Papa sobre imigrantes: expulsá-los é um ato de guerra

Cidade do Vaticano (RV) – Tensões e conflitos se resolvem com o ‘diálogo’ e o ‘respeito das identidades’. Rejeitar os imigrantes Rohingya, de religião muçulmana, é ‘guerra, significa matar’. Essa foi uma das respostas do Papa Francisco ao participantes do encontro do Movimento Eucarístico Jovem da última sexta-feira (7), no Vaticano. Entre perguntas e respostas, o Papa falou por cerca de 40 minutos também da necessidade de reconhecer a verdadeira paz, contra a paz ‘superficial’ que vem do diabo, um mal pagador que te enrola’.

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O Papa, ao fazer referência à situação dos irmãos Rohingya, disse para se refletir sobre lá onde ‘se respira uma grande diversidade de culturas’. Os Rohingya fogem de onde não conseguem ter a cidadania e nem os direitos fundamentais garantidos. Só na última semana, no Mediterrâneo, foram salvos mais de 2 mil imigrantes, enquanto que na terça-feira (4) da semana passada, 26 foram encontrados mortos e 200 desaparecidos num naufrágio na costa líbica.

“Pensemos àqueles nossos irmãos de Rohingya: foram expulsos de um país e de um outro e de um outro, e vão para o mar… Quando chegam num porto ou numa praia, lhes dão água e alguma coisa pra comer e os expulsam ao mar. Esse é um conflito não resolvido e isso é guerra, isso se chama violência, chama-se matar.”

O Papa também observou que inclusive os conflitos podem nos fazer bem, porque nos fazem entender as diferenças, entender como são as coisas diversas e entender que, se não encontrarmos uma solução que resolva esse conflito, será uma vida de guerra.

“Sobre o tema dos imigrantes e da acolhida, estamos em pleno acordo com a denúncia expressa do Papa Francisco”, disse o Padre Eugenio Bernardini, moderador da Tavola Valdese, depois do apelo do Santo Padre sobre os ‘atos de guerra e de violência homicida’. Ele lembra também que “com a Igreja católica e a Cáritas, desenvolvemos tantas ações de socorro, ajuda e hospitalidade aos migrantes e aos imigrantes, de Lampedusa a Ventimiglia. Não se trata apenas de lançar denúncias, mas de agir concretamente dando o exemplo, até que a Itália e, mais em geral, a Europa deem uma resposta válida e concreta pra esse problema”.

O porta-voz do Centro Italiano de Refugiados, Christopher Hein, considerou “muito importantes as palavras” de Francisco. E acrescentou que “a voz do Papa é importantíssima em toda essa história de respeito ao direito de abrigo e refúgio necessário. A resistência já foi condenada pela Corte Europeia dos direitos do homem, mas vemos essa atitude um pouco em toda a Europa. Invés de aceitar e acolher”, conclui o porta-voz, “erguem-se muros e é expressamente proibido no direito internacional”.

Em plena harmonia com Francisco também está o fundador da União Comunidades Islâmicas Italianas (Ucoii), Roberto Piccardo: com o Papa, “temos uma total solidariedade e uma absoluta comunidade de intenções e de sentimentos”.

Segundo o arcebispo de Florença, Cardeal Giuseppe Betori, abordando o tema da imigração, “trata-se de não limitar os espaços do coração, e nem secar a raiz da fé que alimenta os gestos de caridade”. Uma orientação, enaltece o cardeal, que “deve animar também a acolhida a homens, mulheres e crianças que, imigrantes, se abrigam entre nós, distanciando-se das guerras, da fome, das condições desumanas de vida”.

Essas palavras foram pronunciadas por Dom Betori durante a homilia na Basílica de São Lourenço, que acrescentou: “São todos para acolher como irmãos, porque em cada um deles devemos reconhecer a dignidade de uma pessoa humana”. (AC/Adnkronos)

(from Vatican Radio)

Grécia é o primeiro destino dos refugiados que cruzam o Mediterrâneo

A Grécia foi o ponto de chegada de cerca de 125 mil refugiados e migrantes que arriscaram a vida no Mediterrâneo este ano. Longe de estar preparado para um acolhimento desta dimensão, o governo reúne hoje para tomar medidas de emergência. O Syriza quer mais apoio às redes de solidariedade auto-organizadas que têm dado a resposta mais eficaz no apoio aos refugiados.

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As Nações Unidas estimam que aproximadamente 224.5 mil pessoas atravessaram o Mediterrâneo rumo à Europa. As ilhas gregas foram o ponto de chegada para quase 124.2 mil refugiados e migrantes, a Itália para 98.5 mil, Espanha para 1.7 mil e Malta recebeu 94 pessoas, segundo os dados oficiais destes países.

Até ao início de agosto, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, presidido pelo português António Guterres, estimava em 2100 o número de mortos e desaparecidos durante as travessias do Mediterrâneo.

A Síria é o ponto de partida e nacionalidade de dois terços dos refugiados que conseguiram chegar à Grécia. Segue-se o Afeganistão (20%) e o Iraque (5%).