O desabafo de duas alunas de uma escola em greve

Elas saíram em passeata para protestar pelo descaso do governo de São Paulo. E aqui explicam por que apoiam o movimento

Ana (à esq) e Gabriela: ‘Os alunos também estão na luta’

Ana (à esq) e Gabriela: ‘Os alunos também estão na luta’

Ana Caroline Yukorvic, de 16 anos, estuda na Escola Estadual Professor Manuel Ciridião Buarque há um ano e seis meses. Cursa o 2º ano do ensino médio.

Gabriela de Oliveira Gregório, de 17, está na mesma escola há dois anos e seis meses, no último ano do ensino médio.

Desde o dia 13 de março estão sem aulas. Podiam estar criticando a paralisação que pressiona o governo tucano de Geraldo Alckmin, a perda de conteúdo, o prejuízo que terão nas suas formações.

Em vez disso, publicaram um texto de apoio aos professores da rede estadual paulista. Relatam a tragédia a que são obrigadas a conviver dentro dos muros das escolas. Professores de sociologia dando aula de física, mais de 3.000 salas fechadas, falta de materiais, uma situação que vem ocorrendo no Estado mais rico do país.

Apoio à greve dos professores

Por Ana Caroline Yukorvic e Gabriela Gregório

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Na penúltima semana de maio, os alunos da Escola Estadual Professor Manuel Ciridião Buarque organizaram dois atos a favor da greve dos professores. O intuito não é apenas indicar o apoio, mas mostrar a população do estado de São Paulo que a greve existe sim! Nossa luta vai muito além do que a mídia mostra.

Nós, alunos, precisamos alardear que estamos frequentando a escola para assistir cerca de duas aulas e que inclusive há escolas que estão paralisadas por conta dos professores grevistas.

Vemos que é no mínimo curioso o governo do estado de São Paulo implantar um projeto que diz auxiliar o professor em graduação apenas durante o período de greve. É muito útil para esconder a atual situação colocar professores que ainda não concluíram seus cursos numa sala de aula. Afinal, se o seu filho está na escola durante o período completo, ele deve estar tendo aula. “Se o governador afirma não haver greve e meu filho está na escola o dia todo, eu posso confiar na informação.”

Estamos sendo oprimidos e pressionados pela direção escolar, ameaçados com informações incertas e irreais relacionadas à reposição das aulas e o conteúdo das mesmas. A gestão não sente vergonha em confundir e em assediar os alunos para que eles sejam impossibilitados de agir contra. Jogam em nossas gargantas professores auxiliares e substitutos e dizem que estamos perdendo conteúdo e ficando com falta, uma vez que tais aulas não serão repostas.

Não concordamos! Vemos que é inaceitável um professor de sociologia “dar aula” de Física. Vemos também que o simples ato de marcar presença numa sala de aula não é o mesmo que lecionar. Não entendemos como aula de Física um texto qualquer retirado de um livro que nem sequer se relaciona com o conteúdo apresentado no início do bimestre. Não aceitamos a aula de um professor que não se dá o trabalho de seguir nosso conteúdo e ainda remove nossas chances de recuperá-lo depois, além de retirar o pagamento de seu colega que está lutando por direitos que o abrangem.

Os direitos de professores e alunos estão diretamente interligados. Uma sala lotada não afeta apenas o professor. Defendemos a reabertura das 3.000 salas de aula fechadas por ordem do governo Alckmin e a redistribuição dentro da escola para que as salas contenham no máximo trinta alunos. Como cerca de quarenta e cinco alunos conseguem prestar atenção no conteúdo apresentado por um professor? Alunos da rede pública crescem ouvindo as seguintes frases: ‘Gente, faz silêncio aí atrás. Vocês são quarenta e eu sou apenas um. Não posso contra vocês.’ Nada disso é novidade para nós. Não é raro o professor estar concentrado explicando o conteúdo e ser interrompido pela maioria da sala de aula pedindo para ligar o ventilador num dia de verão, e o professor tentar explicar o porquê não pode. Não é raro um aluno estar passando mal neste mesmo dia por conta do calor, precisar de água e não a encontrar na escola. E quando encontra, ela vem suja, com barro. Não é raro um aluno pedir para ir ao banheiro e não encontrar papel higiênico, porta nas cabines, água e sabonete. Não é raro o professor se encontrar falando com as paredes.

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Se nessas situações já é difícil se concentrar, adicione alunos correndo pelos corredores atrás de carteiras e se revoltando por não ter onde se sentar. Adicione professores se atrasando cerca de dez minutos por estarem procurando por materiais essenciais como giz, e tendo que procurar um jeito de explicar aos alunos que aquela prova que havia sido marcada para três semanas atrás e que não havia sido aplicada pela falta de tinta na impressora ou alguma situação similar terá que ser feita à mão porque a impressora quebrou e o mesmo está sem condições de imprimir com o seu próprio dinheiro. O dinheiro utilizado para esse tipo de recurso não vem do governo. Se a escola o quiser, deve promover eventos para arrecadar a verba e deixar para a direção administrar.

Defendemos a valorização da hora-atividade. É inaceitável ver um senador tal como José Serra falar que a hora atividade, que é uma aula de planejamento e de correção de provas e atividades, é uma hora não trabalhada. É um absurdo o professor ganhar tão pouco para dar aula em no mínimo dois períodos, dormir o mínimo e perder seu final de semana avaliando seus alunos para ganhar cerca de 5% de seu salário por isso. Valor este que muito provavelmente será revertido na escola para poder aplicar as provas do bimestre seguinte.

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E como um ser humano consegue se manter de pé por cerca de doze horas sem se alimentar corretamente? O governo espera que no estado de São Paulo seja possível fazer uma refeição com R$ 8 e apenas se o seu salário for baixo o suficiente, caso contrário nem a isso você tem direito. Além disso, existem escolas que proíbem o professor de se alimentar dentro de suas instalações, isto, é claro, quando possuem alimento. Com a terceirização as escolas perderam vários funcionários, que foram remanejados em descaso, e por dias abriram sem funcionários para sequer fazer comida.

É inadmissível ver nossos representantes tratando nossa educação com tanto descaso. Pela valorização de nossos mestres, por direitos humanos e por uma escola pública digna de todos: os alunos também estão na luta.

Alunos da escola Professor Manuel Ciridião Buarque protestam em favor dos professores em greve — Foto: Victor Cosi

Alunos da escola Professor Manuel Ciridião Buarque protestam em favor dos professores em greve — Foto: Victor Cosi

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Decadência da Faculdade de Medicina do Governo de São Paulo: Bacanais, tráfico de mulheres, de drogas, de álcool, curra, estupro, filme pornô e doenças sexuais

Violência sexual, castigos físicos e preconceito na Faculdade de Medicina da USP

por Tatiana Merlino, Igor Ojeda, Caio Palazzo/Vídeos e Rafael Bonifácio/Edição de vídeos

 

Fachada da Faculdade de Medicina da USP

Fachada da Faculdade de Medicina da USP

 

Muitas das garotas têm menos de 20 anos. A maior parte delas é branca, de família de classe A ou B. Estão felizes por realizar um sonho. Apreensivas pelos desafios que enfrentarão nos anos seguintes. Assustadas com o novo ambiente e os rostos desconhecidos.

São reunidas em círculo. Em volta, outro círculo, de garotos igualmente brancos, igualmente nascidos em famílias ricas ou de classe média alta. Mas são mais velhos. Intimidadores. Ordenam que todas gritem “bu”. Elas obedecem:

– Bu! Bu! Bu! Bu! Bu! Bu!

Um coro alto de vozes masculinas, a dos garotos em volta das garotas, abafa as vozes femininas e ressoa pelo ambiente:

– Buceta! Buceta! Buceta eu como a seco! No cu eu passo cuspe! Medicina é só na USP!

