Eu chuva poesia de Mauri König


Hoje choveu bastante em Curitiba
O que não é novidade
Todos sabem
Curitiba é feita de chuva
A chuva de hoje, no entanto
Fez brotar em mim um espanto
Eu queria ser a chuva
Ela vem e vai quando quer
Ela nos lava a alma
Nos suja de barro
Estraga sapatos
Desarranja cabelos
Mas faz brotar uns sentimentos…
Que, sei lá, nos põem doidos varridos
Eu queria ser chuva
Queria poder chover onde quisesse
Sem medidas nem restrições
Eu queria chover a cântaros
Molhar todas as almas para além dos corpos
Queria lavar a alma suja de toda gente
Queria lavar a minha alma encardida
Queria regar a infância
A infância perdida de quem já não brinca na chuva
Queria escorrer pela sarjeta
E levar para o fosso toda a sujeira do mundo
A chuva que choveu hoje
Fez brotar em mim um espanto
Queria me multiplicar em um trilhão de gotas
Esses trilhão de coisas que imagino ser
Viver a ilusão da liberdade
A liberdade enquanto bailo no ar
Ao sabor dos ventos
Até encontrar a realidade do chão
O chão de cimento
(onde foram parar as ruas de terra da minha infância?)
A chuva de hoje foi mais real que a de ontem
Era linda e no entanto
Fez brotar em mim um espanto
Não posso ser chuva
Eis que sou barro

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