Marina Silva, contrariando estudos científicos, promete que “o mar vai secar”. Quando deverá subir, até o final deste século, 2,3 metros.
Escreve Josias de Souza: “Horas antes da divulgação do Datafolha e do Ibope que atestaram a continuidade do movimento de desintegração do seu índice de intenção de votos, Marina Silva reuniu representantes dos partidos de sua coligação. Conforme já noticiado aqui, ela fez um discurso impregnado de indignação.
O pronunciamento foi adornado com um guizo retórico que eletrificou a plateia. Um dos presentes identificou no comentário final de sua candidata um quê de messianismo. Para certificar-se, ao chegar em casa, o correligionário de Marina colocou para rodar o áudio do discurso, que ele gravara no celular. Eis a frase que lhe soara mal:
‘Meus amigos, vamos à luta, vamos à vitória, vamos mostrar que hoje, aqui, tem que se ver relâmpago de caracol, os nevoeiros pararem, dar eclipse no Sol, as águas do mar secarem e eu pescar a baleia com anzol.’ Seguiu-se um coro de inspiração petista: ‘Marina, guerreira da pátria brasileira…”
2,3 metros de elevação do nível do mar
A cada aumento de 1 ºC na temperatura do planeta, o nível do mar poder subir 2,3 metros e permanecer elevado por séculos, de acordo com um novo estudo divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto Potsdam de Pesquisa sobre Impacto no Clima, da Alemanha.
De acordo com Anders Levermann, um dos autores da pesquisa: “Antes havia alguma incerteza e as pessoas não sabiam quanto (seria o aquecimento). Agora, nós estamos dizendo, considerando tudo o que sabemos, que temos uma sólida estimativa de 2,3 metros de elevação do mar para cada grau de aquecimento”.
Quais serão os impactos sobre o nosso imenso litoral com mais de oito mil quilômetros de praias?
Escreve André Trigueiro: “O mais completo estudo já feito no Brasil sobre os impactos da elevação do nível do mar revela que 40% das nossas praias são vulneráveis. Manguezais, dunas, áreas de baixada e cidades densamente povoadas próximas de estuários como Rio de Janeiro e Recife oferecem menos resistência ao mar.
Setenta e um pesquisadores assinam o relatório feito no país em 2006. O estudo detalha os impactos previstos em 16 estados.
‘O Brasil tem vulnerabilidade ao longo de todo o litoral, de forma pontual’, alerta Dieter Muhe, coordenador do estudo.
Já existe uma recomendação do governo federal de que toda nova construção em área urbana deve ficar a uma distância mínima de 50 metros da praia, exatamente do ponto onde termina a areia. Nas regiões desocupadas, a distância mínima deve ser de 200 metros.
Para Muhe, o planejamento urbano precisa levar em conta o risco que vem do mar. ‘A prefeitura pode treinar sua equipe e definir um plano de ocupação. Isso não é nenhuma dificuldade maior, é uma decisão política. Depende do prefeito, essencialmente. Mas também da pressão das organizações não-governamentais, da sociedade, no sentido de tomar consciência, acho que já está aparecendo’, explica o professor titular da UFRJ”.
O Projeto São Francisco
O Projeto de Integração do Rio São Francisco é garantir a segurança hídrica para mais de 390 municípios no Nordeste Setentrional, onde a estiagem ocorre frequentemente.
A região Nordeste possui 28% da população brasileira e apenas 3% da disponibilidade de água, o que provoca grande irregularidade na distribuição dos recursos hídricos, já que o rio São Francisco apresenta 70% de toda a oferta regional.
As bacias beneficiadas pela água do rio São Francisco serão: Brígida, Terra Nova, Pajeú, Moxotó e bacias do Agreste, em Pernambuco; Jaguaribe e Metropolitanas, no Ceará; Apodi e Piranhas-Açu, no Rio Grande do Norte; Paraíba e Piranhas, na Paraíba. Essas bacias têm uma oferta hídrica per capita bem inferior à considerada como ideal pela Organização das Nações Unidas (ONU), que é de 1.500 m3/hab/ano. A disponibilidade no Nordeste Setentrional por habitante ao ano é de 450 m3, em média.
Este empreendimento, além de recuperar 23 açudes, vai construir outros 27 reservatórios, que funcionarão como pulmões de água para os sistemas de abastecimento do agreste, fornecendo 6 m³ por segundo.
A obra beneficiará uma população estimada de 12 milhões de habitantes, em 390 municípios nos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, além de gerar emprego e promover a inclusão social.
O empreendimento garantirá o abastecimento de água desde grandes centros urbanos da região (Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Mossoró, Campina Grande, Caruaru) até centenas de pequenas e médias cidades inseridas no semiárido e de áreas do interior do Nordeste, priorizando a política de desenvolvimento regional sustentável.
Histórica peleja de cantadores
Marina Silva, com erros, sem revelar a autoria, cita versos de Romano do Teixeira, na primeira peleja com Inácio da Cantigueira, quando Patos, na Paraíba, era ainda uma vila, em 1870:
Hoje aqui há de se ver
relâmpago de caracol
os nevoeiros pararem
e eclipsar-se o sol
secar a água do mar
e pescar baleia de anzol
Romano, possivelmente, se inspirou na profecia de Antônio Conselheiro, ou outros santos nordestinos da doutrina do milenarismo.
A PALAVRA DE FOGO
por Talis Andrade
No remoinho dos ventos
levantando a poeira
do vermelhado chão
em um perdido povoado
a alucinante aparição
de um homem
envergando a veste
dos penitentes
a aparição de um homem
que andou léguas e léguas
por caminhos de pedras
e vilarejos distantes
a pregar uma estranha
e deslumbrante visão
o sertão vai virar mar
o mar vai virar sertão
O remoinho dos ventos
apagou os rastros do profeta
o remoinho dos ventos
levou as secas palavras
pelos caminhos secos dos rios
o remoinho dos ventos
espalhou a palavra de fogo
pelos vagos do deserto

Antonio Conselheiro morreu na Guerra de Canudos, em 1897. Seu corpo foi desenterrado, pelo Exército da República, para ser fotografado. E a cabeça cortada, depois exibida por várias cidades, e levada para ser examinada por Nina Rodrigues, na Faculdade de Medicina de São Salvador, Bahia. Em 1905, um incêndio destrói a cabeça de Antônio Maciel, conhecido pelos nomes de Antônio dos Mares, Bom Jesus e Antônio Conselheiro.