É assim que calouras da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) são recepcionadas em seu primeiro dia dessa nova fase da vida. Todos os anos. É uma das muitas tradições da faculdade de ciências médicas considerada a melhor do país. “De elite.” Para as mulheres, no entanto, grande parte dessas tradições se traduz em opressão permanente, que traz como consequência extrema casos graves de abusos sexuais, incluindo estupros, no interior do ambiente universitário. Casos sobre os quais recai um pesado manto de silêncio que impede que se tome providências a respeito. É fundamental que se preserve o bom nome da instituição.

Ou melhor: das instituições, no plural. Pois a FMUSP abriga entidades tão tradicionais que elas próprias parecem ser autossuficientes. É o caso da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC), ou simplesmente Atlética, e do Show Medicina, que reúne alunos para uma apresentação teatral anual e que recentemente virou notícia quando estudantes que dele fazem parte pintaram um anúncio de sua 72ª edição sobre um grafite na avenida Rebouças, em São Paulo.

Violências sexuais, trotes violentos, castigos físicos, humilhações, machismo, racismo e discriminação social. A Ponte reuniu inúmeras denúncias de violações sistemáticas aos direitos humanos ocorridas nessas instituições, quando não incentivadas ou promovidas por elas. Comumente varridos para debaixo do tapete, tais abusos passam atualmente por uma inédita publicização, fruto da luta das vítimas e de coletivos de direitos humanos da faculdade. Tanto que hoje são alvos de investigação por parte do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e objetos de uma histórica comissão interna formada por professores com o objetivo de apurá-los. As denúncias também chegaram à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), que realizará uma audiência pública sobre o tema nesta terça, 11/11.

Com esta reportagem, a Ponte dá início a uma série especial sobre o assunto. Tradição, hierarquia, segredo, ritualismo, elitismo, regras rígidas e punições são as palavras-chave. Os relatos são impactantes.

 

Abusos sexuais: a naturalização

Na segunda-feira à tarde da semana de recepção aos calouros, acontece o primeiro evento do ano no clube da Atlética, no bairro paulistano de Pinheiros. É a “Espumada”. Os estudantes de Medicina festejam com churrasco e bebidas o início do novo semestre. Numa quadra poliesportiva, é formada uma espécie de piscina cheia de espuma, que chega a cobrir a cabeça dos presentes. Garotas e garotos que lá entram mal veem um ao outro. Mas são elas as mais vulneráveis. Mãos masculinas anônimas apalpam tudo que encontram pela frente: seios, bundas, vaginas. “A caloura não sabe como é a festa. Qualquer menina que entra na espuma perde o controle sobre o corpo. É mão de todo lado, sem você saber quem é. O menino te agarra, te beija. E se você tenta fazer algo, a resposta é que se você está na espuma é porque quer, está lá para isso. Rola uma pressão. Se está lá é porque está topando qualquer negócio”, relata uma das alunas, que não quis se identificar. “Os veteranos abusam do poder que têm sobre as meninas, que estão vulneráveis, não sabem o que está acontecendo. Muitas ficam bêbadas. Abusam mesmo delas.”

“Muitos veteranos usam o fato de você estar numa situação vulnerável e forçam o beijo, o sexo. Às vezes a menina está desmaiada e ele tira a roupa dela.”

Segundo a estudante Marina Pikman, do coletivo feminista Geni, formado no final de 2013 dentro da FMUSP, é comum que as alunas reclamem do constrangimento a que são submetidas logo quando chegam à faculdade. “Há muita ênfase na hierarquia, em tirar a identidade do calouro, falar: ‘você não sabe de nada, esquece toda a sua vida pregressa que e a gente vai te ensinar’. Com as mulheres, isso acontece de forma machista, os veteranos acham que têm livre acesso às calouras”, diz.

 

 

Ana Luísa Cunha, também integrante do Geni, lembra que quando o grupo foi fundado começaram a chegar vários relatos de abusos sofridos na semana de recepção. “Você chega e não sabe o que vai acontecer. Quer se enturmar, está na euforia e os caras se aproveitam, muitos veteranos usam o fato de você estar numa situação vulnerável e forçam o beijo, o sexo. Às vezes a menina está desmaiada e ele tira a roupa dela”, conta.

Mas os casos de abusos não ocorrem apenas na primeira semana ou na “Espumada”. Há relatos de violências sexuais em outras festas, tanto promovidas pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (Caoc), como as cervejadas, quanto pela mesma Atlética, a exemplo das tradicionalíssimas “Carecas no Bosque” e “Fantasias no Bosque”, realizadas uma em cada semestre. De acordo com o Geni, são pelo menos 8 casos de assédios graves nos últimos 3 anos. Marina avalia, no entanto, que esse é um número bem menor do que a realidade, já que muitas estudantes não denunciam as violências sofridas por vergonha e medo de serem hostilizadas.

Cartaz de festa da Faculdade de Medicina da USP

Cartaz de festa da Faculdade de Medicina da USP. Na gíria universitária: Carecas (sexo masculino) no Bosque (sexo feminino)

Das festas que acontecem na FMUSP, a “Carecas no Bosque” e a “Fantasias no Bosque” são as que criam o ambiente mais “propício” para abusos. A começar pelos cartazes de divulgação, quase sempre com destaque a mulheres cheias de curvas, trajes mínimos e olhares provocantes. Os preços dos convites são diferenciados. Em geral, mulheres pagam quase a metade do que os homens. “Todo o marketing é baseado no fato de que lá haverá muitas mulheres e que vai ter sexo à vontade. A USP inteira sabe que tanto a ‘Carecas’ quanto a ‘Fantasias’ são para isso, para ir lá e transar”, explica a aluna que optou por permanecer anônima. O problema, segundo ela, não é a questão moral, mas o ambiente de machismo extremo que cria a impressão de que qualquer garota presente está disponível.

A festa acontece no campo de futebol da Atlética. As equipes masculinas de cada modalidade esportiva erguem suas barracas para vender bebidas e arrecadar recursos. Atrás destas são montados os “cafofos”: estruturas fechadas com colchões ou almofadas apropriadas para se levar garotas. Segundo relatos, uma das modalidades costuma contratar prostitutas, cuja tarefa é agradar os presentes com strip teases e “body shots” de tequila nos seios, além de deixar o corpo à mercê das apalpadelas. Na barraca de outra modalidade, filmes pornôs são projetados. Outra equipe batiza seu espaço de “matadouro”.

“Nessas festas, minha impressão é que as meninas são um pedaço de carne na prateleira.”

Em torno do campo de futebol, há um pequeno bosque, para onde os casais vão para transar. Seguranças contratados pela organização vigiam a entrada. “Nessas festas, minha impressão é que as meninas são um pedaço de carne na prateleira. A mentalidade dos meninos é que elas estão disponíveis para transar. Chegam de maneira agressiva, ao ponto de vários caras tentarem te puxar para o bosque. E, na minha percepção, se você entra no cafofo você não sai, vai ter de transar com o cara”, opina a estudante. “Ter” de transar. Marina, do coletivo Geni, revela que já ouviu muitas histórias de garotas assediadas e estupradas entre as árvores. “Houve uma vez em que meu namorado ouviu gritos e foi socorrer. Um cara que ele conhecia tinha rasgado a calcinha da menina contra a vontade dela”, conta.

