. Algunas celebridades del mundo del espectáculo sufrieron las consecuencias. EXPRESIONES le presenta cinco caso trágicos que conmocionaron al mundo. Veja aqui

 

 

Nicole Brown

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Nicole Brown Simpson (19 de maio de 1959 – 12 de junho de 1994) foi a ex-mulher do jogador de futebol profissional O.J. Simpson. Ela foi assassinada em sua casa em Los Angeles, Califórnia, junto com seu amigo Ronald Goldman. O.J. Simpson não foi preso, considerado inocente de assassinar Nicole e Goldman, em um julgamento criminal controverso. Mais tarde ele foi considerado responsável pelas mortes em um termo civil movido pelas famílias das duas vítimas.

 

Dominique Dunne

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Dominique Dunne (Santa Monica, Califórnia, 23 de novembro de 1959 – Los Angeles, Califórnia, 4 de novembro de 1982) foi uma atriz estadunidense famosa pelo filme “Poltergeist – O Fenômeno”. Foi substiuída pela atriz Meg Tilly.

A atriz faleceu aos 22 anos, 19 dias antes de completar 23 anos de idade, no Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, devido a um coma por cinco dias após ter sido estrangulada por seu ex-namorado, John Thomas Sweeney, insatisfeito com o fim do namoro.

Dunne participou também de Reflexo do Desamor (The Day the Loving Stopped), em 1981.

A atriz, que nunca tivera namorados antes, apaixonou-se por John Thomas Sweeney, um ajudante de cozinha que trabalhava no Ma Maison, um dos melhores restaurantes de West Hollywood. Dominique levou-o a Nova York para conhecer seus pais e na ocasião ele revelou seu temperamento explosivo num acesso de ciúmes, mostrando-se possessivo e tentando afastá-la de seus amigos.

Com o sucesso no cinema, a carreira da atriz havia deslanchado e ela recebeu uma proposta para atuar num seriado de TV ao lado de Tom Selleck, entretanto o namorado não gostou. Em 26 de agosto de 1982, durante uma briga, ele bateu a cabeça da atriz contra o chão e ela fugiu para a casa da mãe.

Exatamente um mês depois, em 26 de setembro, ela foi novamente agredida e pôde até dispensar a maquiagem para fazer uma adolescente espancada num episódio de Hill Street Blues. Depois desse segundo ataque, Dominique percebeu a insanidade do namorado e começou a se esconder, mas ele conseguiu um contato pelo telefone.

Ela, então, declarou-lhe que havia decidido pela separação definitiva, o que John não aceitou. O rapaz invadiu sua casa e estrangulou-a, deixando a atriz em coma durante alguns dias, e falecendo posteriormente.

John permaneceu na prisão durante apenas três anos, para desconsolo da família e dos amigos de Dominique.

 

Rebecca Schaeffer

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Em 1989, a noiva do diretor Brad Silberling – a atriz Rebecca Schaeffer, de 21 anos – foi morta a tiros na porta de sua própria casa por um fã obcecado que obtivera seu endereço no departamento de trânsito. Leia mais

 

Dorothy Stratten

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Dorothy Stratten (nome de batismo: Dorothy Ruth Hoogstraten; Vancouver, 28 de fevereiro de 1960 – Los Angeles, 14 de agosto de 1980) foi uma modelo canadense, Playmate of the Year da revista Playboy, assassinada por seu marido e descobridor Paul Snider, que suicidou-se após o crime. Protegida de Hugh Hefner, que a via como a primeira playmate na história de sua revista capaz de se transformar numa grande estrela de cinema e televisão, foi morta aos 20 anos de idade, quando começava uma carreira como atriz.

Sua história foi levada ao cinema em 1983, no filme Star 80, de Bob Fosse, onde foi interpretada pela atriz Mariel Hemingway e contada num telefilme, Death of a Centerfold: The Dorothy Stratten Story, em 1981, interpretada por Jamie Lee Curtis. Também sobre ela, o cineasta Peter Bogdanovich, com quem Stratten manteve um relacionamento durante as filmagens de They All Laughed – filme do diretor que deveria lançá-la ao estrelato em Hollywood –, escreveu o livro The Killing of the Unicorn. Leia mais 

 

Lana Clarkson

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Clarkson ficou mundialmente conhecida pelo seu trabalho no filme Deathstalker. A atriz Lana Clarkson foi encontrada morta na casa do produtor musical Phil Spector. Foi assassinada por Spector com um tiro, que lhe atingiu a cabeça e o pescoço.

 

“O feminicídio é a última instância do controle da mulher”, diz promotora Silvia Chakian

 

Silvia Chakian:O feminicídio é a última instância do controle da mulher

Silvia Chakian: O feminicídio é a última instância do controle da mulher

 

por Cristina Grillo

 

Na primeira década do século XXI, 50 mil mulheres foram assassinadas no Brasil –uma morte a cada hora e meia. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que grande parte desses homicídios foi consequência de atos de violência doméstica ou familiar, já que cerca de um terço deles aconteceram no domicílio das vítimas. A punição contra este tipo de crime, chamado feminicídio, pode se tornar mais dura caso a Câmara Federal aprove um projeto de lei que o inclui no Código Penal e entre os crimes considerados hediondos. Assim, os condenados pela morte de mulheres poderão ter suas penas aumentadas de um terço até a metade da punição determinada. “É um fenômeno tragicamente democrático, atinge mulheres de todas as classes sociais”, diz a promotora Silvia Chakian, coordenadora do Gevid (Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica) do Ministério Público de São Paulo e defensora da inclusão do feminicídio na legislação brasileira.
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A lei Maria da Penha, em vigor há nove anos, não diminuiu a violência contra a mulher?
Houve avanços, rompeu-se o padrão de ver a violência como algo comum, mas não houve redução nos índices. Ainda que haja uma diminuição do total de homicídios no Brasil, não aconteceu a mesma coisa no caso das mulheres. É uma epidemia mesmo.
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Como se caracteriza o feminicídio?
É um homicídio em que a questão do gênero tem grande importância. Grande parte dos casos acontece dentro de casa, com mortes causadas por parceiros que têm sobre as vítimas um poder de dominação, de hierarquia. O feminicídio é a última instância do controle da mulher.
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Nos anos 80, advogados costumavam usar a tese da legítima defesa da honra para defender homens acusados de matar suas mulheres. Essa tese ainda é usada nos tribunais?
Infelizmente, a essência da tese continua a ser usada nos plenários. Ainda há longas discussões a partir de estereótipos, como atribuir à vítima a culpa pelo crime, questionar sua fidelidade, argumentar que ela se recusara a manter relações. A tese continua lá, mas com outra roupagem. Ainda há quem fale em crime de amor
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Atos de violência contra mulheres têm maior incidência em alguma classe social?
Infelizmente é um fenômeno tragicamente democrático, que atinge todas as classes. E muitas vezes a mulher não se enxerga como vítima, nem o homem se vê como agressor. Fonte Revista Época

Tratamiento de la violencia de género en radio y televisión: todas las claves

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La violencia física quizás es la más difundida, pero existen otras violencias, como la psicológica, sexual, económica, simbólica, doméstica, institucional, laboral, contra la libertad reproductiva, obstétrica y mediática.

