Après le référendum grec, l’équation à plusieurs inconnues

liberation. grécia paixão francesa

Le scrutin de dimanche pose plusieurs questions dont les réponses détermineront le devenir politique, économique et social du pays, et son maintien ou non dans la zone euro. Pourtant, un accord est plus que jamais nécessaire et souhaitable.
La très nette victoire du «non» lors du référendum grec du 5 juillet a une seule conséquence politique certaine : elle empêchera que soient adoptés en l’état les deux projets d’accord rejetés par les Grecs, qui portaient sur le contenu des réformes à mettre en place en contrepartie de l’aide financière extérieure, ainsi que sur l’évolution du poids de la dette de la Grèce. Au delà, elles confrontent les Européens à une équation à plusieurs inconnues, dont la résolution déterminera si la Grèce peut ou non rester membre de la zone euro et, plus globalement, le futur …

Página de Thábatta Lorena

Em respeito a vaidade da dor, enlutei todos os espelhos da casa…

Aceitei as reticências.

 

Thábatta Lorena sobrancelha

Uma das minhas sombrancelhas é mais irônica do que eu.

 

inverno

Os invernos sempre me foram precoces.

***

Em respeito a vaidade da dor, enlutei todos os espelhos da casa… Aceitei as reticências.

***

… São corpos estranhos partilhando do meu suor e da minha saliva. A língua também concebe esquecimentos.

Todas as bocas que usei tinham como pretexto a luxúria da saudade.

impossibilidade

Sempre flertei com as impossibilidades.
O não provável me é afrodisíaco.

***

Causa mais frequente de traumatismos cranianos:
mergulhar fundo em pessoas rasas.

***

Talvez eu ainda esteja imersa neste útero gigante,
trêmulo ao se fazer atemporal em meses expiráveis.
Talvez eu ainda não esteja pronta para abandonar este mundo, fraudulentamente, seguro.
Embora eu esteja prestes.

útero

E quando me olha como quem me arranca as roupas
E quando me toca os dedos como quem me abarca as entranhas
E quando me beija a boca como quem me adentra o corpo
E quando me suga a língua como quem me descortina a alma
E quando me faz poesia como quem me queima a pélvis
E quando… Ah…

doutor

– E então, doutor, irei sobreviver?

 

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QUANDO O HOMEM ENTRA NA MULHER

por Anne Sexton

 

 

 

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Quando o homem
entra na mulher,
como a onda batendo contra a costa,
de novo e de novo,
e a mulher abre a boca com prazer
e os seus dentes brilham
como o alfabeto,
Logos aparece ordenhando uma estrela,
e o homem
dentro da mulher
ata um nó
de modo que nunca
possam voltar a separar-se
e a mulher
sobe a uma flor
e engole o seu caule
e Logos aparece
e solta seus rios.
Este homem,
esta mulher,
com a sua dupla fome,
tentaram atravessar
a cortina de Deus,
e por um instante conseguiram,
ainda que Deus
na Sua perversidade
desate o nó.

 

O beijo (Der Kuss), por Gustav Klimt (1907-08).

Seleta de Thabatta Lorena

 

 

Oração e poesia de Nei Leandro de Castro e Luís Carlos Guimarães

ORAÇÃO
Nei Leandro de Castro

.

Dai-me, Senhor, essa paz suave
que emana da mulher amada,
rio com temperatura de lã
onde aqueço a minha solidão.
Dai-me, Senhor, a coragem de proclamar
a infinita ternura do meu silêncio
quando olho para a mulher amada
no abandono do seu sono.
Dai-me, Senhor, o recato dos guardiães
para que eu silencie sobre todas as doces loucuras
da mulher amada.
Dai-me, Senhor, a mulher amada
subitamente surgida nos ícones da poesia.

 

Nei

Nei

 

SOLO DESAFINADO EM CINCO CORDAS
PARA NEI LEANDO DE CASTRO
da Luís Carlos Guimarães

.