“Há estupros de meninas inconscientes, casos de colocar ‘boa noite Cinderela’ na bebida delas. É algo sistemático porque acontece em todos os anos”, diz professora da FFLCH

Heloísa Buarque de Almeida, coordenadora do programa USP Diversidade e professora de estudos de gênero na antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), pesquisa a ocorrência de violência sexual, machismo, homofobia e trotes violentos na FMUSP desde que foi procurada pelos coletivos da faculdade, há alguns meses. “As violências se tornam rituais que se repetem a partir de uma ideia de tradição que querem manter, que não é exatamente do curso, mas uma tradição de algumas festas e instituições que se torna escandalosa”, analisa. “Há estupros de meninas inconscientes, casos de colocar ‘boa noite Cinderela’ na bebida delas. É algo sistemático porque acontece em todos os anos. A festa ‘Carecas no Bosque’ é tradicional entre aspas. Eles consideram tradicional que tenha prostitutas lá dentro, e no meio disso algumas meninas são estupradas porque estão bêbadas.”

 

‘Você estava muito bêbada’

 

Cartaz de festa dos alunos da Medicina da USP

Cartaz de festa dos alunos da Medicina da USP

Foi na “Carecas no Bosque” de 2011 que a então caloura Doralice* foi estuprada no “cafofo” do judô. Ela estava desacordada. “Demorei para saber o que tinha acontecido, porque eu retomei a consciência apenas quando estava no hospital. Não me falaram direito, só: ‘acho que você foi abusada’”, diz ela, em depoimento à Ponte. Posteriormente, juntando os relatos que foram surgindo, muitos por insistência dela, a estudante pôde entender melhor o que ocorreu após as 4 horas da madrugada, quando ainda estava consciente e havia ido tomar uma bebida na barraca do judô – depois disso, não se lembra de mais de nada. De acordo com o que lhe contaram, Doralice ficou com um dos garotos da modalidade, que a levou ao cafofo, onde a deixou. Quando ele voltou, viu-a desacordada com um homem sobre ela, estuprando-a.

O que se seguiu, segundo a aluna, foi uma série de tentativas, por parte da Atlética e da diretoria da faculdade, de abafar o caso. No Hospital das Clínicas, para onde foi levada por diretores da entidade esportiva, não foram feitos exame de corpo de delito, para se comprovar a violência, ou toxicológico, para identificar uma possível adulteração em sua bebida. No entanto, a caloura começou a tomar medicamentos antirretrovirais como prevenção ao HIV.

“Eles falaram que eu não tinha como provar, que não poderia dizer que havia sido estuprada porque estava muito bêbada.”

Apesar da insistência, os responsáveis pela Atlética demoraram a lhe explicar exatamente o que tinha acontecido. Foi somente 2 dias depois, quando teve a confirmação de que havia existido penetração, que Doralice decidiu denunciar o caso. Mas foi sistematicamente desencorajada pelos diretores da Atlética. “Eles falaram que eu não tinha como provar, que não poderia dizer que havia sido estuprada porque estava muito bêbada.”

Mesmo assim, a estudante fez um Boletim de Ocorrência na Delegacia da Mulher. Algum tempo depois, a delegada apontou um funcionário terceirizado da faculdade como o agressor. “Até hoje, quando o inquérito policial está sendo finalizado, eu descubro coisas sobre meu caso que não sabia, por exemplo, que a diretoria da Atlética não permitiu que a polícia entrasse no local da festa”, conta.

As pessoas que ela procurava para testemunhar se mostravam ariscas. Falavam que deveria “tocar a vida para frente”. “Foi feito um pacto de silêncio, como tudo é tratado dentro da Faculdade de Medicina. Meu namorado era mais velho e falavam para ele que a história não poderia vazar, que iria destruir a imagem da Atlética, que iria destruir a festa”, revela. Ela conta, ainda, que a diretoria da FMUSP tomou conhecimento do caso, mas não fez nada a respeito.

“Abaixou minha calça, enfiou o dedo, me beijou à força.”

O estupro no “Carecas no Bosque” de 2011 não foi a primeira nem a última violência sexual sofrida por Doralice. No início daquele mesmo ano, durante a semana de recepção, ela foi abusada por um dos diretores da Atlética, que inclusive faria parte do grupo que a levaria ao hospital alguns meses depois. Numa tarde de bebedeira, ele a levou a uma sala escura da equipe de atletismo e a jogou no chão. “Abaixou minha calça, enfiou o dedo, me beijou à força. Mas teve uma hora em que ele parou”, relata Doralice. “Depois ele fez isso com outras meninas, uma delas da ‘panela’ dele, outra, uma colega minha de turma. Ele vê que a menina está bêbada e não conseguindo oferecer muita resistência.” Nos anos posteriores ao estupro, outro diretor da Atlética aproveitou duas “Espumadas” para passar a mão em seu corpo. Segundo a aluna, ele igualmente costuma repetir o abuso com outras estudantes.

 

‘Eu sei que você quer, deixa de ser chata’

Em novembro de 2013, a estudante de Medicina Leandra* sofreu abuso sexual de 2 alunos durante uma cervejada do sexto ano realizada no Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. Eles ficaram insistindo para que ela fosse até o estacionamento ao lado. “Vamos para meu carro que eu vou dar bebida para você”, diziam.

“Eu falava que não queria, eles insistiam para eu ir. Me puxavam, mas eu não queria ficar com eles. Nesse vai e vem acabamos chegando ao carro deles. Lá eles começaram a me beijar, enfiar a mão dentro da minha roupa, dentro da minha calça. Queriam que eu entrasse no carro, abriram a porta, e eu comecei a gritar, a fazer um escândalo, dizendo que não queria. Tentava sair e eles impediam a minha passagem. Me empurravam, e um deles começou a gritar comigo: ‘para de gritar, para de gritar!’. Eu dizia que não queria os dois e um deles respondia: ‘você quer sim, eu sei que você quer, deixa de ser chata’. E os dois me beijavam, passavam a mão em tudo, não me deixavam sair. Nisso uma menina que estava no estacionamento brigando com o namorado viu o que aconteceu, deu um grito e me chamou. Então consegui sair.”

 

 

A partir de então, Leandra iniciou uma epopeia para que a violência sofrida por ela fosse reconhecida. Fez um Boletim de Ocorrência e denunciou o caso à diretoria da faculdade. Uma sindicância formada por 4 professores foi criada, mas apenas a estudante e um dos agressores foram ouvidos, já que o outro estava viajando. Em abril de 2014, a conclusão divulgada foi que a relação havia sido consensual, e que o problema havia sido o consumo de álcool. “Para mim, essa decisão tira a culpa do agressor e a joga na vítima, porque ela estava bêbada. Chegaram à conclusão de que foi consensual só com meu depoimento e de um dos garotos”, reclama.

O forte corporativismo existente no ambiente universitário da Faculdade de Medicina da USP, que havia se manifestado no caso de Doralice, voltou a “atacar” no caso Leandra. A vítima, e não os agressores, passou a ser hostilizada sistematicamente desde então. “Eu passo no corredor, as pessoas cochicham, apontam, principalmente os amigos dos caras. Eu mesma ouvi dizerem: ‘ah, aquela menina sai com todo mundo, logo ela vai reclamar disso? Está querendo aparecer’”. A preocupação maior é com a imagem da faculdade. Até mesmo um dos que abusaram de Leandra foi tirar satisfação. Ameaçou processá-la por difamação.

“Quando fui denunciar, achei que o meu era um caso isolado, mas descobri que havia mais.”

Uma das instâncias procuradas por ela foi o Núcleo de Estudos em Gênero, Saúde e Sexualidade (Negss), grupo de alunos criado no início de 2013. “Quando fui denunciar, achei que o meu era um caso isolado, mas descobri que havia mais”, diz. Foi divulgada então uma nota sobre o ocorrido no Facebook, gerando grande repercussão, em sua maioria, negativa. O texto foi publicado na página mantida nessa rede social pelo Grupo Pinheiros, do qual participam alunos e ex-alunos da FMUSP. A reação de seus membros foi violenta, diz Marina Pikman, do Geni. “Temos um monte de prints com postagens supermachistas, homofóbicas, classistas, xenófobas… tirando sarro do que aconteceu. Foi bem difícil para ela [Leandra]. Ela é ridicularizada nas redes sociais.”