La violencia mediática se manifiesta en aquellos casos en que se difundan discursos estereotipados que promuevan la explotación, injurien, difamen, discriminen, deshonren, humillen o atenten contra la dignidad, así como patrones socioculturales que generen violencia o desigualdad.

 

¿Cuándo se ejerce violencia mediática?

La violencia mediática es un exponente de la violencia simbólica. Esto significa prestar particular atención en la violencia representada y difundida en y por los medios de comunicación audiovisual. Cuando se construyen representaciones que cosifican o estigmatizan a las personas. En el caso de las mujeres, por ejemplo:

-Representarla únicamente como objeto sexual de consumo o trofeo
-Naturalizar que es la responsable de la limpieza del hogar, la cocina y crianza de hijos/as
-Dar a entender que es una compradora compulsiva
-Realizar juicios sobre su modo de vida (con quién sale, cómo se viste, por dónde circula)
-Visibilizar un único modelo de belleza deseable (joven, delgada, a la moda, etc.)
-Normalizar la división sexual del trabajo: oficios, profesiones u ocupaciones exclusivas de mujeres (secretaria / enfermera / maestra jardinera / ama de casa) o de varones (gerente / médico / profesor / albañil)
-Adjudicar características especificas del “ser mujer”: débil, emocional, manipulable, celosa, histérica, chismosa, irracional, natural, etc.
-Revictimizar a la persona que fue víctima de violencia. El discurso que se pregunta qué hizo la víctima para ser agredida
-Invisibilizar desigualdades sociales presentes en el diversos ámbitos: laboral, salud, educación, etc.

 

¿Por qué se recomienda evitar el término “crimen pasional”?

Porque el calificativo “pasional” pone el acento en justificar la conducta del agresor. “La mató por celos”, “fue un ataque de furia”, por ejemplo, son formas discursivas que en última instancia promueven la condena a la mujer que sufrió violencia. Se culpabiliza a la víctima que sería la causante de esas pasiones y, consecuentemente, se respalda la acción violenta del agresor, eximiéndolo de responsabilidad.

Cuando se trata de un asesinato de una mujer por razones de género se sugiere hablar de “Femicidio” o “Feminicidio”. Ejemplo: en vez de “Otra mujer quemada” usar “Otro femicidio por fuego”. Más información.

 

Poesia A verdade seja dita sobre os Bolsonaros

Mel Duarte

Mel Duarte

A poetisa e o recado ao Bolsonaro: “Você que não mova sua pica para impor respeito a mim”

 

Mel Duarte escreve e declama poesia que é um grito de revolta de mais uma mulher contra os impropérios ditos pelo parlamentar à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS)

Por Igor Carvalho

Mel Duarte, poetisa paulistana, é mais uma das mulheres que se revoltou quando viu o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) atacar a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Como resposta à essa indignação, ela escreveu o poema “Verdade seja dita.”

A poetisa apresentou o poema, pela primeira vez, no Rachão Poético, no último domingo (14). Porém, o vídeo com a apresentação de Mel Duarte foi feito durante o sarau da livraria Suburbano Convicto, no Bixiga, região central da capital paulista.

Mel Duarte é autora do livro “Fragmentos Dispersos”

 

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Verdade seja dita!

por Mel Duarte

 

Verdade seja dita
Você que não mova sua pica pra impor respeito a mim.
Seu discurso machisma, machuca
E a cada palavra falha
Corta minhas iguais como navalha
NINGUÉM MERECE SER ESTUPRADA!
Violada, violentada
Seja pelo uso da farda
Ou por trás de uma muralha
Minha vagina não é lixão
Pra dispensar as tuas tralhas

Canalha!

Tanta gente alienada
Que reproduz seu discurso vazio
E não adianta dizer que é só no Brasil
Em todos os lugares do mundo,
Mulheres sofrem com seres sujos
Que utilizam da força quando não só, até em grupos!
Praticando sessões de estupros que ficam sem justiça.

Carniça!

Os teus restos nem pros urubus jogaria
Pq animal é bixo sensível,
E é capaz de dar reboliço num estômago já acostumado com tanto lixo

Até quando teremos que suportar?
Mãos querendo nos apalpar?
Olha bem pra mim? Pareço uma fruta?
Onde na minha cara ta estampado: Me chupa?!
Se seu músculo enrijece quando digo NÃO pra você
Que vá procurar outro lugar onde o possa meter

Filhos dessa pátria ,
Mãe gentil?
Enquanto ainda existirem Bolsonaros
Eu continuo afirmando:
Sou filha da luta, da puta
A mesma que aduba esse solo fértil
A mesma que te pariu!

Decadência da Faculdade de Medicina do Governo de São Paulo: Bacanais, tráfico de mulheres, de drogas, de álcool, curra, estupro, filme pornô e doenças sexuais

Violência sexual, castigos físicos e preconceito na Faculdade de Medicina da USP

por Tatiana Merlino, Igor Ojeda, Caio Palazzo/Vídeos e Rafael Bonifácio/Edição de vídeos

 

Fachada da Faculdade de Medicina da USP

Fachada da Faculdade de Medicina da USP

 

Muitas das garotas têm menos de 20 anos. A maior parte delas é branca, de família de classe A ou B. Estão felizes por realizar um sonho. Apreensivas pelos desafios que enfrentarão nos anos seguintes. Assustadas com o novo ambiente e os rostos desconhecidos.

São reunidas em círculo. Em volta, outro círculo, de garotos igualmente brancos, igualmente nascidos em famílias ricas ou de classe média alta. Mas são mais velhos. Intimidadores. Ordenam que todas gritem “bu”. Elas obedecem:

– Bu! Bu! Bu! Bu! Bu! Bu!

Um coro alto de vozes masculinas, a dos garotos em volta das garotas, abafa as vozes femininas e ressoa pelo ambiente:

– Buceta! Buceta! Buceta eu como a seco! No cu eu passo cuspe! Medicina é só na USP!

É assim que calouras da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) são recepcionadas em seu primeiro dia dessa nova fase da vida. Todos os anos. É uma das muitas tradições da faculdade de ciências médicas considerada a melhor do país. “De elite.” Para as mulheres, no entanto, grande parte dessas tradições se traduz em opressão permanente, que traz como consequência extrema casos graves de abusos sexuais, incluindo estupros, no interior do ambiente universitário. Casos sobre os quais recai um pesado manto de silêncio que impede que se tome providências a respeito. É fundamental que se preserve o bom nome da instituição.

Ou melhor: das instituições, no plural. Pois a FMUSP abriga entidades tão tradicionais que elas próprias parecem ser autossuficientes. É o caso da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC), ou simplesmente Atlética, e do Show Medicina, que reúne alunos para uma apresentação teatral anual e que recentemente virou notícia quando estudantes que dele fazem parte pintaram um anúncio de sua 72ª edição sobre um grafite na avenida Rebouças, em São Paulo.

Violências sexuais, trotes violentos, castigos físicos, humilhações, machismo, racismo e discriminação social. A Ponte reuniu inúmeras denúncias de violações sistemáticas aos direitos humanos ocorridas nessas instituições, quando não incentivadas ou promovidas por elas. Comumente varridos para debaixo do tapete, tais abusos passam atualmente por uma inédita publicização, fruto da luta das vítimas e de coletivos de direitos humanos da faculdade. Tanto que hoje são alvos de investigação por parte do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e objetos de uma histórica comissão interna formada por professores com o objetivo de apurá-los. As denúncias também chegaram à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), que realizará uma audiência pública sobre o tema nesta terça, 11/11.

