por El Maria
A ferida é uma dor
E a dor a consciência da ferida
A ferida é uma passagem
A passagem uma fenda
Fenda pra que passe
Que passe
Que passe
Que passe
Com minhas linhas de cerol
Fiz uma cerca que cercam alguns pulsos de até criar
De até vingar
Ou até estilar
Ainda eram minhas quando perdi
Ainda eram linhas quando quebrei
Eram suas quando me enrolei
A face das contas que deixei
O verde das plantas que pintei
Não te falei que as marcas da carne
Juntei
Pra trocar por duas moedas
E colocar nos olhos que calei
—
Aguento as minhas horas corridas
Pra que sejam sentidas como um peso colhido
Lá estão elas
Descem o rio
Cruzam, e descruzam
Elas nunca mais voltam
—
Não engulo
É gula da boca
O céu é perto
É teto do esperto
Avise lá na casa das rochas brancas que o aluguel aumentou!
—
Sabe quando não, e nem?
Sim
Quando o chão rala o ventre
E o ventríloquo
Quando os terminais de prazer doem
E as cachoeiras de sangue matam mil afogados
Mil e mil
Eles derretem
Acaba o aperitivo
E a cerveja me espreita da geladeira
por El Maria
Eu irei abrir suas juntas Rasgar sua pele E sentir a saliva atravessar como um rio nas margens dos dentes
A dor salgada na espinha
Frio gemido do instante capturado Como presa quente e ruidosa
Causar agonia paralisante Fazer as extremidades congelarem e adormecerem O ventre gritar, e contorcer
As entre anjas Fazer mensuras O peito dar saltos no teto Desossar
Abrir a fonte
—
Pedro Almódovar, Carne Trémula
Com minhas linhas de cerol Fiz uma cerca que cercam alguns pulsos de até criar
De até vingar
Ou até estilar
Ainda eram minhas quando perdi
Ainda eram linhas quando quebrei
Eram suas quando me enrolei
A face das contas que deixei O verde das plantas que pintei Não te falei que as marcas da carne
Juntei
Pra trocar por duas moedas
E colocar nos olhos que calei
por Talis Andrade
A alma busca se libertar
do corpo terreno –
terra e água
lama
Lama que apodrece
ao ritmo da lua
que cresce descrece e desaparece
Lama que o tempo resseca
pois tu és pó, e ao pó retornarás
Pó que o vento leva
O sopro que deu
a vida ao corpo
insufla as asas
para o voo eterno
da alma
o vermelho é a cor mais encarnada
pode tirar meus sapatos, amor:
o frio já vem em vindo.
bandeiriana, pensando em sinhá d’amora
minha sala tântrica de dormir
à entrada da praia.
ali levanto, ali me deito:
marias oceânicas, maresias atlânticas.
sombras do futuro, lombras de luanda.
o teto e o pára-peito.
amores rizzíveis
a gente não transou no papicu aquele dia.
todos nos olhavam. perplexos
você só queria uma fotografia.
eu, poesia.
—
Poesia Nina Rizzi
Retrato El Maria
.
Como tu, passarinho,
pensas voar
se tuas asas
foram cortadas?
Passarinho teu canto é belo,
quando ressoa no metal
corta os meus ouvidos.
Quando fores mais passarinho ainda,
me conta historias do tempo de ninho.
Passarinho não voe,
corte os meus ouvidos mais uma vez.
Corte sem dó,
assim como cortaram suas asas,
e o seu ar.
.
—
Tela de Madeline von Foerster
por El Maria
Pega fogo
Solta o sol!
Em um segundo
Fragmento
Resquício…
A luz, veloz
E mais a sua jóia
Não pesa, voa
Reluz com o que nunca
Já é, como se não fosse
Estaria
Ar é faltar
Isso, é parar
E não entender
Pudesse eu no corpo criá-la
Mãe de la luz seria
Ela, luz criada
Mas quem disse que não?