Questionada pela reportagem, a diretoria do Centro Acadêmico afirmou que ofereceu apoio e orientação a Leandra e a incentivou a registrar um Boletim de Ocorrência. Disse, ainda, que solicitou à FMUSP a instauração de uma sindicância administrativa, “uma vez reconhecida a dificuldade e inadequação do CAOC de realizar tal apuração”. Todas as respostas enviadas pelo Caoc à Ponte podem ser lidas aqui.

A estudante, no entanto, nega. Ela diz ter procurado a segurança da faculdade, que a levou até ao chefe da graduação. Este a teria orientado a fazer o BO. “Os diretores do Caoc disseram que não poderiam me ajudar pelo princípio da isonomia em relação aos alunos. Só após a pressão do Negss eles enviaram um ofício à diretoria da faculdade pedindo abertura de sindicância.”

 

Modus operandi da violência

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Ao Geni chegaram outros exemplos de abusos semelhantes. Como o de uma aluna violentada por um ficante. Ou de uma caloura que “apagou” numa festa “Fantasias no Bosque” e acordou numa enfermaria às sete da manhã sem sapato e calcinha. Ou o estupro de uma estudante de Enfermagem por um aluno de Medicina na Casa do Estudante, a moradia estudantil do Hospital das Clínicas. Ou até de um aluno estuprado por um veterano numa “Espumada”.

“No começo elas nem se dão conta de que sofreram assédio. Elas acham que estavam muito bêbadas, que não resistiram o suficiente. Depois, quando se dão conta, acham que passou muito tempo, que as pessoas relativizarão o ocorrido.”

Nenhum desses abusos, no entanto, foi denunciado, com a exceção dos de Doralice e Leandra. “É claro que não são casos isolados, é claro que há uma cultura institucionalizada de violência, impunidade, desamparo das vítimas”, avalia Marina. Ela explica que se pode até dizer que há um modus operandi. “A maioria dessas violências acontece em festas, em ambientes nos quais a menina está bastante alcoolizada. Às vezes está inconsciente, às vezes consciente, mas ofereceu resistência à agressão, e não foi respeitada pelo menino. E ela se sente culpada por não ter conseguido se defender. E há a lógica machista de considerar sempre que foi consensual.”

A partir daí, inicia-se uma luta para decidir denunciar o assédio e/ou buscar apoio. As vítimas, porém, esbarram nas próprias dúvidas e na falta de mecanismos institucionais de acolhimento. “No começo elas nem se dão conta de que sofreram assédio. Elas acham que estavam muito bêbadas, que não resistiram o suficiente. Depois, quando se dão conta, acham que passou muito tempo, que as pessoas relativizarão o ocorrido”, analisa Marina, para quem seria fundamental uma instância que amparasse as alunas que sofreram violência. “Mesmo que não tenha havido denúncia, a maioria procurou alguma ajuda institucional, porque foi fazer o tratamento antirretroviral.”

Ainda que as estudantes decidam ou cogitem denunciar, devem enfrentar mais obstáculos: o pacto de silêncio e abafamento em relação aos escândalos, e a transformação das vítimas em algozes. “As meninas são ridicularizadas, estigmatizadas como loucas que só querem chamar a atenção, que estão inventando coisas, manchando a imagem das instituições da faculdade”, pontua a integrante do coletivo Geni.

Segundo Marina, o grupo chegou a se reunir com a diretoria da faculdade e da Atlética para pressionar por medidas que diminuíssem a vulnerabilidade das alunas nas festas promovidas pela entidade, mas seus diretores responderam que não era possível tomar providências antes de uma decisão judicial. “As meninas não reclamam muito, fica velado, pois ninguém tem coragem de criticar a Atlética, porque é uma instituição muito forte. Existe um corporativismo muito grande envolvendo a Atlética, ou o Show Medicina. Você vai ser perseguido se reclamar, se der a cara para bater”, lamenta Leandra. Foi justamente a violação sofrida por ela o estopim da criação do Geni. “Meninas vinham contar histórias de estupro por colegas que nunca haviam denunciado porque tinham medo, porque não viam canais de denúncia antes”, explica Marina.

No dia em que foram anunciadas as conclusões da sindicância sobre o caso de Leandra, as estudantes realizaram um ruidoso protesto criticando a decisão e denunciando outros abusos. Foi o suficiente para que a faculdade decidisse formar uma comissão para apurar os inúmeros exemplos de opressão em seu interior. Instalado em março deste ano, o grupo formado por professores da FMUSP vem ouvindo relatos de violações sexuais, físicas, morais, machistas e homofóbicas, entre outras. O relatório elaborado a partir dessa apuração deve ser divulgado nos próximos dias.

Enquanto isso, após a publicação de matérias na imprensa sobre os casos de Doralice e Leandra, a edição deste ano da festa “Fantasias no Bosque” foi cancelada.

A Ponte solicitou uma entrevista com o diretor da FMUSP José Otávio Auler, mas a assessoria de imprensa da faculdade informou que ele se encontra em um simpósio fora do país e enviou a seguinte nota:

“A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) se coloca de maneira antagônica a qualquer forma de violência e discriminação (com base em etnia, religião, orientação sexual, social) e tem se empenhado em aprimorar seus mecanismos de prevenção destes tipos de casos, apuração de denúncias e acolhimento das vítimas. A Cultura da Instituição é baseada na tolerância e respeito mútuos, valores que são passados aos seus alunos. Com o intuito de fortalecer esta cultura, foi formada recentemente, inclusive, uma Comissão com docentes, alunos e funcionários com o objetivo de propor ações de caráter resolutivo quanto aos problemas relacionados às questões de violência, preconceito e de consumo de álcool e drogas. Em relação às denúncias envolvendo membros da FMUSP ou de casos ocorridos em suas dependências, foram abertas sindicâncias para apuração. Em caso de comprovação, a Faculdade adota as punições disciplinares de acordo com o Código de Ética da USP.”

A reportagem também procurou a Atlética, via assessoria de imprensa da FMUSP, mas até a publicação desta reportagem não havia obtido retorno.

* Nome fictício para preservar a identidade da vítima

Alckmin vai introduzir a chikungunya em São Paulo

Moradores da Rua Niderau Flelix Machado, no bairro de Campo Grande, Zona Sul de São Paulo Capital  (MARCO AMBROSIO/ Estadão Conteúdo)

Moradores da Rua Niderau Flelix Machado, no bairro de Campo Grande, Zona Sul de São Paulo Capital (MARCO AMBROSIO/ Estadão Conteúdo)

 

A falta de água limpa, sem cor e odor, tem aumentado a mortalidade no Estado de São Paulo?

Nas Américas, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, os principais problemas do setor de abastecimento de água são:

– instalações de abastecimento em mau estado, com deficiências de projeto e/ou manutenção

– deficiência nos sistemas de desinfecção da água – contaminação crescente das águas superficiais e subterrâneas devido a deficiência nos sistemas de coleta e tratamento de esgotos

– inadequado tratamento e/ou acondicionamento de resíduos sólidos.

Os riscos se traduzem em um meio degradado com águas poluídas e uma alta incidência de mortalidade por transmissão hídrica.

Em vários países da América Latina e Caribe as gastroenterites e as doenças diarreicas figuram entre as dez principais causas de mortalidade, sendo responsáveis por cerca de 200.000 mortes ao ano.

Se não bastasse a preocupação com a dengue, a Vigilância Epidemiológica agora alerta para a chikungunya, doença cujo mosquito transmissor também é o Aedes aegypti. A infecção provoca sintomas parecidos com os da dengue, porém mais dolorosos na articulação.

