PAPA FRANCISCO Hoje em dia, a casa vai ficando vazia

Em último dia de sua passagem por Cuba, Papa Francisco enalteceu a família como escola da humanidade. A família nos salva da colonização do dinheiro
Papa Francisco saudou família que partilhou com a comunidade sobre as dificuldades de viver uma ‘igreja doméstica’. Foto CTV

Papa Francisco saudou família que partilhou com a comunidade sobre as dificuldades de viver uma ‘igreja doméstica’. Foto CTV

Para Francisco, diante de uma sociedade administrada pela tecnocracia econômica, é necessária uma nova aliança do homem e da mulher para emancipar os povos da “colonização do dinheiro”. Esta aliança, defendeu o Papa, deve voltar a orientar a política, a economia e a convivência civil.
Desta aliança, a comunidade conjugal-familiar do homem e da mulher é a gramática gerativa. Deus confiou à família não o cuidado de uma intimidade fim em si mesma, mas o projeto de tornar “doméstico” o mundo.

“Propriamente a família está no início, na base desta cultura mundial que nos salva; nos salva de tantos ataques, destruições, colonizações, como a do dinheiro e a das ideologias que tanto ameaçam o mundo. A família é a base para defender-se”, disse o Papa.

Francisco salientou que tudo o que acontece entre o homem e a mulher deixa marcas na criação. Em concreto, o pecado original – a rejeição à bênção de Deus – adoeceu o mundo. Mas, recordou, Deus nunca abandonou o homem; no livro do Gênesis, a promessa feita à mulher parece garantir a cada nova geração uma bênção especial para defender-se do maligno.

“Existem muitos clichês, às vezes ofensivos, sobre a mulher sedutora que inspira o mal. Ao invés, há espaço para um teologia da mulher que seja à altura desta bênção de Deus para ela e para a geração!”, defendeu.

Cristo, recordou o Papa, nasceu de uma mulher. “É a carícia de Deus sobre as nossas chagas, nosso erros e pecados. Mas Deus nos ama como somos e quer levar-nos avante com este projeto, e a mulher é a mais forte a levá-lo avante.”

Francisco ressaltou que a promessa que Deus faz ao homem e à mulher inclui todos os seres humanos até o fim da história. “Se tivermos fé suficiente, as famílias dos povos da Terra se reconhecerão nesta bênção. Caminhando juntos, sem fazer proselitismo”, disse o Papa, pedindo a bênção de Deus às famílias de todos os ângulos da Terra.

Família, escola da humanidade

por Alessandra Borges

Em seu último dia de visita pastoral a Cuba, o Papa Francisco se encontrou com a famílias cubanas na Catedral de Nossa Senhora da Assunção, nesta terça, 22, na cidade de Santiago. Em seu discurso, o Pontífice agradeceu o acolhimento que recebeu em sua passagem pelo arquipélago, enaltecendo que se sentiu em casa durantes estes dias.

“Concluir a minha visita vivendo este encontro em família é motivo para agradecer a Deus pelo ‘calor’ que brota de gente que sabe receber, que sabe acolher, que sabe fazer sentir-se em casa. Obrigado!”, disse Francisco.

Papa Francisco iniciou o seu discurso agradecendo a coragem de um casal que testemunhou para todos os presentes “os seus anseios e esforços para viver no lar como uma ‘Igreja doméstica’”.

“A comunidade cristã designa as famílias pelo nome de igrejas domésticas, porque é no calor do lar onde a fé permeia cada canto, ilumina cada espaço, constrói comunidade; porque foi em momentos assim que as pessoas começaram a descobrir o amor concreto e operante de Deus”, explicou o Papa.

Utilizando-se do Evangelho de São João na passagem bíblica das bodas de Caná, e também a relação de amizade de Jesus com Lázaro, Marta e Maria, o Santo Padre exemplificou sobre a importância do ambiente familiar e das relações de amor e afeto que se formam.

“Jesus escolhe estes momentos para nos mostrar o amor de Deus, Jesus escolhe estes espaços para entrar nas nossas casas e ajudar-nos a descobrir o Espírito vivo e atuante nas nossas realidades cotidianas. É em casa onde aprendemos a fraternidade, a solidariedade, o não ser prepotentes. É em casa onde aprendemos a receber e agradecer a vida como uma bênção, e aprendemos que cada um precisa dos outros para seguir em frente. É em casa onde experimentamos o perdão, e somos continuamente convidados a perdoar, a deixarmo-nos transformar. Em casa, não há lugar para ‘máscaras’: somos aquilo que somos e, de uma forma ou de outra, somos convidados a procurar o melhor para os outros”, ressaltou o Papa.

