POBRE BRASIL El truculento Gilmar Mendes asume la presidencia del Tribunal Superior Electoral. Su voto está más cantado que himno nacional en fecha patria

El mandato de Michel Temer será alcanzado por un golpe institucional, conducido por un bucanero llamado Eduardo Cunha, que preside la Cámara de Diputados frente al injustificable silencio del Supremo Tribunal Federal, donde es reo. No hay pruebas de que Dilma Rousseff haya cometido crimen de responsabilidad, única justificación prevista en la Constitución para destituir a un presidente

 

 

Por Eric Nepomuceno
Página 12/ Argentina 

Luego del deprimente e indecoroso espectáculo ofrecido a millones de espectadores por los honorables señores diputados brasileños el domingo 17, llegó la hora de sus excelencias, los magistrados del Tribunal Superior Electoral, dar claras muestras de que la justicia es, en el Brasil de hoy, materia volátil y susceptible de altísima maleabilidad.

A ver: luego de la victoria de la candidatura Dilma Rousseff-Michel Temer en las presidenciales de octubre del 2014, los derrotados entraron, en el Tribunal Superior Electoral, con cuatro acciones pidiendo la impugnación del resultado de las urnas. El argumento básico: irregularidad en las cuentas de la campaña victoriosa y uso de dinero ilegal, injustificado e injustificable.

Curiosidades que nadie se animó a explicar: una misma empresa donó al derrotado Aécio Neves y a la dupla vencedora. El dinero destinado a Neves era legal y de origen legítimo, pero el destinado a la campaña victoriosa era parte del esquema de coimas cobradas en contratos ilegales con la Petrobras.

Pese al absurdo, no se investigarán las cuentas de los derrotados transformados en denunciantes. El juicio está en tramitación, y si el TSE llega a la conclusión de que efectivamente hubo irregularidades en los gastos de campaña, podrá determinar la destitución de Dilma Rousseff y su vice, Michel Temer, y convocar nuevas elecciones.

Hace dos semanas, y en pleno auge de la conspiración para traicionar a la mandataria, entregarla a la furia de las hienas de la Cámara de Diputados y asumir, garboso, la presidencia sin haber obtenido un sólo voto personal, Michel Temer entró con un pedido junto al TSE, para que hubiese “desmembramiento de las cuentas de campaña”.

En su argumentación presentada a las máximas instancias de la Justicia Electoral, el impávido y melifluo Michel Temer asegura que su partido promovió “recaudaciones legales, con movimientos en cuenta corriente específica y destinación legal indudosa”. Neologismos aparte, quiere decir que su partido plagado de acusaciones de corrupción a lo largo de su nada noble historia es honesto a no más poder. Sería, pues, injusto correr el riesgo de ser condenado “por arrastre, debido a irregularidades en las cuentas de la campaña encabezada por Dilma Rousseff”.

Lo más asombroso, sin embargo, es que se detecta claramente una tendencia, entre la mayoría de los siete integrantes del Tribunal Superior Electoral, a aprobar esa tesis descabellada y descarada. La jurisprudencia del TSE muestra que jamás se admitió desmembrar cuentas de campaña, pero ya se sabe que para todo, bajo el cielo, hay una primera vez.

Tres de esos magistrados integran también el Supremo Tribunal Federal, instancia máxima de la justicia, y se consagraron en el papel de jueces facciosos: en lugar de proferir votos y sentencias, lanzan discursos incendiarios contra el gobierno, Dilma, Lula y el PT, no necesariamente en este orden.

El más truculento de ellos, Gilmar Mendes, asume ahora en mayo la presidencia del Tribunal Superior Electoral. Su voto está más cantado que himno nacional en fecha patria.

En conversas informales, cuidadosamente filtradas a los grandes medios hegemónicos de comunicación, adalides del golpe y envenenadores de la opinión pública, argumentan –pidiendo, claro, un anonimato ridículo– que es esencial salvar el ‘mandato’ de Michel Temer.

El TSE tiene, acorde a esa versión esdrújula, un papel decisivo para evitar una “crisis de gobernabilidad en el país”, que coincidiría con “el trauma del impeachment”.