Sintomas da chikungunya

Sintomas da chikungunya

No passado, satirizei várias campanhas realizadas contra a dengue.

Tipo: Quebre o jarro e pise na fulô.

Não guarde pneus velhos, queime nos protestos.

Use areia da Represa Cantareira

Use areia da Represa Cantareira

A base principal das campanhas contra a dengue sempre foi não manter água em baldes e reservatórios caseiros, hoje recomendados pelo Governo de São Paulo. Assim acontecendo, o governador Geraldo Alckmin vai introduzir a chikungunya na Capital e cidades do Interior já empestadas pelo Aedes aegypti, que a dengue é uma doença transmitida por prefeitos ladrões.

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Geraldo Alckmmin tem Reynaldo Azevedo, da revista Veja, como propagandista.

Não falta água em São Paulo. Tem de sobra. Para ser guardada em baldes, caçarolas, garrafas etc. Para beber e morrer afogado. E para o famoso banho de cuia.

Que dizem os médicos da água de São Paulo? Que registram os hospitais?

Diferentemente da dengue, que possui uma variação mais severa — a hemorrágica, cuja taxa de mortalidade pode superar os 10% —, a febre chikungunya não costuma atingir um quadro tão grave. Conforme a Secretaria de Saúde, a taxa de mortalidade é muito baixa e não alcança 1% dos infectados. Casos de óbito normalmente ocorrem em pessoas cuja imunidade já está muito debilitada devido a outras complicações.

Certamente uma morte não é nada. Coisa besta, quando se mata adoidado nas 2. 627  faveladas da Capital de São Paulo, na maior limpeza étnica da saúde pública tão eficaz quanto os métodos violentos da Polícia Militar que, por motivos óbvios e humanitários, está proibida de usar canhões de água contra os protestos do povo.

 

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Ô meu! Pare de choramingar e vá logo instalar uma caixa d´água. Ou: Estado-babá agora precisa avisar o neném que é preciso ter uma simples… caixa d’água? Tenham paciência!

por Reinaldo Azevedo

Leio na Folha o seguinte título: “SP culpa consumidores por falta de água na madrugada”. O lead da reportagem é este: “O governo paulista está responsabilizando os moradores sem caixa-d’água pela rotina de torneiras secas durante as madrugadas em diferentes pontos da Grande SP”.

Aí a reportagem informa:
“Ontem (12/11), em sessão da CPI da Sabesp, na Câmara Municipal, o secretário estadual Mauro Arce (Recursos Hídricos) disse que o problema da falta de água “nasce principalmente na falta de atendimento” a uma norma técnica da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Na interpretação do governo, essa regulamentação obriga as pessoas a terem uma caixa-d’água em seus imóveis para permitir o abastecimento por 24 horas. O texto da norma, entretanto, não é tão taxativo. Os edifícios são realmente obrigados a instalarem caixas-d’água para um dia inteiro de consumo. Mas, para casas de menor porte, existe apenas uma recomendação de que sejam instalados reservatórios de 500 litros. (…) Após o depoimento na Câmara, ao ser questionado se o problema da falta de água ocorria pela ausência de caixas-d’água nas casas, o secretário disse: “Exatamente. [O problema] é a falta de caixa adequada. Muitas vezes tem caixa, mas não adequada”.

Não sei se o secretário usou a palavra “culpa” ou se isso foi, digamos, uma livre interpretação. Tendo a achar que foi livre interpretação.

Eu sempre estranhei essa história de morador reclamar de falta de água “de madrugada”. Pensava cá comigo: “Mas essa gente não tem caixa d’água?”. Não! Moram em favelas, em acampamentos, em aglomerados sem nenhuma infraestrutura? Nada disso! São casas de padrão médio, regulares. Então o cara tem dinheiro para comprar celular e mandar filmes para o Fantástico sobre a “falta de água de madrugada”, mas não para instalar uma caixa d’água?

Que se reitere: o secretário não “culpou” ninguém. Esse é o tipo de imputação que vira título e vai parar em campanha eleitoral sem que o fato tenha acontecido. Mauro Arce, que é um homem público decente, explicou o óbvio: se a diminuição de pressão — e ela existe — leva a que falte água em alguns bairros (atinge 2% da população) e se não existe uma caixa d’água, então a casa ficará… sem água. Eureca!

Também na Folha leio o protesto de um cidadão: “Ninguém me avisou. Aí avisam isso só agora”. Que é isso, rapaz? O estado-babá precisa agora avisar que é preciso ter uma caixa d’água? Você chegou à idade adulta, casou e se reproduziu sem saber que é preciso ter uma simples caixa d’água? Será necessário, em breve, criar a “Bolsa Caixa d’água”? Confesso que fico espantado com o esgar crítico da imprensa, não só da Folha, com a fala do secretário, como se ele estivesse sendo hostil ao consumidor ou fazendo uma exigência absurda. Não está.

A cultura da reclamação está gerando no Brasil o cidadão-bebê. Logo será preciso dar comida na boquinha do indignado cidadão. Que é que há? Estamos gerando o povo gugu-dadá. Tenham paciência! Tentou-se decretar a todo custo que havia um racionamento de água, quando não há. Agora apareceu a questão da caixa d’água…

Ainda que a lei não obrigue alguém a ter uma caixa d’água — e me parece que obriga —, há coisas que são de bom senso, não é mesmo? O estado não inventou o indivíduo. Os indivíduos é que inventaram o estado. Continuam autônomos para agir em seu próprio benefício desde que não transgridam a lei. A imprensa precisa se preparar para a possibilidade de o povo, às vezes, estar errado, ser relapso. Nem sempre o governo é culpado.

Rash from chikungunya on the right foot

Ô meu! Vá instalar uma caixa d’água e pare de choramingar! Estão vendo por que eu jamais serviria para ser um político ou um homem público?

São Paulo no fundo do poço

volume morto água

 

 

 

por Otavio Cohen

 

 

O primeiro sinal veio em 2004. Foi nesse ano que a Sabesp, empresa de abastecimento de São Paulo, renovou a autorização para administrar a água na cidade. Mas tinha alguma coisa errada: a estrutura dos reservatórios parecia insuficiente para dar conta de tanta demanda e seria preciso realizar obras para aumentar a capacidade de armazenamento de água. De acordo com os planos da Sabesp, a cidade de São Paulo ficaria bastante dependente do Sistema Cantareira, o que era preocupante. Se a água dos tanques do sistema acabasse, seria o caos. E foi. Em julho de 2014, o volume útil da Cantareira, que atende 8,8 milhões de pessoas na Grande SP, esgotou

Para diminuir o problema, em maio, a Sabesp decidiu usar o volume morto, uma reserva de 400 bilhões de litros que fica abaixo das comportas que retiram água do Sistema Cantareira. Foram feitas obras para bombear mais de 180 bilhões de litros dessa reserva. O volume morto nunca tinha sido usado antes, mas até que resolveu. Por um tempo. A previsão da Agência Nacional das Águas (ANA), órgão federal responsável pela gestão dos recursos hídricos brasileiros, é de que a reserva dure até novembro. A Sabesp pretende fazer obras para bombear mais alguns bilhões de litros do volume morto, para garantir o abastecimento por mais alguns meses. A estimativa mais otimista é de que haja água suficiente até março de 2015. Depois disso, a esperança é a chuva. Se chover como o previsto a partir de outubro de 2014, o Sistema Cantareira pode voltar a operar com 30% de seu volume. Não é muita coisa, mas é o melhor dos cenários. E o pior?