 

Em seu discurso, o Pontífice ressaltou que a família, em muitas culturas, está deixando desaparecer os encontros e as festas familiares. “Sem família, sem o calor do lar, a vida torna-se vazia; começam a faltar as redes que nos sustentam na adversidade, alimentam na vida quotidiana e motivam na luta pela prosperidade”, exortou.

“A família é escola da humanidade, que ensina a pôr o coração aberto às necessidades dos outros, a estar atento à vida dos demais. Apesar de tantas dificuldades que afligem hoje as nossas famílias, não nos esqueçamos, por favor, disto: as famílias não são um problema, são sobretudo uma oportunidade; uma oportunidade que temos de cuidar, proteger, acompanhar”, afirmou o Santo Padre.

Segundo o Papa, quando formos questionados sobre o futuro da crianças, e que tipo de sociedade queremos deixar para elas, devemos responder que é um lugar que exista a presença das famílias.

“É certo que não existe a família perfeita, não existem esposos perfeitos, pais perfeitos nem filhos perfeitos, mas isso não impede que sejam a resposta para o amanhã. Deus incentiva-nos ao amor, e o amor sempre se compromete com as pessoas que ama. Portanto, cuidemos das nossas famílias, verdadeiras escolas do amanhã”, aconselhou o Pontífice.

Após o discurso, Papa Francisco, se dirigiu a parte externa da catedral de Nossa Senhora da Assunção para saudar os fiéis que o aguardavam com palavras de amor e saudação para as famílias.

Discurso do Papa Francisco, no encontro com as famílias na Catedral de Nossa Senhora da Assunção, em 22 de setembro de 2015, Santiago, Cuba

Estamos em família! E quando alguém está em família, sente-se em casa. Obrigado, famílias cubanas! Obrigado, cubanos, por me terdes feito sentir todos estes dias em família, por me terdes feito sentir em casa. Este encontro convosco é como «a cereja sobre o bolo». Concluir a minha visita vivendo este encontro em família é motivo para agradecer a Deus pelo «calor» que brota de gente que sabe receber, que sabe acolher, que sabe fazer sentir-se em casa. Obrigado!

Agradeço a D. Dionisio García, Arcebispo de Santiago, a saudação que me dirigiu em nome de todos e ao casal que teve a coragem de partilhar com todos nós os seus anseios e esforços para viver o lar como uma «igreja doméstica».

O Evangelho de João apresenta-nos, como primeiro acontecimento público de Jesus, as bodas de Caná, uma festa de família. Está lá com Maria, sua mãe, e alguns dos seus discípulos partilhando a festa familiar.

As bodas são momentos especiais na vida de muitos. Para os «mais veteranos», pais, avós, é uma ocasião para recolher o fruto da sementeira. Dá alegria à alma ver os filhos crescerem, conseguindo formar o seu lar. É a oportunidade de verificar, por um instante, que valeu a pena tudo aquilo por que se lutou. Acompanhar os filhos, apoiá-los, incentivá-los para que possam decidir-se a construir a sua vida, a formar a sua família, é um grande desafio para todos os pais. Os recém-casados, por sua vez, encontram-se na alegria. Todo um futuro que começa; tudo tem «sabor» a coisas novas, a esperança. Nas bodas, sempre se une o passado que herdámos e o futuro que nos espera. Sempre se abre a oportunidade de agradecer tudo o que nos permitiu chegar até ao dia de hoje com o mesmo amor que recebemos.

E Jesus começa a sua vida pública numa boda. Insere-Se nesta história de sementeiras e colheitas, de sonhos e buscas, de esforços e compromissos, de árduos trabalhos lavrando a terra para que dê o seu fruto. Jesus começa a sua vida no interior de uma família, no seio de um lar. E é no seio dos nossos lares que Ele incessantemente continua a inserir-Se, e deles continua a fazer parte.