El mandato de Michel Temer será alcanzado por un golpe institucional, conducido por un bucanero llamado Eduardo Cunha, que preside la Cámara de Diputados frente al injustificable silencio del Supremo Tribunal Federal, donde es reo. No hay pruebas de que Dilma Rousseff haya cometido crimen de responsabilidad, única justificación prevista en la Constitución para destituir a un presidente.

En la patética sesión en que se aprobó la apertura de su juicio político, 29 diputados votaron “por la familia”, 27 “por Dios”, uno por “mi hija”, otro “por mi nieta”, otro “para impedir el cambio de sexo en los niños” y la lista de absurdos es larga y nauseabunda. Poquísimos mencionaron los supuestos crímenes de responsabilidad que habrían sido cometidos por la presidenta.

El Senado seguramente abrirá el juicio, que se extenderá por hasta 180 días. En ese tiempo, Michel Temer asumirá la presidencia.

Si por coincidencia en ese período el Tribunal Superior Electoral impugna el resultado de 2014, él estaría liquidado junto a Dilma Rousseff. De ahí la necesidad de protegerlo.

Triste, ofensiva ironía: a la hora de destituir a una mandataria por algo que ella no cometió, ningún magistrado se preocupó con la “crisis de gobernabilidad” o con “el trauma del impeachment”.

Permitir que un juicio político que infringe las reglas esenciales de la justicia –demostrar la culpa del acusado– es algo aceptable. Inaceptable es dejar que el vice que traicionó a la presidente y usurpará su puesto corra algún riesgo jurídico.

Pobre país.

Livro revela bastidores da Operação Satiagraha

Por Victor Barone

 

 

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Com 24 anos de carreira, Rubens Valente é um dos repórteres mais premiados do país. Repórter da sucursal de Brasília do jornal Folha de S. Paulo, recebeu o prêmio Esso de Reportagem em 2001 e o Grande Prêmio Folha em 2002 e 2010. Iniciou sua carreira aos 19 anos, em Campo Grande (MS), no extinto jornal Diário da Serra, dos Diários Associados. Nos últimos dois anos, dedicou-se à investigação que resultou no livro Operação Banqueiro (Geração Editorial), um mergulho nos documentos e bastidores da Operação Satiagraha e da história de como o banqueiro Daniel Dantas escapou da prisão com apoio do Supremo Tribunal Federal e virou o jogo, passando de acusado a acusador. Confira a entrevista.

O que te levou a escrever o livro Operação Banqueiro?

Rubens Valente – Vários motivos. O principal foi a necessidade de relatar ao público fatos, documentos e interceptações telefônicas a que tive acesso e que tratavam de assuntos de grande interesse público. Havia dados e situações que o público deveria conhecer, mas que estavam escondidos dos olhos da sociedade pelo carimbo do sigilo.

Como você definiria a Operação Satiagraha?

R.V. – Creio que é uma história exemplar sobre crime e impunidade que diz muito sobre o país em que vivemos. Mostra como setores do Judiciário em Brasília foram extremamente tolerantes em relação a suspeitas sobre empresários e determinadas figuras da República. Procurei jogar luz sobre a impunidade de altas figuras da política e do empresariado nacional mais bem entrosado com a política.

Faltou transparência na investigação?

R.V. – Principalmente depois da segunda etapa da investigação, quando ela foi assumida por outra equipe da Polícia Federal após uma intervenção direta da cúpula da instituição, a sociedade brasileira não teve acesso completo aos documentos apreendidos pela polícia e colocados à disposição da Procuradoria Geral da República. Essa documentação agora é revelada no livro. São centenas de e-mails que demonstram a pressão exercida pelo grupo Opportunity sobre o governo Fernando Henrique Cardoso para que determinadas investigações não fossem realizadas. Como de fato não foram. Esses documentos foram apreendidos com ordem judicial e seguiram de São Paulo para Brasília por volta de 2009. Até agora, quase cinco anos depois, não se sabe o destino desses papéis, que providências foram tomadas, se é que foram tomadas. Também faltou transparência das cúpulas da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal em relação a uma investigação que procurou descobrir se houve grampo sobre o ministro Gilmar Mendes. Nós sabemos que nada foi encontrado, a imprensa chegou a publicar essa informação, mas até o momento nem a PF nem a PGR vieram a público para esclarecer, com todas as letras, a inexistência dessas escutas. Foi um episódio que jogou lama em autoridades do Executivo e do Judiciário e que até agora fica no ar, sem uma posição formal das autoridades. Isso é péssimo para a democracia.