Mesmo se chover mais do que qualquer meteorologista é capaz de prever, mesmo se a população compreender a necessidade urgente de uma redução drástica no consumo de água, ainda será preciso haver um plano de gestão mais eficiente. A recuperação do nível do Sistema Cantareira pode levar até 10 anos. Enquanto isso, a população vai continuar a crescer. Em algumas décadas, pode ser que nem os reservatórios atuais cheios deem conta do recado. (Transcrevi trechos)

 

Pater

Pater

 

Terrorismo policial em São Paulo: Prisão sem individualização de qualquer conduta, prisão coletiva, prisão sem ordem judicial

12 PM Photographic

12 PM Photographic

████████████████ Leia na íntegra o relato do Defensor Público, Vinícius Paz Leite, o qual acompanhou a atuação dos Advogados Ativistas durante o Segundo Ato Contra a Copa em São Paulo:

PANELA DE PRESSÃO (A DELEGACIA)

Fui procurado por uma advogada que se formou comigo, pois havia pessoas intimadas para prestar depoimento no Departamento Estadual de Investigações Criminais – DEIC, da Polícia Civil do Estado de São Paulo, especializada no combate aos “grupos criminosos organizados”. Depoimentos em massa marcados, coincidentemente, para às 16:00 hs do dia 22/02/2014, sábado, no mesmo horário e dia da manifestação ocorrida na capital paulista contra a copa.

Chegando à delegacia, ouviam-se os ruídos da panela de pressão. “Ei, aonde vai”? “Vou entrar”. “Você é o quê”? “Defensor. Defensor”? “Por favor, queira se registrar”! Perguntei-me o que seria mais inteligente, fazer valer as prerrogativas e aumentar ainda mais a pressão ou, como o objetivo era outro, fazer o que eu fiz. Engoli seca a primeira violação à prerrogativa do Defensor de obter livre ingresso em estabelecimentos prisionais, independente de prévio agendamento (art. 44, VII, Lei Complementar Federal 80 e artigo 162, inciso X, Lei Complementar Estadual 988).

Ao entrar na sala de depoimentos, o bico da panela já estava apitando. A escrivã faltava com urbanidade ao interrogar outra depoente não assistida por mim, bradando “se você está cansada de estar aqui, imagine eu, trabalhando num sábado à tarde!”.

Até a policial não concordava em perder um sábado à tarde para colher depoimentos.

Você possui tatuagens? Você tem técnicas de camuflagem? Usa cocaína, heroína, crack, maconha ou outras drogas? Anda de preto nas manifestações? Anda de máscara nas manifestações? Qual a sua opinião sobre os Black Blocs? Você tem alguma ligação com os Black Blocs? A pressão da panela aumentava ainda mais, sentia cheiro de DOI CODI no ar. Eu estava lá justamente para diminuir essa pressão. Orientei a pessoa que iria prestar depoimento, descrevendo, como é, geralmente, a prática inquisitiva, e adverti que o ambiente estava sob muita pressão, além das orientações de praxe sobre seus direitos.

Ao término, após leitura e assinatura do termo de declaração, fiz uma requisição verbal para obter cópia tanto do depoimento por mim acompanhado quanto do tão famoso e ao mesmo tempo tão desconhecido inquérito policial 1/2013, que originou aquelas intimações em massa. Houve receio por parte de um dos delegados, que disse ser inviável a extração de cópias, e se eu quisesse mais informações que procurasse o delegado chefe.

Mais uma prerrogativa estava para ser violada, a de requisitar e obter informações necessárias ao desempenho de minhas funções. A panela de pressão ditatorial estava para explodir, quando recebi o telefonema de outra advogada, aos gritos, me comunicando que estava sendo ilegalmente detida numa “panela de Hamburgo”.

A PANELA DE HAMBURGO (AS RUAS)

relato1

Fui imediatamente ao local das manifestações acompanhado de três Advogado(a)s Ativistas. Ao chegar, deparei-me com pessoas correndo em direção contrária, barulho de tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo lançadas em nossa direção. Tudo isso em frações de segundos, sem qualquer motivo aparente. Pela primeira vez senti queimar uma bomba de gás lacrimogêneo em volta dos olhos. Não presenciei, em qualquer momento, dano ao patrimônio público ou privado, só violações às integridades físicas dos manifestantes pacíficos perpetradas pela polícia militar em formação de guerra.

Conseguimos, após dar a volta ao quarteirão, chegar perto da “panela de Hamburgo”. Os policiais desse cordão de isolamento, que empunhavam cassetetes e escudos, sem exceção, TODOS ELES, ESTAVAM SEM IDENTIFICAÇÃO. Violação frontal à obrigatoriedade prevista na Constituição e nos tratados de Direitos Humanos de identificação daquele que efetua a prisão (art. 5º LXIV).

Chamei o comandante e nesse meio tempo eu pude perceber o que estava realmente acontecendo. Advogados colocados, com mata leão, de dentro para fora da panela de policiais, que urravam.

Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso. Porque eu não sou miserável. Depois agarraram uns desempregados. Mas como tenho meu emprego. Também não me importei. Agora estão me levando. Chegou a nossa vez.

Havia pessoas desmaiadas no lado de dentro do cinturão formado com escudos translúcidos, que insistiam em tentar tapar a visão.

Fui impedido de atravessar o cinturão e acompanhar a prisão realizada sem qualquer indício de cometimento de crime (fumus comissi delici). Prisão sem individualização de qualquer conduta, prisão coletiva, prisão sem ordem judicial.

Os direitos civis mais basilares foram violados. O artigo 5º da Constituição da Republica Federativa do Brasil foi temporariamente suspenso pelo Governo. Inexistiam os direitos de não ser obrigado a fazer ou não fazer algo em virtude de lei, de não ser submetido a tratamento degradante ou desumano, o livre exercício da liberdade de pensamento, a liberdade de consciência, a liberdade de expressão, a vedação de ser limitado em direitos por exercício de convicção política, o livre exercício da profissão – (no caso dos jornalistas que foram detidos e achincalhados por estarem filmando toda a arbitrariedade) – , o livre direito de locomoção, a liberdade de reunião para fins pacíficos de livre manifestação, a vedação de qualquer prisão, salvo em caso de flagrante delito ou ordem judicial, dentre outras inúmeras garantias suspensas inconstitucionalmente. Vale lembrar que a maioria dessas suspensões de direito, até no estado de sítio, são vedadas.

A máscara da democracia burguesa está caindo. Prenderam ilegalmente brancos, professores, advogados, todos aqueles que supostamente “não cometem crimes”, tal qual ocorre com pretos e miseráveis confinados nos guetos brasileiros, alguns acusados de pequena pilhagem, outros perseguidos por comerciar ilegalmente psicoativos.

A classe média, incluindo os próprios jornalistas, se assustou ao ser enquadrada como inimigo interno. Jornalistas sentiram o exercício real do poder punitivo na pele, um sistema que age sempre de forma discriminatória, neutralizante e eliminatória, a partir da negação de condição de pessoa ao inimigo, ou seja, o inimigo da vez é visto como uma coisa ou ente perigoso. O exercício do poder punitivo contra os manifestantes nada mais é que o alargamento de uma política criminal esquizofrênica pautada na emergência de um mal que põe em cheque toda a existência de toda a sociedade, como discurso declarado. Contudo, de forma latente, combate as ameaças ao do lucro de muito poucos!

Na cracolândia, essa mesma polícia passava com viatura por cima de consumidores miseráveis de crack. Essa mesma polícia tortura e prende ilegalmente pretos miseráveis, todos os dias, nos bolsões de pobreza da cidade. É a mesma polícia que forja drogas nos meus assistidos cotidianamente nos autos dos processos criminais analisados. Essa mesma polícia torturou na ditadura. Esse mesmo poder punitivo foi exercido em larga escala para possibilitar o grande investimento que era a maior colonização forçada do planeta, protagonizada por negros africanos vindos para o Brasil.