Com esta reportagem, a Ponte dá início a uma série especial sobre o assunto. Tradição, hierarquia, segredo, ritualismo, elitismo, regras rígidas e punições são as palavras-chave. Os relatos são impactantes.

 

Abusos sexuais: a naturalização

Na segunda-feira à tarde da semana de recepção aos calouros, acontece o primeiro evento do ano no clube da Atlética, no bairro paulistano de Pinheiros. É a “Espumada”. Os estudantes de Medicina festejam com churrasco e bebidas o início do novo semestre. Numa quadra poliesportiva, é formada uma espécie de piscina cheia de espuma, que chega a cobrir a cabeça dos presentes. Garotas e garotos que lá entram mal veem um ao outro. Mas são elas as mais vulneráveis. Mãos masculinas anônimas apalpam tudo que encontram pela frente: seios, bundas, vaginas. “A caloura não sabe como é a festa. Qualquer menina que entra na espuma perde o controle sobre o corpo. É mão de todo lado, sem você saber quem é. O menino te agarra, te beija. E se você tenta fazer algo, a resposta é que se você está na espuma é porque quer, está lá para isso. Rola uma pressão. Se está lá é porque está topando qualquer negócio”, relata uma das alunas, que não quis se identificar. “Os veteranos abusam do poder que têm sobre as meninas, que estão vulneráveis, não sabem o que está acontecendo. Muitas ficam bêbadas. Abusam mesmo delas.”

“Muitos veteranos usam o fato de você estar numa situação vulnerável e forçam o beijo, o sexo. Às vezes a menina está desmaiada e ele tira a roupa dela.”

Segundo a estudante Marina Pikman, do coletivo feminista Geni, formado no final de 2013 dentro da FMUSP, é comum que as alunas reclamem do constrangimento a que são submetidas logo quando chegam à faculdade. “Há muita ênfase na hierarquia, em tirar a identidade do calouro, falar: ‘você não sabe de nada, esquece toda a sua vida pregressa que e a gente vai te ensinar’. Com as mulheres, isso acontece de forma machista, os veteranos acham que têm livre acesso às calouras”, diz.

 

 

Ana Luísa Cunha, também integrante do Geni, lembra que quando o grupo foi fundado começaram a chegar vários relatos de abusos sofridos na semana de recepção. “Você chega e não sabe o que vai acontecer. Quer se enturmar, está na euforia e os caras se aproveitam, muitos veteranos usam o fato de você estar numa situação vulnerável e forçam o beijo, o sexo. Às vezes a menina está desmaiada e ele tira a roupa dela”, conta.

Mas os casos de abusos não ocorrem apenas na primeira semana ou na “Espumada”. Há relatos de violências sexuais em outras festas, tanto promovidas pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (Caoc), como as cervejadas, quanto pela mesma Atlética, a exemplo das tradicionalíssimas “Carecas no Bosque” e “Fantasias no Bosque”, realizadas uma em cada semestre. De acordo com o Geni, são pelo menos 8 casos de assédios graves nos últimos 3 anos. Marina avalia, no entanto, que esse é um número bem menor do que a realidade, já que muitas estudantes não denunciam as violências sofridas por vergonha e medo de serem hostilizadas.

Cartaz de festa da Faculdade de Medicina da USP

Cartaz de festa da Faculdade de Medicina da USP. Na gíria universitária: Carecas (sexo masculino) no Bosque (sexo feminino)

Das festas que acontecem na FMUSP, a “Carecas no Bosque” e a “Fantasias no Bosque” são as que criam o ambiente mais “propício” para abusos. A começar pelos cartazes de divulgação, quase sempre com destaque a mulheres cheias de curvas, trajes mínimos e olhares provocantes. Os preços dos convites são diferenciados. Em geral, mulheres pagam quase a metade do que os homens. “Todo o marketing é baseado no fato de que lá haverá muitas mulheres e que vai ter sexo à vontade. A USP inteira sabe que tanto a ‘Carecas’ quanto a ‘Fantasias’ são para isso, para ir lá e transar”, explica a aluna que optou por permanecer anônima. O problema, segundo ela, não é a questão moral, mas o ambiente de machismo extremo que cria a impressão de que qualquer garota presente está disponível.

A festa acontece no campo de futebol da Atlética. As equipes masculinas de cada modalidade esportiva erguem suas barracas para vender bebidas e arrecadar recursos. Atrás destas são montados os “cafofos”: estruturas fechadas com colchões ou almofadas apropriadas para se levar garotas. Segundo relatos, uma das modalidades costuma contratar prostitutas, cuja tarefa é agradar os presentes com strip teases e “body shots” de tequila nos seios, além de deixar o corpo à mercê das apalpadelas. Na barraca de outra modalidade, filmes pornôs são projetados. Outra equipe batiza seu espaço de “matadouro”.

“Nessas festas, minha impressão é que as meninas são um pedaço de carne na prateleira.”

Em torno do campo de futebol, há um pequeno bosque, para onde os casais vão para transar. Seguranças contratados pela organização vigiam a entrada. “Nessas festas, minha impressão é que as meninas são um pedaço de carne na prateleira. A mentalidade dos meninos é que elas estão disponíveis para transar. Chegam de maneira agressiva, ao ponto de vários caras tentarem te puxar para o bosque. E, na minha percepção, se você entra no cafofo você não sai, vai ter de transar com o cara”, opina a estudante. “Ter” de transar. Marina, do coletivo Geni, revela que já ouviu muitas histórias de garotas assediadas e estupradas entre as árvores. “Houve uma vez em que meu namorado ouviu gritos e foi socorrer. Um cara que ele conhecia tinha rasgado a calcinha da menina contra a vontade dela”, conta.

“Há estupros de meninas inconscientes, casos de colocar ‘boa noite Cinderela’ na bebida delas. É algo sistemático porque acontece em todos os anos”, diz professora da FFLCH

Heloísa Buarque de Almeida, coordenadora do programa USP Diversidade e professora de estudos de gênero na antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), pesquisa a ocorrência de violência sexual, machismo, homofobia e trotes violentos na FMUSP desde que foi procurada pelos coletivos da faculdade, há alguns meses. “As violências se tornam rituais que se repetem a partir de uma ideia de tradição que querem manter, que não é exatamente do curso, mas uma tradição de algumas festas e instituições que se torna escandalosa”, analisa. “Há estupros de meninas inconscientes, casos de colocar ‘boa noite Cinderela’ na bebida delas. É algo sistemático porque acontece em todos os anos. A festa ‘Carecas no Bosque’ é tradicional entre aspas. Eles consideram tradicional que tenha prostitutas lá dentro, e no meio disso algumas meninas são estupradas porque estão bêbadas.”