Até que ponto a relação de Daniel Dantas com o poder político e econômico influenciou no andamento da investigação e no julgamento?

R.V. – Procuro mostrar no livro as diversas conexões de Dantas com o poder político e também as ligações dos advogados ligados ao grupo Opportunity com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que concedeu os dois habeas corpus em favor do banqueiro. Um dos advogados mais próximos de Mendes (por exemplo, a mulher do ministro hoje trabalha no escritório desse advogado) defendeu pessoalmente o banqueiro Daniel Dantas no final dos anos 90. Até que ponto essas relações influenciaram no julgamento é uma conclusão a que os leitores poderão chegar.

Houve grampo sobre os ministros do STF?

R.V. – Houve várias investigações simultâneas sobre essas alegações: CPI dos Grampos, inquérito da Polícia Federal, sindicâncias na Abin. Nenhuma delas encontrou a comprovação de grampo no tribunal. Eu me baseio nessas investigações para negar a existência da interceptação. Só podemos considerar como hipótese que a interceptação tenha ocorrido, o que é muito frágil, sob vários pontos de vista, inclusive jornalístico. Mas ainda que isso tenha ocorrido, ou se isso vier a ser comprovado no futuro, não há também nenhuma ligação concreta entre o suposto grampo e o comando da Operação Satiagraha, que foi a alegação da época. Ou seja, há dois pontos sem comprovação: tanto a escuta quanto a conexão da escuta com a Satiagraha.

A Abin foi acusada de cometer excessos durante as investigações. Você localizou algum indício disso?

R.V. – Parte da imprensa afirmou que a Abin ou agentes da Abin fizeram escutas clandestinas sobre diversos cidadãos, incluindo ministros de Estado. Contudo, as investigações posteriores demonstraram que nada disso existiu, não foi localizada nenhuma escuta telefônica ou ambiental realizada por agentes da Abin. A participação da Abin se restringiu a seguir e fotografar pessoas nas ruas e ler e interpretar e-mails ou ligações telefônicas interceptadas com ordem judicial, ou seja, não passou de um trabalho braçal e auxiliar da investigação da Polícia Federal.

O delegado Protógenes Queiroz cometeu erros ou equívocos estratégicos que prejudicaram o processo?

R.V. – Digo que o delegado mais acertou do que errou e que seus erros foram devidamente amplificados, distorcidos e exagerados pela defesa do banqueiro Daniel Dantas e por setores da imprensa. Quem cobre a polícia e o Judiciário sabe que a polícia comete sua parcela de equívocos nos inquéritos policiais, e por isso mesmo o sistema judiciário tem seu próprio processo de correção. As descobertas do delegado são submetidas ao Ministério Público e ao juiz do processo. Depois, os réus são ouvidos, podem oferecer recursos e esclarecimentos. Ou seja, a palavra do delegado nunca é a palavra final em um processo. Mas o foco todo foi lançado sobre o delegado, numa forma de desqualificar e enfraquecer todo o processo.

Que erros foram estes?

R.V. – O delegado cometeu erros de conteúdo e principalmente de ordem administrativa. O principal deslize foi não ter comunicado oficialmente à cúpula da Polícia Federal a entrada da Abin no caso. Mas quero ressaltar – e esse é o ponto principal – que nenhum dos eventuais deslizes do delegado era capaz de determinar a ilegalidade do caso Satiagraha, decisão depois tomada pelo STJ. Segundo a lei, compete ao delegado, e não à Abin, executar os atos da polícia judiciária, que são basicamente promover diligências, ouvir testemunhas ou acusados, apreender documentos, solicitar interceptações telefônicas. E tudo isso foi feito sob comando do delegado e com apoio do Ministério Público Federal, jamais pela Abin. Nesse sentido, todos os atos foram cometidos pelo delegado em estrito cumprimento da lei. As inúmeras investigações confirmaram o que estou dizendo.