Esse mesmo poder punitivo foi utilizado nas galés para manter o lucro do capital mercantilista na expansão ultramarítima, com as condenações a remar até à morte, sob chibata.

É esse o poder punitivo que suspende garantias em nome do lucro dos patrocinadores da FIFA. Finalmente, é esse o mesmo poder punitivo que violou, no dia 22/02/2014, frontalmente a maioria das prerrogativas criminais de um Defensor e realizou prisões ilegais empregando a tática de formação militar de panela de Hamburgo, proibida pelo próprio regimento da Polícia Militar, encurralando manifestantes pacíficos, isolando do contato com o Defensor, batendo, prendendo sem identificação.

Se estivéssemos na vigência da suposta Lei antiterrorismo, proposta no Senado, conforme artigo 2º, (“Provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoa. Pena: reclusão, de 15 a 30 anos”), os policiais não identificados, ofendendo a integridade física, a saúde, a privação de liberdade de pessoa, provocando terror e pânico, todos esses policiais, o capitão, o secretário de segurança e o governador estariam respondendo a processo penal por terrorismo.

Mas como não foi um infeliz rojão que acertou letalmente um cinegrafista da Bandeirantes, provavelmente não haveria domínio do fato por parte do alto escalão do Governo paulista em caso de condenação por violações aos Direitos Humanos. Soltar um rojão à ermo, quando acerta jornalista, seria um evento mais controlável que as ordens do Governo para reprimir manifestantes pacíficos, no Brasil da FIFA.

A guarda se prepara para mais um dia de trabalho, veste sua farda e confere se os utensílios da profissão estão disponíveis para o auxílio do ofício. A estratégia militar é “fique calado e não conteste!" Já nas ruas, a guarda mantém a formação e o alinhamento de seus escudos, fecham a via e cercam a população, munida de seus implacáveis cassetetes, prontos para registrar os corpos gritantes e inconformados. Conflito iminente, dor angustiante. A guarda avança pra cima, sem direitos humanos. FOTO: Fotógrafos Ativistas TEXTO: Marcos Holanda -

A guarda se prepara para mais um dia de trabalho, veste sua farda e confere se os utensílios da profissão estão disponíveis para o auxílio do ofício. A estratégia militar é “fique calado e não conteste!”
Já nas ruas, a guarda mantém a formação e o alinhamento de seus escudos, fecham a via e cercam a população, munida de seus implacáveis cassetetes, prontos para registrar os corpos gritantes e inconformados. Conflito iminente, dor angustiante.
A guarda avança pra cima, sem direitos humanos.
FOTO: Fotógrafos Ativistas
TEXTO: Marcos Holanda

TEXTO Fábio Chap: É jogo. É grito e queda no precipício. A revolta cobre a cara e a farda as intenções. Alguém deu play e paaah: soco, voadora, flash, bomba, tiro. O chão. A repressão. Seus direitos despencam ladeira abaixo. E nossa luta vira briga. O Estado, já deformado, quer deformar. Caquético em seu querer democrático. Se quer, quer errado. Não sabe querer. A sociedade, em seu complexo mar de opiniões, destila pontos e pesares. Os manifestantes, costuram pontos na cara e espalham novos ares. Medo não há. Se vai ter Copa, poucos sabem. O pouco que se sabe, se nota, é a goleada que a democracia toma. Um drible em forma de ippon. O direito é de ir e ir. Vai, vai, vai, vai. Anda, porra. E o sangue escorre outra vez. Mas não desacredite, nós vamos até os ralos buscar aquele sonho. Aquela paz.
VÍDEO

Entrega do pêmio filme do ano, Alckmin escuta manifesto contra o terrorismo estatal na USP, Cracolândia e Pinheirinho

por Miguel Baia Bargas
Juliana Rojas

Juliana Rojas

O filme Trabalhar Cansa, dos diretores Juliana Rojas e Marco Dutra, conquistou o Prêmio Governador do Estado para Cultura 2011, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, na categoria Cinema.
A honraria, que distribuiu oito prêmios em dinheiro em várias categorias, foi entregue na noite de terça-feira, dia 24, e contou com várias autoridades (sic) de alta plumagem do estado.
O que não estava no script é que Juliana e Marco, no discurso protocolar de agradecimento ao receber o prêmio, lessem um manifesto, de cerca de três minutos, denunciando os episódios deploráveis ocorridos na USP, na Cracolândia e no Pinheirinho, em que a PM paulista agiu com violência contra a população. No começo a audiência tucana ficou calada, mas depois começou vaiar para tentar acabar com o ato.
Quando o discurso terminou, o mestre de cerimônia anunciou o casal pindamonhanguense Alckmin, que estava com cara de cachorro que caiu da mudança.
Assista o discurso e observe no final a cara de Alckmin.

TRABALHAR CANSA

AS INCERTEZAS E OBSTÁCULOS DE UMA FAMÍLIA DA CLASSE MÉDIA SÃO RETRATADOS NO LONGA DA DUPLA DE DIRETORES ESTREANTES

Único representante nacional na competição oficial do Festival de Cannes 2011, que aconteceu em maio, o longa-metragem de estreia da dupla de diretores Juliana Rojas e Marco Dutra leva os problemas de uma família de classe média às telonas.

Em Trabalhar Cansa, a dona de casa Helena, interpretada por Helena Albergaria, resolve comprar um imóvel para abrir um mercadinho e tentar aumentar a renda familiar. Apesar de o local necessitar de algumas reformas e ajustes, o plano parece bom. Helena contrata um empregada para cuidar da casa e de sua filha enquanto realiza o sonho de ter um empreendimento próprio.

Porém, tudo desanda quando Otávio (Marat Descartes), seu marido, perde o emprego para um profissional mais jovem. A partir daí, a relação entre a família sofre uma inversão inesperada, ao mesmo tempo em que acontecimentos misteriosos começam a ameaçar os negócios de Helena.

 

POLÍCIA DE ALCKMIN INVADE USP

Desabafo de quem tava lá [Reintegração de Posse]

por Shayene Metri

Muitos PMs chegaram, saindo de carros, motos, ônibus, caminhões. Apareceram helicópteros e cavalaria. Nem eu e, acredito, nem a maior parte dos presentes já tinham visto tanto policial em ação.

Assim que a PM chegou, tudo foi muito rápido:

os alunos da ocupação que estavam com a gente sugeriram: “Corram!”, enquanto voltavam para dentro da reitoria. Os dois amigos que estavam comigo correram para longe da Reitoria, onde a imprensa ainda estava se posicionando para o show. Eu, sabe-se lá por qual motivo, joguei a minha bolsa para um dos meninos da minha sala e voltei correndo para frente da reitoria, no meio dos policiais que avançavam para o Portão principal [e único] da ocupação.

Tentei tirar fotos e gravar vídeos de uma PM que estava sendo violenta com o nada, para nada. Os policiais quebravam as cadeiras no carrinho, faziam questão do barulho, da demonstração da força. Os crafts com avisos dos estudantes, frases e poemas eram rasgados, uma éspecie de símbolo. Enquanto tudo isso acontecia, parte da PM impedia a imprensa de chegar perto da área, impedindo que os repórteres vissem tudo isso. Voltando para confusão onde eu tinha me enfiado: os PMs arrombaram a porta principal, entraram (um grupo de mais ou menos 30, eu acho) e, logo em seguida, fecharam o portão. Trancaram-se dentro da reitoria com os alunos. Coisa boa não era.

Depois disso, o outro grupo de PMs,que impedia a mídia de se aproximar dessas cenas que eu contei , foi abrindo espaço. Quer dizer, não só abrindo espaço, mas também começando (ou fortalecendo) uma boa camaradagem para os repórteres que lá estavam atrás de cenas fortes e certezas.