 

‘Você estava muito bêbada’

 

Cartaz de festa dos alunos da Medicina da USP

Cartaz de festa dos alunos da Medicina da USP

Foi na “Carecas no Bosque” de 2011 que a então caloura Doralice* foi estuprada no “cafofo” do judô. Ela estava desacordada. “Demorei para saber o que tinha acontecido, porque eu retomei a consciência apenas quando estava no hospital. Não me falaram direito, só: ‘acho que você foi abusada’”, diz ela, em depoimento à Ponte. Posteriormente, juntando os relatos que foram surgindo, muitos por insistência dela, a estudante pôde entender melhor o que ocorreu após as 4 horas da madrugada, quando ainda estava consciente e havia ido tomar uma bebida na barraca do judô – depois disso, não se lembra de mais de nada. De acordo com o que lhe contaram, Doralice ficou com um dos garotos da modalidade, que a levou ao cafofo, onde a deixou. Quando ele voltou, viu-a desacordada com um homem sobre ela, estuprando-a.

O que se seguiu, segundo a aluna, foi uma série de tentativas, por parte da Atlética e da diretoria da faculdade, de abafar o caso. No Hospital das Clínicas, para onde foi levada por diretores da entidade esportiva, não foram feitos exame de corpo de delito, para se comprovar a violência, ou toxicológico, para identificar uma possível adulteração em sua bebida. No entanto, a caloura começou a tomar medicamentos antirretrovirais como prevenção ao HIV.

“Eles falaram que eu não tinha como provar, que não poderia dizer que havia sido estuprada porque estava muito bêbada.”

Apesar da insistência, os responsáveis pela Atlética demoraram a lhe explicar exatamente o que tinha acontecido. Foi somente 2 dias depois, quando teve a confirmação de que havia existido penetração, que Doralice decidiu denunciar o caso. Mas foi sistematicamente desencorajada pelos diretores da Atlética. “Eles falaram que eu não tinha como provar, que não poderia dizer que havia sido estuprada porque estava muito bêbada.”

Mesmo assim, a estudante fez um Boletim de Ocorrência na Delegacia da Mulher. Algum tempo depois, a delegada apontou um funcionário terceirizado da faculdade como o agressor. “Até hoje, quando o inquérito policial está sendo finalizado, eu descubro coisas sobre meu caso que não sabia, por exemplo, que a diretoria da Atlética não permitiu que a polícia entrasse no local da festa”, conta.

As pessoas que ela procurava para testemunhar se mostravam ariscas. Falavam que deveria “tocar a vida para frente”. “Foi feito um pacto de silêncio, como tudo é tratado dentro da Faculdade de Medicina. Meu namorado era mais velho e falavam para ele que a história não poderia vazar, que iria destruir a imagem da Atlética, que iria destruir a festa”, revela. Ela conta, ainda, que a diretoria da FMUSP tomou conhecimento do caso, mas não fez nada a respeito.

“Abaixou minha calça, enfiou o dedo, me beijou à força.”

O estupro no “Carecas no Bosque” de 2011 não foi a primeira nem a última violência sexual sofrida por Doralice. No início daquele mesmo ano, durante a semana de recepção, ela foi abusada por um dos diretores da Atlética, que inclusive faria parte do grupo que a levaria ao hospital alguns meses depois. Numa tarde de bebedeira, ele a levou a uma sala escura da equipe de atletismo e a jogou no chão. “Abaixou minha calça, enfiou o dedo, me beijou à força. Mas teve uma hora em que ele parou”, relata Doralice. “Depois ele fez isso com outras meninas, uma delas da ‘panela’ dele, outra, uma colega minha de turma. Ele vê que a menina está bêbada e não conseguindo oferecer muita resistência.” Nos anos posteriores ao estupro, outro diretor da Atlética aproveitou duas “Espumadas” para passar a mão em seu corpo. Segundo a aluna, ele igualmente costuma repetir o abuso com outras estudantes.

 

‘Eu sei que você quer, deixa de ser chata’

Em novembro de 2013, a estudante de Medicina Leandra* sofreu abuso sexual de 2 alunos durante uma cervejada do sexto ano realizada no Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. Eles ficaram insistindo para que ela fosse até o estacionamento ao lado. “Vamos para meu carro que eu vou dar bebida para você”, diziam.

“Eu falava que não queria, eles insistiam para eu ir. Me puxavam, mas eu não queria ficar com eles. Nesse vai e vem acabamos chegando ao carro deles. Lá eles começaram a me beijar, enfiar a mão dentro da minha roupa, dentro da minha calça. Queriam que eu entrasse no carro, abriram a porta, e eu comecei a gritar, a fazer um escândalo, dizendo que não queria. Tentava sair e eles impediam a minha passagem. Me empurravam, e um deles começou a gritar comigo: ‘para de gritar, para de gritar!’. Eu dizia que não queria os dois e um deles respondia: ‘você quer sim, eu sei que você quer, deixa de ser chata’. E os dois me beijavam, passavam a mão em tudo, não me deixavam sair. Nisso uma menina que estava no estacionamento brigando com o namorado viu o que aconteceu, deu um grito e me chamou. Então consegui sair.”

 

 

A partir de então, Leandra iniciou uma epopeia para que a violência sofrida por ela fosse reconhecida. Fez um Boletim de Ocorrência e denunciou o caso à diretoria da faculdade. Uma sindicância formada por 4 professores foi criada, mas apenas a estudante e um dos agressores foram ouvidos, já que o outro estava viajando. Em abril de 2014, a conclusão divulgada foi que a relação havia sido consensual, e que o problema havia sido o consumo de álcool. “Para mim, essa decisão tira a culpa do agressor e a joga na vítima, porque ela estava bêbada. Chegaram à conclusão de que foi consensual só com meu depoimento e de um dos garotos”, reclama.

O forte corporativismo existente no ambiente universitário da Faculdade de Medicina da USP, que havia se manifestado no caso de Doralice, voltou a “atacar” no caso Leandra. A vítima, e não os agressores, passou a ser hostilizada sistematicamente desde então. “Eu passo no corredor, as pessoas cochicham, apontam, principalmente os amigos dos caras. Eu mesma ouvi dizerem: ‘ah, aquela menina sai com todo mundo, logo ela vai reclamar disso? Está querendo aparecer’”. A preocupação maior é com a imagem da faculdade. Até mesmo um dos que abusaram de Leandra foi tirar satisfação. Ameaçou processá-la por difamação.

“Quando fui denunciar, achei que o meu era um caso isolado, mas descobri que havia mais.”

Uma das instâncias procuradas por ela foi o Núcleo de Estudos em Gênero, Saúde e Sexualidade (Negss), grupo de alunos criado no início de 2013. “Quando fui denunciar, achei que o meu era um caso isolado, mas descobri que havia mais”, diz. Foi divulgada então uma nota sobre o ocorrido no Facebook, gerando grande repercussão, em sua maioria, negativa. O texto foi publicado na página mantida nessa rede social pelo Grupo Pinheiros, do qual participam alunos e ex-alunos da FMUSP. A reação de seus membros foi violenta, diz Marina Pikman, do Geni. “Temos um monte de prints com postagens supermachistas, homofóbicas, classistas, xenófobas… tirando sarro do que aconteceu. Foi bem difícil para ela [Leandra]. Ela é ridicularizada nas redes sociais.”

Questionada pela reportagem, a diretoria do Centro Acadêmico afirmou que ofereceu apoio e orientação a Leandra e a incentivou a registrar um Boletim de Ocorrência. Disse, ainda, que solicitou à FMUSP a instauração de uma sindicância administrativa, “uma vez reconhecida a dificuldade e inadequação do CAOC de realizar tal apuração”. Todas as respostas enviadas pelo Caoc à Ponte podem ser lidas aqui.

