CÁRCERE DAS ALMAS
por Cruz e Sousa
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Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa,
soluçando nas trevas, entre as grades
do calabouço olhando imensidades,
mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
quando a alma entre grilhões as liberdades
sonha e sonhando, as imortalidades
rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
nas prisões colossais e abandonadas,
da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

Alma de vermelho, Leonor Fini
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EXERCÍCIO SOBRE “O EMPAREDADO”
(PROSA POÉTICA DE CRUZ E SOUSA)
por Stella Leonardos
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Quem nega que essas pedras emparedam
– tantas e tantas pedras cumuladas –
são cúmulos de céus apedrejados,
asas de astros partidos que se empedram?
Entre as penas do pássaro apresado
e cada pedra posta sobre pedra
repercute teu solo negregado.
Com tal ritmo, metal, sonoridade,
que consegues romper paredes pétreas,
que gravas na prisão a sombra grave
de um pássaro apenado e te libertas.