“Me sigam para cá que vai acontecer um negócio bom pra filmar ali agora”, disse um dos militares para a enxurrada de “jornalistas”.

A cena era um terceiro grupo de PMs, arrombando um segunda porta da reitoria, sob a desculpa de que queria entrar. O repórter da Globo me perguntou (fui pra perto deles depois da confusão em que me meti com os policiais no início): “os PMs já entraram, não? Por que eles tão tentando por aqui também?”. Respondi: “sim, já entraram. E provavelmente estão fazendo essa cena pra vocês terem algum espetáculo pra filmar” 

A palhaçada organizada pelos policiais e alimentada pelos repórteres que lá estavam continuou por algumas horas. A imprensa ia contornando a reitoria, na esperança de alguma cena forte. Enquanto isso, PM e alunos estavam juntos, dentro da Reitoria, sem ninguém de fora poder ver ou ouvir o que se passava por lá. Quem tentasse entrar ou enxergar algo que se passava lá na Reitoria, dava de cara com os escudos da tropa de choque, até o fim.

Enquanto amanhecia, universitários a favor da ocupação, ou contra a PM ou simplesmente contra toda a violência que estava escancarada iam chegando. Os alunos pediam para entrar na reitoria. Eu pedia para entrar na reitoria. Tudo que todo mundo queria era saber o que realmente estava acontecendo lá dentro. A PM não levava os estudantes da ocupação para fora e o pedido de todo mundo era “queremos algo às claras”. Por que ninguém pode entrar? Por que ninguém pode sair?

Enquanto os alunos que estavam do lado de fora clamavam para entrar, ouvi de um grupo de repórteres (entre eles, SBT): “Não vamos filmar essas baboseiras dos maconheiros não! O que eles pedem não merece aparecer”. Entre risadas, pra não perder o bom humor. Além dos repórteres que já haviam decidido o que era verdade ou não, noticiável ou não, tinham pessoas misturadas a eles, gritando contra os estudantes, xingando. Eu mesma ouvi muitas e boas como“maconheirazinha”, “raça de merda” e “marginal” . 

Os estudantes que enfrentavam de verdade os policiais que faziam a ‘corrente’ em torno da Reitoria eram levados para dentro. Em questões de segundos, um estudante sumia da minha frente e era levado pra dentro do cerco. Para sabe-se lá o que.

Lá pras 7h30, depois de muito choro, puxões e algumas escudadas na cara, comecei a ver que os PMs estavam levando os estudantes da ocupação para dentro dos ônibus. Uma menina foi levada de maneira truculenta, essa foi a única coisa que meu 1,60m de altura conseguiu ver por trás de uma corrente da tropa de choque.  Leia mais. Transcrevi trechos

Chile. Seis meses de greve em todas as universidades. Fosse no Brasil a polícia dos governadores teria resolvido tudo no pau

Apesar da oposição da imprensa, que defende o ensino pago. Apesar de um presidente direitista. Os estudantes do Chile continuam em greve. Tomaram todas as universidades. E estão nas ruas. Nas praças. Realizaram mais de 40 passeatas. Lá, no Chile, os estudantes não têm medo dos Alckmin 

Los jóvenes reclaman no solo un aumento de los recursos, sino una reforma completa al sistema vigente desde 1981, que redujo la aportación del Estado a la educación y la abrió a los privados

Tras seis meses de conflicto y con el diálogo con el Gobierno roto, los estudiantes chilenos se manifestaron hoy en Valparaíso para presionar al Congreso con el fin de que el presupuesto de 2012 incorpore avances en su lucha por lograr una educación pública gratuita.

Mientras los jóvenes marchaban por las calles, los líderes del movimiento se reunieron con los presidentes de las dos cámaras legislativas y con los líderes de los partidos de oposición, con miras a lograr un “acuerdo transversal” que dé respuesta a sus exigencias.

Aunque ya son más de 40 las jornadas de manifestaciones celebradas en todo el país, esta es la primera gran movilización convocada solo en esta ciudad portuaria, sede del Congreso y ubicada a unos 125 kilómetros al noroeste de Santiago.

Unos 8.000 manifestantes, según informaron a Efe fuentes de Carabineros (Policía militarizada), y al menos 15.000, según los organizadores, se dieron cita este miércoles para marchar desde la Plaza Sotomayor hasta el Parque Italia, a unas seis cuadras del Congreso.

Ese era el recorrido autorizado por la Intendencia (gobernación) regional, pero al arribar al Parque Italia, algunos asistentes insistieron en su intención de llegar hasta las puertas del Congreso y saltaron las vallas que se habían instalado para impedirlo.

Se produjeron entonces enfrentamientos entre jóvenes y Carabineros, que empleó carros lanzaaguas y gases lacrimógenos para dispersarlos.

Los disturbios se extendieron por varios puntos del centro de Valparaíso, cuyo casco antiguo es Patrimonio Cultural de la Humanidad, y ha habido nueve detenidos, aunque la cifra podría aumentar, según fuentes policiales.

Mientras tanto, los líderes estudiantiles volvieron a rechazar en el Congreso un consenso entre el Gobierno del conservador Sebastián Piñera y la oposición de centroizquierda “a espaldas de la ciudadanía”, y pidieron un “acuerdo transversal” que dé respuesta a sus demandas.

Tras seis meses de conflicto, el debate está centrado en el Presupuesto, dado que el diálogo entre Gobierno y estudiantes quedó roto a principios de octubre.

El Ejecutivo propone un alza del 7,2 % en la partida de educación, hasta los 11.650 millones de dólares, de un total de 60.000 millones de dólares de gasto público previsto para el próximo ejercicio.

Para analizar esa partida se volvió a reunir hoy en el Congreso la Subcomisión Mixta, y se espera que sea mañana cuando la Comisión Mixta de Presupuestos aborde esas cuentas, que tienen que estar finiquitadas antes de que termine noviembre.

En el Congreso también estaba hoy presente el ministro chileno de Educación, Felipe Bulnes, que consideró “positivo” que los estudiantes dialoguen con los parlamentarios y busquen un acuerdo entre todas las fuerzas políticas.

Los universitarios, encabezados por los dirigentes Camila Vallejo y Giorgio Jackson, se entrevistaron por separado con los presidentes de la Cámara de Diputados, el oficialista Patricio Melero, y del Senado, el opositor Guido Girardi.

Al término de la cita, Melero admitió la “necesidad” de acometer las modificaciones que reclaman los jóvenes, pero consideró “importante que (el conflicto) entre en su cauce democrático y que estos cambios se hagan donde corresponde que se hagan, que es en el Congreso”.

Por su parte, Vallejo, una de las caras más visibles de la Confederación de Estudiantes de Chile (Confech), achacó a “todas las bancadas y sectores políticos” la responsabilidad de “atender y representar una demanda que es mayoritaria”.

“Queremos consenso sí, pero de cara a la mayoría”, apostilló.

Los universitarios y los secundarios también fueron recibidos por separado por los líderes de los cuatro partidos de la Concertación de centroizquierda, la coalición que gobernó el país entre 1990 y 2010 y que ha rechazado llegar a un acuerdo con el Gobierno sin tener en cuenta a los estudiantes.

Los jóvenes reclaman no solo un aumento de los recursos, sino una reforma completa al sistema vigente desde 1981, que redujo la aportación del Estado a la educación y la abrió a los privados, lo que encareció el coste para los alumnos, obligados a endeudarse para financiar sus estudios.

“Nosotros entendemos que si bien esta ley de presupuesto no va a tener todas las propuestas y demandas del movimiento estudiantil debe ser un llamado fuerte a que las demandas se acojan y no se olviden, porque eso puede tener coletazos muy grandes para nuestra democracia”, señaló por su parte Jackson.