A estudante, no entanto, nega. Ela diz ter procurado a segurança da faculdade, que a levou até ao chefe da graduação. Este a teria orientado a fazer o BO. “Os diretores do Caoc disseram que não poderiam me ajudar pelo princípio da isonomia em relação aos alunos. Só após a pressão do Negss eles enviaram um ofício à diretoria da faculdade pedindo abertura de sindicância.”

 

Modus operandi da violência

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Ao Geni chegaram outros exemplos de abusos semelhantes. Como o de uma aluna violentada por um ficante. Ou de uma caloura que “apagou” numa festa “Fantasias no Bosque” e acordou numa enfermaria às sete da manhã sem sapato e calcinha. Ou o estupro de uma estudante de Enfermagem por um aluno de Medicina na Casa do Estudante, a moradia estudantil do Hospital das Clínicas. Ou até de um aluno estuprado por um veterano numa “Espumada”.

“No começo elas nem se dão conta de que sofreram assédio. Elas acham que estavam muito bêbadas, que não resistiram o suficiente. Depois, quando se dão conta, acham que passou muito tempo, que as pessoas relativizarão o ocorrido.”

Nenhum desses abusos, no entanto, foi denunciado, com a exceção dos de Doralice e Leandra. “É claro que não são casos isolados, é claro que há uma cultura institucionalizada de violência, impunidade, desamparo das vítimas”, avalia Marina. Ela explica que se pode até dizer que há um modus operandi. “A maioria dessas violências acontece em festas, em ambientes nos quais a menina está bastante alcoolizada. Às vezes está inconsciente, às vezes consciente, mas ofereceu resistência à agressão, e não foi respeitada pelo menino. E ela se sente culpada por não ter conseguido se defender. E há a lógica machista de considerar sempre que foi consensual.”

A partir daí, inicia-se uma luta para decidir denunciar o assédio e/ou buscar apoio. As vítimas, porém, esbarram nas próprias dúvidas e na falta de mecanismos institucionais de acolhimento. “No começo elas nem se dão conta de que sofreram assédio. Elas acham que estavam muito bêbadas, que não resistiram o suficiente. Depois, quando se dão conta, acham que passou muito tempo, que as pessoas relativizarão o ocorrido”, analisa Marina, para quem seria fundamental uma instância que amparasse as alunas que sofreram violência. “Mesmo que não tenha havido denúncia, a maioria procurou alguma ajuda institucional, porque foi fazer o tratamento antirretroviral.”

Ainda que as estudantes decidam ou cogitem denunciar, devem enfrentar mais obstáculos: o pacto de silêncio e abafamento em relação aos escândalos, e a transformação das vítimas em algozes. “As meninas são ridicularizadas, estigmatizadas como loucas que só querem chamar a atenção, que estão inventando coisas, manchando a imagem das instituições da faculdade”, pontua a integrante do coletivo Geni.

Segundo Marina, o grupo chegou a se reunir com a diretoria da faculdade e da Atlética para pressionar por medidas que diminuíssem a vulnerabilidade das alunas nas festas promovidas pela entidade, mas seus diretores responderam que não era possível tomar providências antes de uma decisão judicial. “As meninas não reclamam muito, fica velado, pois ninguém tem coragem de criticar a Atlética, porque é uma instituição muito forte. Existe um corporativismo muito grande envolvendo a Atlética, ou o Show Medicina. Você vai ser perseguido se reclamar, se der a cara para bater”, lamenta Leandra. Foi justamente a violação sofrida por ela o estopim da criação do Geni. “Meninas vinham contar histórias de estupro por colegas que nunca haviam denunciado porque tinham medo, porque não viam canais de denúncia antes”, explica Marina.

No dia em que foram anunciadas as conclusões da sindicância sobre o caso de Leandra, as estudantes realizaram um ruidoso protesto criticando a decisão e denunciando outros abusos. Foi o suficiente para que a faculdade decidisse formar uma comissão para apurar os inúmeros exemplos de opressão em seu interior. Instalado em março deste ano, o grupo formado por professores da FMUSP vem ouvindo relatos de violações sexuais, físicas, morais, machistas e homofóbicas, entre outras. O relatório elaborado a partir dessa apuração deve ser divulgado nos próximos dias.

Enquanto isso, após a publicação de matérias na imprensa sobre os casos de Doralice e Leandra, a edição deste ano da festa “Fantasias no Bosque” foi cancelada.

A Ponte solicitou uma entrevista com o diretor da FMUSP José Otávio Auler, mas a assessoria de imprensa da faculdade informou que ele se encontra em um simpósio fora do país e enviou a seguinte nota:

“A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) se coloca de maneira antagônica a qualquer forma de violência e discriminação (com base em etnia, religião, orientação sexual, social) e tem se empenhado em aprimorar seus mecanismos de prevenção destes tipos de casos, apuração de denúncias e acolhimento das vítimas. A Cultura da Instituição é baseada na tolerância e respeito mútuos, valores que são passados aos seus alunos. Com o intuito de fortalecer esta cultura, foi formada recentemente, inclusive, uma Comissão com docentes, alunos e funcionários com o objetivo de propor ações de caráter resolutivo quanto aos problemas relacionados às questões de violência, preconceito e de consumo de álcool e drogas. Em relação às denúncias envolvendo membros da FMUSP ou de casos ocorridos em suas dependências, foram abertas sindicâncias para apuração. Em caso de comprovação, a Faculdade adota as punições disciplinares de acordo com o Código de Ética da USP.”

A reportagem também procurou a Atlética, via assessoria de imprensa da FMUSP, mas até a publicação desta reportagem não havia obtido retorno.

* Nome fictício para preservar a identidade da vítima

Os assassinos invisíveis. Dez denúncias de assédio moral no trabalho registradas por dia

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O que é assédio moral? São atos cruéis e desumanos que caracterizam uma atitude violenta e sem ética nas relações de trabalho, praticada por um ou mais chefes contra seus subordinados.

Trata-se da exposição de trabalhadoras e trabalhadores a situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes durante o exercício de sua função.

Esses atos visam humilhar, desqualificar e desestabilizar emocionalmente a relação da vítima com a organização e o ambiente de trabalho, o que põe em risco a saúde, a própria vida da vítima e seu emprego.

A violência moral ocasiona desordens emocionais, atinge a dignidade e identidade da pessoa humana, altera valores, causa danos psíquicos (mentais), interfere negativamente na saúde, na qualidade de vida e pode até levar à morte. Suicídios e assassinatos. De mortes encomendadas. De pistolagem, pela preferência de pagar um assassino de aluguel a pagar direitos trabalhistas de um empregado.

Como acontece

A vítima escolhida é isolada do grupo, sem explicações. Passa a ser hostilizada, ridicularizada e desacreditada no seu local de trabalho. É comum os colegas romperem os laços afetivos com a vítima e reproduzirem as ações e os atos do(a) agressor(a) no ambiente de trabalho. O medo do desemprego, e a vergonha de virem a ser humilhados, associados ao estímulo constante da concorrência profissional, os tornam coniventes com a conduta do assediador.

