A ERA DA HOMOFOBIA E DO MACHISMO INCONTESTADOS
por Cristina Moreno de Castro
Não, não estamos no século 21. Achava que era 2014? Nahhh… acho que não. Ou me recuso a pensar que, já tão avançados no tempo, ainda sigamos presenciando coisas do século 19.
Pois bem, a verdade é que as duas cenas abaixo foram presenciadas no espaço de dois dias. Ou seja, devem ocorrer aos montes todas as horas. E nos fazem pensar que, depois da era do racismo incontestado, em que um branco se levantava de um banco de ônibus quando o negro se sentava ao lado, hoje vivemos a era da homofobia — e do velho machismo — incontestados. Tão incontestados que as próprias vítimas ou dão de ombros ou reforçam o problema.
Vejam só:
CENA DE HOMOFOBIA
Eu estava no cinema, no último domingo. Fazia muito tempo que não ia ao cinema. Por isso, animada, cheguei antes de todos e fiquei comendo minha pipoquinha, e observando as pessoas que se sentavam depois.
A umas cinco fileiras de mim, à minha frente, havia um casal heterossexual. Uma mulher, mais perto do canto da fileira, e o homem, mais centralizado. Eis que surge outro casal, agora homossexual. Eles param pouco antes da mulher para conferir os números de suas cadeiras. Descobrem que são aquelas ao lado do homem, e dirigem-se para lá.
Passados menos de dois segundos de os dois terem se acomodado, o homem do casal hétero pede para trocar com sua mulher de lugar. Como se tivesse levado um choque: um gay se senta ao seu lado e ele já salta imediatamente do lugar. Pior: sua namorada concorda sem contestar. Os dois trocam de posições, sob os olhares constrangidos de quem assistia à cena — no caso, eu. Os gays, provavelmente calejados com esse tipo de sinal de desprezo, dão de ombros.
CENA DE MACHISMO – esta foi presenciada pela socióloga Neuza Lima, que escreveu o surpreendente relato abaixo:
“Eu estava num bar e, numa mesa próxima à minha, um grupo de amigos estavam bebericando. Na mesa, algumas mulheres e apenas dois homens. Um deles, totalmente alterado pelo álcool, começou a querer beijar todas as mulheres na boca. Uma delas se recusa, e ele a chama de vagabunda. Ela retruca: ‘Vagabunda é sua mãe!’
Ao ouvir isso, ele a agride fisicamente, dando-lhe um tapão nas costas com as duas mãos. Tão forte, que ela caiu na mesa.
E ele sai correndo, ileso.
Ela, aos prantos, começa a se culpar (!). Diz: ‘Isto aconteceu porque eu sou uma mulher sem homem, mulher sem homem não pode sair de casa, pois é vista como mulher de todo mundo, todos podem tirar uma casquinha, independente de sua vontade!’”
Levamos anos para que o racismo começasse a ser contestado. Hoje, qualquer cena de racismo explícita é brutalmente criticada, existem campanhas, processos judiciais etc. E, mesmo assim, o problema ainda está longe de ser eliminado, infelizmente. No caso da homofobia e do machismo, em que a contestação ainda é muito pequena e que as próprias mulheres contribuem para reforçar e retransmitir a parte que as afeta, quanto tempo será que levaremos para nos ver livres desses problemas? Um chute: nunca.
CURRA MILITAR
Uma terceira cena acrescento à narrativa de Cristina Moreno de Castro.
É uma vergonha.É uma covardia.É desumano.É cruel.Quem tem uma polícia dessa não tem medo de cachorro louco. Pode acontecer com qualquer estudante potiguar. Essa curra policial tem que ser investigada. Os safados nus, num nojento troca-troca, abusaram da garota certos de que ficarão impunes. E estão prontos para um novo bacanal. Quem será a próxima vítima? O comandante da PM disse que não sabia de nada. Agora sabe.
Uma estudante de 18 anos registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Plantão da Zona Sul de Natal no qual acusa ter sido estuprada por três policiais militares dentro de um carro da própria corporação. O crime aconteceu em uma das ruas mais movimentadas de Ponta Negra, na Zona Sul da cidade, durante a madrugada do dia 25 de junho, momento em que ela comemorava, juntamente com um uruguaio, a vitória da seleção Celeste sobre a Itália por 1 a 0. A partida foi realizada na Arena das Dunas na tarde do dia anterior, válida ainda pela primeira fase da Copa do Mundo.
O comandante geral da Polícia Militar, coronel Francisco Araújo Silva, disse ao G1 que ainda não foi comunicado oficialmente sobre o caso. Porém, ele orienta que a jovem também registre a queixa na Corregedoria da Secretaria de Segurança Pública.
Consta no registro da ocorrência que a abordagem dos policiais aconteceu na Rua Dr. Manoel Augusto Bezerra de Araújo, mais conhecida como a Rua do Salsa, um dos redutos mais boêmios de Natal. Por estar localizado em uma região turística e concentrar dezenas de bares e restaurantes, o local virou um dos pontos de encontro preferidos pelos milhares de turistas que visitaram Natal durante o período em que a cidade recebeu jogos do Mundial.
No depoimento, a estudante conta que estava acompanhada de um amigo uruguaio quando o carro da polícia se aproximou. Ao serem abordados, os policiais revistaram o estrangeiro e depois o mandaram embora. Em seguida, a estudante foi obrigada a entrar no veículo, onde os policiais alegaram que ela havia feito uso de cocaína. A partir de então, a jovem foi forçada a fazer sexo com os três PMs.
Segundo a Polícia Civil, após registrar a ocorrência, a estudante foi levada ao Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), onde foi submetida a um exame de conjunção carnal. O caso foi repassado para a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), que aguarda o resultado do laudo pericial para a constatação do estupro.
Além do abuso sexual, a estudante também afirma que os policiais a teriam agredido fisicamente e roubado dela a quantia de R$ 30. Os policiais civis que atenderam a jovem na Delegacia de Plantão contam que ela, por estar em estado de choque e bastante nervosa, não conseguiu dar detalhes que pudessem identificar os policiais. Mas a PM deve saber que carro atuava na área. Esses três pervertidos sexuais e ladrões de 30 moedas devem ser punidos exemplarmente.