É interessante observar como Jesus Se manifesta também nos almoços, nos jantares. Comer com diferentes pessoas, visitar casas diferentes foi um lugar que Jesus privilegiou para dar a conhecer o projeto de Deus. Vai à casa dos seus amigos – Lázaro, Marta e Maria -, mas não é seletivo: não Lhe importa se são publicanos ou pecadores, como Zaqueu. E não era só Ele que agia assim; quando enviou os seus discípulos a anunciar a boa nova do Reino de Deus, disse-lhes: «Ficai na casa [que vos receber], comendo e bebendo do que lá houver» (Lc 10, 7). Bodas, visitas aos lares, jantares: algo de «especial» hão-de ter estes momentos na vida das pessoas, para que Jesus prefira manifestar-Se aí.

Lembro-me que, na minha diocese anterior, muitas famílias me explicavam que o único momento que tinham para estar juntos era, normalmente, o jantar, à noite, quando se voltava do trabalho e as crianças terminavam os deveres da escola. Era um momento especial de vida familiar. Comentava-se o dia, aquilo que cada um fizera, arrumava-se a casa, guardava-se a roupa, organizavam-se as tarefas principais para os dias seguintes. São momentos em que uma pessoa chega também cansada, e pode acontecer uma ou outra discussão, um ou outro «litígio». Jesus escolhe estes momentos para nos mostrar o amor de Deus, Jesus escolhe estes espaços para entrar nas nossas casas e ajudar-nos a descobrir o Espírito vivo e actuante nas nossas realidades cotidianas. É em casa onde aprendemos a fraternidade, a solidariedade, o não ser prepotentes. É em casa onde aprendemos a receber e agradecer a vida como uma bênção, e aprendemos que cada um precisa dos outros para seguir em frente. É em casa onde experimentamos o perdão, e somos continuamente convidados a perdoar, a deixarmo-nos transformar. Em casa, não há lugar para «máscaras»: somos aquilo que somos e, duma forma ou doutra, somos convidados a procurar o melhor para os outros.

Por isso, a comunidade cristã designa as famílias pelo nome de igrejas domésticas, porque é no calor do lar onde a fé permeia cada canto, ilumina cada espaço, constrói comunidade; porque foi em momentos assim que as pessoas começaram a descobrir o amor concreto e operante de Deus.

Em muitas culturas, hoje em dia, vão desaparecendo estes espaços, vão desaparecendo estes momentos familiares; pouco a pouco, tudo leva a separar-se, a isolar-se; escasseiam os momentos em comum, para estar juntos, para estar em família. Assim não se sabe esperar, não se sabe pedir licença ou desculpa, nem dizer obrigado, porque a casa vai ficando vazia: vazia de relações, vazia de contatos, vazia de encontros. Recentemente, uma pessoa que trabalha comigo contava-me que a sua esposa e os filhos tinham ido de férias e ele ficara sozinho. No primeiro dia, a casa estava toda em silêncio, «em paz», nada estava fora do lugar. Ao terceiro dia, quando lhe perguntei como estava, disse-me: quero que regressem todos já. Sentia que não podia viver sem a sua esposa e os seus filhos.

Sem família, sem o calor do lar, a vida torna-se vazia; começam a faltar as redes que nos sustentam na adversidade, alimentam na vida cotidiana e motivam na luta pela prosperidade. A família salva-nos de dois fenómenos atuais: a fragmentação (a divisão) e a massificação. Em ambos os casos, as pessoas transformam-se em indivíduos isolados, fáceis de manipular e controlar. Sociedades divididas, quebradas, separadas ou altamente massificadas são consequência da ruptura dos laços familiares, quando se perdem as relações que nos constituem como pessoa, que nos ensinam a ser pessoa.

A família é escola da humanidade, que ensina a pôr o coração aberto às necessidades dos outros, a estar atento à vida dos demais. Apesar de tantas dificuldades que afligem hoje as nossas famílias, não nos esqueçamos, por favor, disto: as famílias não são um problema, são sobretudo uma oportunidade; uma oportunidade que temos de cuidar, proteger, acompanhar.

Discute-se muito sobre o futuro, sobre o tipo de mundo que queremos deixar aos nossos filhos, que sociedade queremos para eles. Creio que uma das respostas possíveis se encontra pondo o olhar em vós: deixemos um mundo com famílias. É certo que não existe a família perfeita, não existem esposos perfeitos, pais perfeitos nem filhos perfeitos, mas isso não impede que sejam a resposta para o amanhã. Deus incentiva-nos ao amor, e o amor sempre se compromete com as pessoas que ama. Portanto, cuidemos das nossas famílias, verdadeiras escolas do amanhã. Cuidemos das nossas famílias, verdadeiros espaços de liberdade. Cuidemos das nossas famílias, verdadeiros centros de humanidade.