A MAIORIA DAS VÍTIMAS É MULHER E É NEGRA

Assédio moral

VIOLÊNCIA MORAL CONTRA A MULHER 

 

O assediador é sempre um covarde. Ataca sempre os mais fracos.

Geralmente, o ambiente de trabalho é o mais perverso para as mulheres, pois, além do controle e da fiscalização cerrada, são discriminadas. Essa prática é mais frequente com as afro-descendentes. Muitas vezes o assédio moral diferido contra elas é precedido de uma negativa ao assédio sexual. Em alguns casos, os constrangimentos começam na procura do emprego, a partir da apresentação estética.

Posteriormente, ações como:

• Ameaça, insulto, isolamento

• Restrição ao uso sanitário

• Restrições com grávidas, mulheres com filhos e casadas

• São as primeiras a serem demitidas

• Os cursos de aperfeiçoamento são preferencialmente para os homens

• Revista vexatória, e outras atitudes que caracterizam assédio moral

O assédio moral contra as mulheres sempre acontece depois do assédio sexual fracassado. O famoso “dá ou desce”.

Matteo Bertelli

Matteo Bertelli

VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA O HOMEM E ORIENTAÇÃO SEXUAL

 

O homem não está livre do assédio, particularmente se for homoafetivo ou possuir algum tipo de limitação física ou de saúde.

No que se refere à orientação sexual, não há instrumentos oficiais para esse tipo de verificação. E, aqui, o entrave é também cultural e está ligado ao que significa ser homem na sociedade brasileira. Em uma sociedade machista, os preconceitos com relação à orientação sexual são ainda mais graves.

O assédio moral contra os homosexuals, também, pode começar pelo assédio sexual.

 

VIOLÊNCIA MORAL CONTRA A VELHICE, DOENTES E ACIDENTADOS (AS)

Tomas

Tomas

• Ter outra pessoa na função, quando retorna ao serviço

• Ser colocado em local sem função alguma

• Não fornecer ou retirar instrumentos de trabalho

• Estimular a discriminação entre os sadios e os adoecidos

• Dificultar a entrega de documentos necessários à concretização da perícia médica pelo INSS

• Demitir após o transcurso da estabilidade legal

No culto publicitário do hedonismo, do consumismo, da beleza dos jovens, a velhice começa com as primeiras rugas nas mulheres, e os primeiros cabelos brancos nos homens. Cada vez fica mais difícil arranjar emprego depois dos 40 anos.

O assediador é tarado por carne nova.

 

OBJETIVO DO(A) AGRESSOR(A)

• Desestabilizar emocional e profissionalmente

• Livrar-se da vítima: forçá-lo(a) a pedir demissão ou demiti-lo(a), em geral, por insubordinação

 

ESTRATÉGIA DO(A) AGRESSOR(A)

• Escolher a vítima e o(a) isolar do grupo

• Impedir que a vítima se expresse e não explicar o porquê

• Fragilizar, ridicularizar, inferiorizar, menosprezar em seu local de trabalho

• Culpar/responsabilizar publicamente, levando os comentários sobre a incapacidade da vítima, muitas vezes, até o espaço familiar

• Destruir emocionalmente a vítima por meio da vigilância acentuada e constante. Ele(a) se isola da família e dos amigos, passa a usar drogas, principalmente o álcool, com frequência, desencadeando ou agravando doenças preexistentes

• Impor à equipe sua autoridade para aumentar a produtividade

 

COMO IDENTIFICAR O ASSEDIADOR

É no cotidiano do ambiente de trabalho que o assédio moral ganha corpo.

Alguns comportamentos típicos do(a) agressor(a) fornecem a senha para o processo de assédio moral nas empresas.

O assédio moral é uma relação triangular entre quem assedia, a vítima e os demais colegas de trabalho.

Após a confirmação de que está sendo vítima de assédio moral, não se intimide, nem seja cúmplice. Denuncie!

 

DENUNCIE O ASSEDIADOR, UM COVARDE PSICOPATA

Todo assediador é incompetente,  frustado, covarde, um baba-ovo quando um empregado que exerce cargo de confiança, ou um patrão escravocrata e usurário,  um psicopata social.

 

CONFIRA ALGUNS EXEMPLOS DE ASSÉDIO

• Ameaçar constantemente, amedrontando quanto à perda do emprego

• Subir na mesa e chamar a todos de incompetentes

• Repetir a mesma ordem para realizar tarefas simples, centenas de vezes, até desestabilizar emocionalmente o(a) subordinado(a)

• Sobrecarregar de tarefas ou impedir a continuidade do trabalho, negando informações

• Desmoralizar publicamente

• Rir, a distância e em pequeno grupo, direcionando os risos ao trabalhador

• Querer saber o que se está conversando

• Ignorar a presença do(a) trabalhador(a)

• Desviar da função ou retirar material necessário à execução da tarefa, impedindo sua execução

• Troca de turno de trabalho sem prévio aviso

• Mandar executar tarefas acima ou abaixo do conhecimento do trabalhador

• Dispensar o trabalhador por telefone, telegrama ou correio eletrônico, estando ele em gozo de férias

• Espalhar entre os(as) colegas que o(a) trabalhador(a) está com problemas nervosos

• Sugerir que o trabalhador peça demissão devido a problemas de saúde

• Divulgar boatos sobre a moral do trabalhador

 

COMO A VÍTIMA REAGE

 Alex Falco Chang

Alex Falco Chang

MULHERES: São humilhadas e expressam sua indignação com choro, tristeza, ressentimentos e mágoas.

Sentimento de inutilidade, fracasso e baixa auto-estima, tremores e palpitações. Insônia, depressão e diminuição da libido são manifestações características desse trauma.

HOMENS: Sentem-se revoltados, indignados, desonrados, com raiva, traídos e têm vontade de vingar-se.

Idéias de suicídio e tendências ao alcoolismo.

Sentem-se envergonhados diante da mulher e dos filhos, sobressaindo o sentimento de inutilidade, fracasso e baixa auto-estima.

 

O QUE A VÍTIMA DEVE FAZER

• Resistir. Anotar, com detalhes, todas as humilhações sofridas: dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do(a) agressor(a), colegas que testemunharam os fatos, conteúdo da conversa e o que mais achar necessário.

• Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato ou que sofrem humilhações do(a) agressor(a)

•Evitar conversa, sem testemunhas, com o(a) agressor(a).

• Procurar seu sindicato e relatar o acontecido.

• Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas.

* E denunciar ao

• Ministério do Trabalho e Emprego

• Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego

• Conselhos Municipais dos Direitos da Mulher

• Conselhos Estaduais dos Direitos da Mulher

• Comissão de Direitos Humanos

• Conselho Regional de Medicina

• Ministério Público

• Justiça do Trabalho

• Ouvidoria 0800 61 0101 (Região Sul e Centro-Oeste, Estados do Acre, Rondônia e Tocantins) 0800 285 0101 (Para as demais localidades)

http://www.mte.gov.br/ouvidoria

* Existem organizações internacionais.

 

O MEDO REFORÇA O PODER DO(A) AGRESSOR(A)

O assédio moral no trabalho não é um fato isolado. Como vimos, ele se baseia na repetição, ao longo do tempo, de práticas vexatórias e constrangedoras, explicitando a degradação deliberada das condições de trabalho.