Você acredita que setores da mídia trabalharam para “atenuar” o caso e “reconstruir” ou “reforçar” a imagem de Dantas?

R.V. – O meu trabalho não tratou do papel da mídia no caso Satiagraha, embora a mídia seja um personagem importante, devidamente tratada ao longo do livro. A meu ver, algumas acusações feitas pelo delegado no bojo de seu inquérito sobre o papel da mídia, ou suas opiniões sobre como ele achava que a mídia deveria se comportar, aprofundaram a desavença de parte da mídia, em especial a revista Veja, com o delegado e, por extensão, com todo o inquérito. As considerações do delegado não foram levadas adiante tanto pelo Ministério Público quanto pelo Judiciário, mas isso bastou para colocá-lo como alvo.

Houve o contrário, em sua opinião? Alguma tentativa de demonizá-lo?

R.V. – O que houve foi uma grande atenção da mídia sobre a figura de Dantas, o que é plenamente compreensível, já que ele foi preso e investigado pela Polícia Federal numa operação de grande envergadura. Qualquer pessoa naquelas condições, sendo ele quem era, atrairia a atenção redobrada da imprensa. A cobertura da imprensa sobre os fatos relativos à Operação Satiagraha procurou, como toda e qualquer investigação anterior e posterior, destacar as provas existentes sobre a conduta do banqueiro. Isso não é demonização, é apenas a divulgação de fatos de interesse público sobre uma figura pública.

Onde entra o PSDB na “novela” Daniel Dantas?

R.V. – No livro procuro demonstrar as estreitas ligações de Dantas com figuras do PSDB. Essa relação começa na campanha do presidente Fernando Henrique, em 1994, quando Dantas participou como consultor ou formulador de planos econômicos do PFL, o principal parceiro do PSDB na aliança que elegeu FHC. A ligação depois se acentua no processo de privatização das estatais telefônicas, quando grampos telefônicos demonstraram que a cúpula do governo FHC manejava em favor do consórcio liderado por Dantas. Por fim, figuras emblemáticas do PSDB passam a ser ameaçados por e-mails trocados entre Dantas e o consultor Roberto Amaral. Segundo o consultor, o banqueiro era “um grande credor” de políticos do PSDB.

E o PT?

R.V. – O banqueiro manteve uma relação ambígua com o PT. Até a eleição de Lula, teve várias rusgas com os fundos de pensão das estatais. Depois, passou a dizer que era vítima de uma conspiração petista, principalmente na figura do então presidente do Banco do Brasil, que teria pressionado o banco a abandonar suas disputas e fazer um acordo com os fundos. O banco procurou se aproximar do PT por meio do operador do mensalão Marcos Valério. Depois, em 2008, ele fez um acordo extraordinário com os fundos de pensão geridos por pessoas do PT, pelo qual todos abriram mão de suas inúmeras disputas judiciais em benefício da criação da supertele BrOi, o que era uma prioridade do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais tarde, em 2010, o grupo Opportunity doou R$ 1,5 milhão para a campanha eleitoral da presidente Dilma. Ou seja, a relação do banqueiro com o PT mudou drasticamente ao longo dos anos.

Já estás trabalhando em outro livro?

R.V. – Sim, estou em licença da sucursal da Folha em Brasília até agosto próximo em dedicação exclusiva, com viagens e entrevistas, para um livro sobre a relação entre a ditadura militar e os indígenas no Brasil. Eu ainda era criança, com nove anos, quando conheci os primeiros indígenas da reserva de Dourados. Ao longo da carreira de repórter, estive em mais de 50 aldeias indígenas, e sempre quis fazer um trabalho de maior fôlego sobre o assunto. No ano passado surgiu a oportunidade.

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Victor Barone é jornalista

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