Papa saudou «terra abençoada» por diversidade cultural e étnica

La Paz, 08 jul 2015 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no seu primeiro discurso na Bolívia que o país sul-americano é uma “terra abençoada” pela sua diversidade cultural e étnica, a qual exige “respeito mútuo”, “diálogo” e atenção aos “últimos”.
Perante o presidente Evo Morales, que Francisco abraçou à chegada, e centenas de pessoas reunidas no aeroporto internacional de El Alto, o pontífice argentino recordou os “povos nativos milenários” e os contemporâneos, pedindo que todos se comprometam na “construção duma sociedade mais justa e solidária”.
O Papa sustentou que “a voz dos pastores” tem de ser “profética”, partindo da “opção evangélica preferencial pelos últimos, pelos descartados, pelos excluídos” e a “proteção dos mais vulneráveis”.
“Não se pode crer em Deus Pai sem ver um irmão em cada pessoa”, advertiu.
Francisco percorreu a pé a distância entre o avião e o palco preparado para os discursos, acompanhado por crianças que representavam as várias realidades da sociedade boliviana.
“Quanta alegria nos dá saber que a língua castelhana, trazida para estas terras, convive agora com 36 idiomas nativos, amalgamando-se – como fazem o vermelho e o amarelo, nas flores nacionais de kantuta e patujú – para conferir beleza e unidade ao que é diverso”, declarou.
O Papa elogiou a “beleza singular” da Bolívia, país “abençoado por Deus nas suas váreas áreas” do planalto às terras amazónicas.
“Nesta terra e neste povo, radicou-se fortemente o anúncio do Evangelho, que, ao longo dos anos, foi iluminando a sociedade, contribuindo para o desenvolvimento do povo e promovendo a cultura”, assinalou.
Francisco apresentou-se como “hóspede e peregrino” que quer “confirmar a fé”, “fermento de um mundo melhor”.
“A Bolívia tem dado passos importantes na inclusão de amplos sectores na vida económica, social e política do país”, reconheceu.
Nesse sentido, apelou ao espírito de cooperação dos cidadãos, sublinhando que o crescimento não pode ser apenas económico, sob pena de “voltar a criar novas diferenças, de a abundância de uns ser construída sobre a escassez de outros”.
O Papa afirmou ainda que a família merece “uma atenção especial” por ser “a célula básica da sociedade”.
Em conclusão, manifestou a sua alegria por estar num país que de diz “pacifista, que promove a cultura da paz e o direito à paz”.
“Jallalla Bolívia”, concluiu, usando uma expressão tradicional dos povos indígenas.
Após a cerimónia de boas-vindas, Francisco subiu ao papamóvel para saudar milhares de pessoas que o esperam no caminho até à sede da Arquidiocese de La Paz.
Durante o trajeto, o Papa argentino efetuou uma paragem junto ao local do assassinato do sacerdote jesuíta espanhol Luis Espinal Camps, morto em 1980 por causa do seu trabalho em defesa dos Direitos Humanos.
Padre Luis Espinal foi voz «incómoda» em defesa da liberdade, disse Francisco

O Papa recordou hoje na Bolívia o sacerdote jesuíta espanhol Luis Espinal Camps, morto em 1980 por causa do seu trabalho em defesa dos Direitos Humanos.
Durante o trajeto entre o aeroporto de El Alto e a capital La Paz, Francisco efetuou uma paragem junto ao local do assassinato do membro da Companhia de Jesus, à qual também pertence.
“Parei aqui para vos cumprimentar e sobretudo para recordar um irmão nosso, vítima de interesses que não queriam que se lutasse pela liberdade”, disse às centenas de pessoas reunidas no local.
O padre Espinal, assinalou, “pregou o Evangelho e esse Evangelho incomodou, por isso o eliminaram”.
Francisco pediu um minuto de silêncio, “em oração”, e depois rezou para que “o Senhor tenha na sua glória o padre Luis Espinal, que pregou o Evangelho, esse Evangelho que nos traz a liberdade, que nos faz livres”.
O jesuíta espanhol, que chegou à Bolívia em 1962, tomou várias posições públicas contra a ditadura, acabando por ser detido, torturado e assassinado por paramilitares.
O seu corpo sem vida foi encontrado a 22 de março de 1980 no troço de estrada onde o Papa parou esta noite.