Nessa luta, são aliados dos(as) trabalhadores(as) os centros de Referência em Saúde dos Trabalhadores, Comissões de Direitos Humanos e Comissão de Igualdade e Oportunidade de Gênero, de Raça e Etnia, de Pessoas com Deficiência e de Combate à Discriminação nas Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego.

Um ambiente de trabalho saudável é uma conquista diária possível. Para que isso aconteça, é preciso vigilância constante e cooperação. É preciso não ter medo. O agressor(a) conta com a sua covardia. Sua falta de amor próprio.

 

AS PERDAS PARA O EMPREGADOR

Pedro X. Molina

Pedro X. Molina

 

•Queda da produtividade e menor eficiência, imagem negativa da empresa perante os consumidores e mercado de trabalho

•Alteração na qualidade do serviço/produto e baixo índice de criatividade

• Doenças profissionais, acidentes de trabalho e danos aos equipamentos

•Troca constante de empregados, ocasionando despesas com rescisões, seleção e treinamento de pessoal

• Aumento de ações trabalhistas, inclusive com pedidos de reparação por danos morais

 

AÇÕES PREVENTIVAS DAS EMPRESAS

 Pedro X. Molina

Pedro X. Molina

Os problemas de relacionamento dentro do ambiente de trabalho e os prejuízos daí resultantes serão tanto maiores quanto mais desorganizada for a empresa e maior for o grau de tolerância do empregador em relação às praticas de assédio moral.

• Estabelecer diálogo sobre os métodos de organização de trabalho com os gestores (RH) e trabalhadores(as)

•Realização de seminários, palestras e outras atividades voltadas à discussão e sensibilização sobre tais práticas abusivas

• Criar um código de ética que proíba todas as formas de discriminação e de assédio moral (Fonte Ministério do Trabalho e Emprego, Assédio Moral no Emprego, cartilha)

 

 

La guerra no declarada contra las mujeres y las niñas

 

por Nuria Varela
La Marea

 

Imagen obtenida del video hecho público el 12 de mayo por el grupo terrorista Boko Haram.

Imagen obtenida del video hecho público el 12 de mayo por el grupo terrorista Boko Haram.

Hasta la semana pasada era obvio (y no por ello mayoritariamente reconocido) que vivíamos una guerra no declarada contra las mujeres y las niñas. Los datos, aún parciales y aproximados -cuando hablamos de violencia contra las mujeres nunca tenemos datos exactos-, lo demuestran: existen en todo el mundo entre 113 y 200 millones de mujeres demográficamente desaparecidas. Cada año, entre 1.5 y 3 millones de mujeres y niñas pierden la vida como consecuencia de la violencia o el abandono por razón de su sexo; 6.000 niñas al día sufren la ablación del clítoris, alrededor de 600.000 mujeres mueren cada año al dar a luz y según la Organización Mundial de la Salud (OMS), otras 47.000 fallecen todos los años como consecuencia de abortos inseguros y en malas condiciones de salubridad. Como publicó hace años The Economist, “cada periodo de dos a cuatro años, el mundo aparta la vista de un recuento de víctimas equiparable al Holocausto de Hitler”.

Las conclusiones del primer informe mundial sobre violencia realizado por la OMS, “estimaciones mundiales y regionales de la violencia contra la mujer: prevalencia y efectos de la violencia conyugal y de la violencia sexual no conyugal en la salud”, califican la violencia de género como “epidemia” y señalan afecta a un tercio de las mujeres en el mundo. En Europa, el Informe sobre violencia contra las mujeres realizado por la Agencia de los derechos fundamentales de la Unión Europea cuantificó que en el último año, 13 millones de mujeres sufrieron violencia física en los 28 estados miembros, 3,7 millones fueron violadas y nueve millones de mujeres fueron víctimas de acoso. A lo largo de su vida, 62 millones de europeas, es decir, una de cada tres, ha sufrido violencia física o sexual -la encuesta recoge datos a partir de los 15 años, así que se queda fuera toda la violencia sufrida por las niñas-.

La semana pasada, Aboubakar Shekau, el líder de Boko Haram, el grupo que secuestró hace ya más de un mes a 234 niñas nigerianas, hizo explícita esta declaración de guerra delante de las cámaras. El video se ha visto en todo el mundo. El tipo se alía nada menos que con Alá para escenificar todos los ingredientes de esta guerra: las muchachas son suyas, puede hacer con ellas lo que quiera; el secuestro es un castigo -lo merecen- por estudiar, por pretender tener una vida propia lejos de los mandatos de sumisión, lo que no impide que sean violadas porque el “honor” y la “castidad” que se les exige a las niñas no tiene nada que ver con lo que Alá les exige a ellos. Son moneda de cambio en el conflicto político que vive Nigeria y valen tan poco que indistintamente se las puede vender, esclavizar, abusar, intercambiar o convertir a una fe que no profesan. Es decir, cualquiera se puede apoderar de la voluntad de las niñas porque a las únicas a las que no les pertenece es a ellas mismas.

Ante esta declaración pública, obscena y desafiante del líder de Boko Haram, ante la demostración de que son prisioneras de una guerra que va más allá del conflicto nigeriano, que es una guerra contra los derechos humanos de estas niñas a las que se les niega incluso el respeto a su cuerpo y el acceso a la educación, ha habido una tardía pero global reacción de la sociedad civil y un tibio y de momento ineficaz movimiento de los gobiernos, incluido el de Nigeria. Al presidente Goodluck Jonathan no parece que le importen mucho incluso ahora, presionado por la comunidad internacional, sólo le oímos excusas sobre la dificultad de la misión de rescatarlas. Sería la primera vez que un ejército o las fuerzas internacionales se movilizan para defender los derechos humanos de mujeres.

Podemos cerrar los ojos y seguir ignorando esta guerra que asesina, viola y destruye la vida de millones de mujeres en el mundo pero ya es hora de dejemos de creer los mitos y las ideologías dogmáticas que defienden que la desigualdad entre hombres y mujeres es natural, histórica y, en consecuencia, irremediable. Ya es hora de trabajar para construir un mundo habitable también para las mujeres, un mundo donde las niñas tengan el derecho a vivir sin violencia y a recibir educación y, también, ya es hora de trabajar para educar a los niños dándoles la oportunidad de hacerse hombres no violentos.

 

 

 

Violência contra a dignidade feminina

por Pedro J. Bondaczuk

Eray Özbek

Eray Özbek

 

Há formas bastante sutis de violências praticadas contra as mulheres, que não produzem ferimentos físicos, não deixam marcas no corpo, não são sequer visíveis, mas que acabam doendo, e muito, já que as vítimas ficam impotentes, sem qualquer possibilidade de reação diante delas, e não têm, por conseqüência, como e a quem recorrer ou reclamar. São os atos que ferem sua dignidade e sua honra.

O não reconhecimento da importância do trabalho doméstico feminino, no cuidado da casa, na educação dos filhos e nas tarefas diárias de preservação e valorização do patrimônio comum da família é, por exemplo, uma dessas formas de violência, e a mais comum. Mais injustiçadas ainda se sentem as que trabalham fora e são forçadas a exercer dupla jornada, sem que o seu esforço seja recompensado ou sequer reconhecido.

