Orides Fontela: Difícil para o pássaro/ pousar/ manso/ em nossa mão

POUSO (II)
por Orides Fontela

.

Difícil para o pássaro
pousar
manso
em nossa mão – mesmo
aberta.

Difícil difícil
para a livre
vida
repousar em quietude
limpa
densa

e ainda mais
difícil
– contendo o
vôo
imprevisível –

maturar o seu canto
no alvo seio
de nosso aberto
mas opaco

silêncio.

Terêza Thenório

Terêza Tenório

SONHOS POÉTICOS
por Talis Andrade

.

À Terêza Tenório

Um pássaro
imenso
pousa manso
nas mãos
de Orides Fontela

Um peixe
nas coxas
de Cecília Meireles

Um corpo
de argila iluminada
cega Edna St.Vincent Millay

enquanto Alfonsina Storni
aguarda o amado
ponha nas carnes
a alma que pelas alcovas
ficou enredada

Indóceis as mulheres velam
o amor fosse tão belo
quanto seus versos
O amor que arde
nas faces coradas
o amor que arde
nas entranhas orvalhadas
tivesse a pureza
de uma prece

Visões d’amor (& amizade) 3

muro

O amor não tem muro que separe. O verdadeiro amor vence o tempo e o espaço. Não tem essa obrigação ou lei ou costume de ser da mesma tribo, da mesma cor, da mesma faixa etária, da mesma classe social, da mesma religião, do mesmo gênero e outros mesmismos. O amor é livre.
Talis Andrade

 

A TECNOLOGIA SEPARA AS PESSOAS?

Depende de como é usada. Em poucas semanas no face, reencontrei amigos, me aproximei de muitas pessoas que admiro, fiz centenas de novas amizades. Ontem, que para mim ainda é hoje, pois só chego amanhã (trabalhando, registre-se) recebi aqui tantas manifestações de carinho, tantas palavras bonitas, tantos incentivos que posso dizer foi o aniversário mais curtido da minha vida (desculpem o trocadilho, foi sem querer).
Viva a tecnologia que aproxima as pessoas.
Graças à internet, você só é uma ilha se quiser.
José Nivaldo Júnior

 

Todos os amigos são especiais, os de ontem, os de hoje, os de sempre.
Amigos de longa data, amigos feitos numa troca de olhar ou e mail.
Amigos cujas palavras soam como torrões de açúcar ou como trovoadas.
Amigos que partiram, amigos que sucumbiram as vicissitudes da vida…
A todos os amigos o meu bem querer, que ele jamais se esgote.
Núbia Nonato

 

MEDIDA

A medida do amor é ser deserto

e retomar a ausência inicial

de parte da memória devorada

do inconsciente profundo

axial

porque o real do amor é fragmentar-se

No decorrer do ciclo indefinido

em espirais do tempo diluído

à lembrança inconsútil

desvelar-se

Terêza Tenório

 

para-estar-junto

 

metaplágio para mítienka, em lugar de carta

enamorei-me

parece fizemo-nos sofrer mutuamente
mas tudo acabou. saindo
rebentei em riso e ainda
agora penso nisso muito alegremente

mas como podia eu saber
que não queria nenhum pouco?

é entretanto a pura verdade

como gostava e gozava tal amor!
como lhe quero bem ainda!
parto sem pesar! ah que saudades eu sinto!
mas talvez isso seja fanfarronice minha

há tanto tempo que te amo
talvez… não fosse amor […]

Nina Rizzi

 

Nina Rizzi, por Talis Andrade

Nina Rizzi, por Talis Andrade

Chão de Estrelas
Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão
Sílvio Caldas

 

 

 

 

Amor retornarei na madrugada

por Terêza Tenório

 

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À memória de Moury

 

Amor retornarei na madrugada

em que a fome de ti me arrebatar

alheio com todas as lagartas

vazio transitória sublimar.

 

Esta ausência que aos poucos te devora

e por não ser teu tempo mais de Agar

cujo corpo violei embora sombra

soturna e fugidia sob o mar

 

preserva a solidão e não esqueças

meu Amor de contar dias e horas

teu rosto iluminado no meu íntimo

tem a força do fogo das auroras

 

permanece tranquila como um Ícone

ou pedra tumular só me procures

ó dançarina dentro do meu sonho

de viajar de Copacabana e Búzios

 

também não me exijas voltar breve

nem julgues meu silêncio um abandono

que o tempo de esperar te seja leve

e me sejas fiel como a Madona

 

porque retornarei Amor um dia

corpo aceso em não sei qual madrugada

não duvides: o acaso guiará

nossos passos na mesma caminhada.

 

 

Agar e Ismael en el desierto
óleo sobre lienzo 140 x 120 cm
Venecia, Scola di San Rocco

Canto Dulce Chacon, Paulo Fernando Craveiro e Terêza Tenório

Dulce Chacon

Dulcde Chacon

Paulo Fernando Craveiro

Paulo Fernando Craveiro

Terêza Teenório

Terêza Tenório

Poesia Alheia

2

(trechos)

Canto de Dulce Chacon
o Capibaribe dos olhos míopes
serpenteando o Recife
a procura do mar

De Paulo Fernando Craveiro
o cavalinho marinho
galopando na tarde
seus cascos de vidro
suas mãos de seda
suas crinas de sal

Canto com Terêza Tenório
os que se apaixonam pelo Recife
e morrem de comer as muradas da ponte

Recife uma lindeza vista de longe
à hora do crepúsculo

Há cintilações de ouro e pátina
no casario secular do Cais do Porto


In A Partilha do Corpo, p. 208