Quero o poema tão claro
nas coisas que pretende dizer,
que na viagem da noite
pelos caminhos da madrugada,
ao falar na manhã que vai chegar
todos vejam o dia acabando de nascer.

E quando o poema fale de amizade,
saibam de que amigo quero falar.
Amizade que existe e para existir
tem trutas atravessadas na garganta,
contradições, mágoas, desencantos
e não se cansa e sempre recomeça.

Não descompassou o coração nas alturas
quando viajou mundo pela mão do amigo.
Solo de pandeiro, cuíca e violão,
amizade que distribui o pão
e a mostarda da alegria
e bebe tristeza se o vinho faltar.

Amizade de lágrimas repartidas
num velho filme de Frank Capra.
Antenas ligadas no cio da noite,
no bar Acácia descobriu a poesia
no fogo brando do primeiro conhaque,
no ouro amargo de uma cerveja Brahma

Parentesco maior que o do sangue,
a amizade existe, sempre existirá.
Como quero o poema tão claro
nas coisas que pretende dizer,
ao falar de amizade todos saibam
de que amigo quero falar.

 

CASAMENTO E O AMOR PSICÓRDICO DE ADÉLIA PRADO

Casamento
por Adélia Prado

.

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

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O AMOR PSICÓRDICO DE ADÉLIA
por Talis Andrade

.

Continha teu amor o ar tristonho
das cousas rotineiras
Um par de fronhas antigas
onde você bordou nossos nomes
com pontos cheios de suspiros

Querias o amor eterno
meu eu prisioneiro
os pés acorrentados
as algemas das almas gêmeas

Havias planejado
envelhecermos juntos
nossos corpos enterrados juntos
na paz dos campos gerais
à sombra de um umbuzeiro
árvore sagrada
sempre verdejante

Eu queria o velo de ouro
andar outras terras outros mares
a carteira de aventureiro
o andejar vagamundo o amor
inconsequente e passageiro

Bruna Lombardi: “…E eu molhei os lábios sensualmente e pensei por que não?”

POR QUE NÃO?
por Bruna Lombardi

eu olhei e pensei por que não
dezesseis anos mais velho, seguro
homem de opinião e nenhum caráter
o velho truque do maduro
um ator na vida, e eu pensei por que não
vai ver é um menino com medo
vai ver se atrapalha
não, acho que não
deve ser um pouco canalha como todos são
um cruzar de pernas, um olhar grave
não sei direito o que se faz pra ser querida
uma posição mais provocante
uma atitude mais desinibida
logo eu que morro de vergonha
de tentar ser um pouco atrevida
logo eu
que o que cometo em sonhos
seria incapaz de cometer na vida

mas pensei por que não o estímulo de uma aventura
o prazer de ceder à tentação
é tão raro acontecer esse desejo, dura
tão pouco isso
a novidade
e depois não tem o compromisso da paixão

come e depois espalha pra cidade
aquela coisa machista insuportável
estilo gosta de levar vantagem
— chega de pensar bobagem —
não é possível que ele seja assim
ele é sensível, inteligente, um homem que chora
só falta agora um sopro de coragem, uma insinuação

e se ele for um sujeito compulsivo
maníaco depressivo, do tipo que atormenta
astral anos sessenta
e eu me arrepender profundamente
— o ruim do porre é a ressaca —
se for um cara babaca desses dose pra analista
se ainda for comunista do antigo pecezão
não, claro que não
ele é brilhante, contemporâneo, atuante
ativo da linha de frente
e eu molhei os lábios sensualmente
e pensei por que não?

 

 

bruna_lombardi

 

O UIVO
por Talis Andrade

Todas às vezes
que vejo Bruna
salivo como um cão
lascivo de Pavlov

Todas às vezes
que vejo
a foto nua de Bruna
uivo como um cão
uiva para a lua

 

 

__

Poeta José Aloise Bahiaconciso. preciso. uivante. amante. com um ar e sabor de bruna… nota 10… gostei muito… 

 

Clarice Lispector e Ferreira Gullar

 

MEU POETA JORNALISTA

.

Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais…

 


Esta poesia é para ser lida de baixo para cima.

A autoria continua desconhecida, embora circule pela internete com a assinatura de Clarice Lispector.

Apesar de não ter escrito versos, Clarice Lispector publicou crônicas e contos que parecem poemas em prosa.

O importante é lembrar Clarice.

Clarice Lispector © Bluma Wainer

 

MORTE DE CLARICE LISPECTOR
por Ferreira Gullar

.

Enquanto te enterravam no cemitério judeu
de S. Francisco Xavier
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindo ainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção do Botafogo
E as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravam alegremente
que não dependem de nós

Luiz Alberto Machado e Meimei Corrêa

SANHA
por Luiz Alberto Machado

luiz alberto machado 4

Não há valia para apreço vale nada
Não há vergonha para cara lavada
Toda lisura que se espreme para viver
E que viver

Cadê a honra para quem não tem mais nada
Não há guarida para alma penada
Toda usura que sublima o querer
E que poder

Mandar não seja nobre ter rigor assim
Pisar, varrer da frente algoz e querubim
Quem doma a sanha não sabe dormir
E mais se ganha para coibir
Usar do relho para mais pesar
Suor vermelho vibra no cantar

Não há mais lance para ser carta marcada
A dura sorte já está lançada
Toda estatura que se arrasta pelo chão
Tal qual anão

Há riso oculto para ser face velada
A traição devora a madrugada
Toda espessura que comove o histrião
No coração

Privar da sede o pote de quem quer sorrir
Traçar a sina o rito de quem vai partir
Quem doma a sanha não sabe dormir
E mais se ganha para coibir
Usar do relho para mais pesar
Suor vermelho vibra no cantar

 

A SAUDADE EM SEU LUGAR
por Meimei Corrêa

Para Luiz Alberto

Se a saudade bate à porta eu me pego
Triste… Por que veio em seu lugar?
E à dor que domina muito me entrego,
Longe de você não dá pra ficar…

Não, não mais consigo, amor, me conter…
Explode o silêncio no coração;
Grita o sentimento e todo o querer…
Espalho essas rimas por todo o chão.

Se com ela eu tenho que conviver,
Não se assuste com o meu padecer
Que vai devorá-lo quando chegar,

Em forma de beijos e mil carícias.
Um rio de amor e um mar de delícias
Em nós exercendo a força de amar…

A voz de Luiz Alberto Machado

MINHA VOZ
de Luiz Alberto Machado

Quando minha voz é coragem de amar
No ultraje dos desencontros
E eu sou navio com rota esquecida
E naufrágios muitos
Quando um nublado olhar
Pousa em meu rio
É presságio que paira
No ventre da paixão
Quando minha voz é torrente de dor
No exagero sombrio de uma canção
Não é nada, é tempestade que passou
E deixou danos
Quando minha voz é a coragem de amar
Não é a sombra de um vendaval
É a sujeição de um eterno pavio
Que nunca se apagará.

 

POR ONDE CAMINHARMOS
de Meimei Corrêa

Luiz Alberto Machado 3

(Pra você, amado Luiz Alberto)

A voz, o riso, o canto
Cada dia que passa, meu encanto
Teu rastro me caça, tu me abraças
No dia que se manifesta
Na noite que em ti sou festa
És rio em meu mar
Sou mar, luar, sou teu amar
És meu florescer, viver
Sonho das madrugadas
Real existir
E vivo a sorrir pelos cantos
Mas também sou lágrimas, sou pranto
Se a saudade toma o teu lugar
És lenha na minha fogueira
Sou brasa na tua lareira
Somos par, sonhar, amar
Caminho a todo instante em tua direção
E tu me vens de encontro, dá-me tuas mãos
E pelas estradas da vida seguimos
Estou em ti, estás em mim
Sorrimos, vivemos, existimos
(Um no outro, por onde caminharmos).