As ofensas proferidas pelos companheiros masculinos, quando não há testemunhas, no auge de cenas banais (e comuns) de ciúme, atacando sua honra ou questionando a sua fidelidade, é outra forma corriqueira de violência. E a idéia (implícita) de que a mulher deve “irrestrita obediência” ao homem da casa, seja pai, irmão, marido ou mero companheiro, arraigada na sociedade, (basta viajar pelo interior do Brasil ou pela periferia das grandes cidades, por exemplo, para constatar o quanto esse comportamento é verdadeira regra de conduta não escrita) é mais uma, senão a pior, das formas de agressão à dignidade feminina.

Os agravos, aliás, não param por aí e não ocorrem somente no seio da família. Verificam-se no trabalho, na escola, no lazer, nas relações sociais e nos mais variados aspectos da vida em comunidade. São tantos, que sua simples enumeração consumiria páginas e mais páginas de textos, sem que se esgotassem.

Muitas dessas ofensas, frise-se, são tão sutis, que nem mesmo as próprias mulheres se dão conta de que estão sendo ofendidas e injuriadas. São as que questionam, por exemplo (posto que veladamente), desde a sua inteligência à sua competência, capacidade e senso de responsabilidade. Vários escritores e filósofos ficaram famosos, através da história, por sua misoginia, tendo deixado registradas para a posteridade inúmeras citações sarcásticas e desairosas sobre as mulheres, repetidas ainda hoje, em tom de chiste, amiúde, nas rodas masculinas.

E são considerados “normais”, e até “legais”, em muitas sociedades, pelo mundo afora — que contam com leis consuetudinárias, baseadas nos costumes, algumas milenares, tidas como “cláusulas pétreas”, imutáveis mesmo estando patentes as injustiças que amparam — as determinações de estrita submissão feminina, sem que haja a mínima justificativa (biológica, moral ou legal), para isso.

Há, no entanto, agressões à dignidade da mulher mais grosseiras, ostensivas e até perigosas. No Sudão, por exemplo, (e em vários outros países islâmicos onde prevalece a “sharia”), os juizes podem determinar chibatadas em praça pública, que variam de dez a cinqüenta, àquelas que não seguirem o “código de vestimentas”, independente da religião que professem. Em relação aos homens, no entanto, não existe a mínima restrição quanto àquilo que vistam ou deixem de vestir.

No Afeganistão, dos talibans, as mulheres foram expressamente proibidas de trabalhar e de estudar. E não podiam sair de casa para nada, se não estivessem cobertas, da cabeça aos pés, com a tradicional “burkha”. Trata-se de uma vestimenta que cobre a pessoa por completo, tendo, como única “concessão”, rala telinha, junto aos olhos, nariz e boca, para permitir que quem a use possa respirar e enxergar por onde anda. E ai daquela que desrespeitasse essa norma! Estaria sujeita, sem nenhuma possibilidade de defesa ou de apelação, à pena de morte, por apedrejamento!

E os fundamentalistas afegãos foram ao extremo de exigir até que as venezianas de todas as casas de suas cidades fossem pintadas de negro, para que as mulheres não pudessem ser sequer vislumbradas, mesmo que de perfil, à noite, à luz elétrica, pelas frestas das janelas, por eventuais transeuntes que trafegassem nas ruas.

Esse comportamento bárbaro pode parecer grosseira exceção à regra de comportamento vigente no mundo contemporâneo, caso extremo de fanatismo religioso. Mas, infelizmente, não é. Somente se tomou conhecimento desse tipo de atitude, agora, por causa da ofensiva norte-americana no Afeganistão.

Não fossem as ações militares contra os talibans e os terroristas comandados por Osama Bin Laden, ninguém falaria a respeito. Ou se algum repórter mais ousado falasse, seria a título de registrar, meramente, um “costume exótico”, “curioso”, “pitoresco” até, e não para denunciar estúpida e indefensável forma de violência contra a vontade e a dignidade da mulher.

Ressalte-se que muitos outros povos adotam a mesma prática, e com o mesmo rigor dos fundamentalistas afegãos, sem que o Ocidente (ou seja lá quem for, alheio a essas comunidades), tome ciência, por não terem sobre si o foco das atenções internacionais. A apregoada globalização, como se vê, ainda não chegou à área do direito natural à igualdade, que as mulheres deveriam ter, mas ainda não têm.

Atos implícitos (e até explícitos) de coação, de sujeição feminina existem, em grande profusão, em todos os lugares, bastando apenas que se atente para eles. E isso ocorre quer nos países miseráveis e culturalmente atrasados do chamado Quarto Mundo (da África, Ásia ou América Latina), quer nos tidos e havidos como os mais civilizados, liberais e prósperos do Planeta, como Estados Unidos, Japão e os seletos integrantes da Europa Ocidental.

 

 


Do livro “Guerra dos Sexos”, Pedro J. Bondaczuk

Quando o “inimigo” está em casa

por Pedro J. Bondaczuk

 

mulher casa

A Polícia Federal dos Estados Unidos (FBI) constatou que, naquele país, a cada 18 segundos, uma mulher é espancada por um homem. A situação é tão grave, que levou o então presidente norte-americano, Bill Clinton, em 20 de janeiro de 1995, a citar esse escandaloso dado, e apelar, por conseqüência, à população, para que pusesse fim a esse tipo criminoso de conduta. Ressaltou que se tratava de uma vergonha nacional. E mencionou a questão não em algum pronunciamento informal qualquer, mas no discurso sobre o “Estado da União”.

Trata-se de um balanço anual, na abertura dos trabalhos do Congresso, em todos os anos, feito tradicionalmente pelos presidentes norte-americanos, abordando as conquistas e os problemas a resolver desse país. Mas os Estados Unidos não são os únicos a conviver com esse grave desrespeito aos direitos humanos.

Dados da União Européia, por exemplo, dão conta de que a violência doméstica afeta a pelo menos 4 milhões de mulheres na Europa Ocidental. E esses números podem ser, tranqüilamente, multiplicados por dez, já que, por medo ou por vergonha, apenas cerca de 10% das vítimas denunciam as agressões que sofrem.

No Leste europeu, a situação não é muito diferente. Pelo contrário, tende a ser até mais grave. Na Rússia, para se ter uma idéia, dados oficiais, divulgados pelo governo, registraram, apenas em 1994, 15 mil mortes de mulheres, vítimas de maus tratos dos maridos. Quantas foram as feridas? Nada foi divulgado a respeito. Quantas sofreram lesões leves, simples escoriações, que machucam mais a alma e o amor próprio do que o corpo? Podem ser calculados, sem muito esforço, aos milhões.

Países da África e da Ásia sequer admitem esse tipo de delito, de tão corriqueiros e “normais” (para eles) que são. Não há, por conseguinte, estatísticas a respeito, embora existam sucessivas denúncias de entidades de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional.

Na América Latina, são raros os países que têm estatísticas sobre casos de espancamentos de mulheres em suas casas. E as que existem não são confiáveis, por subestimarem a gravidade e a quantidade desses delitos. Ainda assim, todas as delegações, de todos os países latino-americanos, apresentaram, na IV Conferência Mundial sobre a Mulher em Pequim, a violência doméstica e a pobreza como os maiores problemas existentes na região, o que comprova que o problema é muito mais grave do que os seus respectivos governos ousam admitir.

(Do livro “Guerra dos Sexos – Pedro J. Bondaczuk)