Não quero concluir sem fazer menção da Eucaristia. Tereis notado que Jesus, como espaço do seu memorial, quis utilizar uma ceia. Escolhe como espaço da sua presença entre nós um momento concreto da vida familiar; um momento vivido e compreensível a todos: a ceia.

A Eucaristia é a ceia da família de Jesus, que, de um extremo ao outro da terra, se reúne para escutar a sua Palavra e alimentar-se com o seu Corpo. Jesus é o Pão de Vida das nossas famílias, quer estar sempre presente, alimentando-nos com o seu amor, sustentando-nos com a sua fé, ajudando-nos a caminhar com a sua esperança, para que possamos, em todas as circunstâncias, experimentar que Ele é o verdadeiro Pão do Céu.

Daqui a alguns dias, participarei juntamente com famílias do mundo inteiro no Encontro Mundial das Famílias e, dentro de um mês, no Sínodo dos Bispos, cujo tema é a família. Convido-vos a rezar especialmente por estas duas intenções, para que saibamos todos juntos ajudar-nos a cuidar da família, para que saibamos cada vez mais descobrir o Emanuel, o Deus que vive no meio do seu povo fazendo das famílias a sua morada.

Equador: Francisco propôs novo paradigma, na fronteira entre norte e sul

País abraçou o primeiro Papa sul-americano da história, num clima de festa que levou milhões às ruas de Quito e Guaiaquil

papa Francisco Equador

Quito, 08 jul 2015 (Ecclesia) – O Papa encerrou hoje em Quito a sua primeira visita ao Equador, iniciada no domingo, na qual propôs novos paradigmas sociais, económicos e ecológicos, sublinhando a importância da fé para a transformação da sociedade.

“Que as realizações alcançadas no progresso e desenvolvimento possam garantir um futuro melhor para todos, prestando especial atenção aos nossos irmãos mais frágeis e às minorias mais vulneráveis, que são a dívida que toda a América Latina ainda tem”, disse, logo à chegada

Num país que evoca a linha imaginária que divide a terra em dois hemisférios, Francisco falou perante milhões de pessoas numa Igreja que quer “construir pontes” e “curar as feridas” provocadas pela exclusão e as desigualdades.

“A esperança dum futuro melhor passa por oferecer oportunidades reais aos cidadãos, especialmente aos jovens, criando emprego, com um crescimento económico que chegue a todos e não se fique pelas estatísticas macroeconómicas, com um desenvolvimento sustentável”, sustentou.

Mais de um milhão de pessoas estiveram com o Papa na Missa a que Francisco presidiu em Quito, na qual recordou o “grito de independência” da América Latina e a força revolucionária da fé católica

“Dando-se, o homem volta a encontrar-se a si mesmo com a sua verdadeira identidade de filho de Deus, semelhante ao Pai e, como Ele, doador de vida, irmão de Jesus, de Quem dá testemunho. Isto é evangelizar, esta é a nossa revolução – porque a nossa fé é sempre revolucionária – este é o nosso grito mais profundo e constante”, declarou.

Esta é a segunda visita do Papa Francisco à América Latina, após a viagem ao Brasil em 2013, e a primeira a países de língua hispânica; é também a primeira após a publicação da encíclica ‘Laudato si’

“Uma coisa é certa: não podemos continuar a virar costas à nossa realidade, aos nossos irmãos, à nossa mãe terra. Não nos é lícito ignorar o que está a acontecer à nossa volta, como se determinadas situações não existissem ou não tivessem nada a ver com a nossa realidade. Não nos é lícito, mais ainda, não é humano entrar no jogo da cultura do descartável”, defendeu o pontífice argentino.

A nona viagem internacional do pontificado, com passagens por Quito e Guaiaquil, recordou ainda a importância das famílias, na Igreja e na sociedade.

O Papa, primeiro pontífice a visitar o Equador em mais de 30 anos, enviou uma mensagem final ao presidente Rafael Correa, com votos de “solidariedade e fraternidade” na vida do país.

Francisco realiza até ao próximo dia 13 a nona viagem apostólica internacional do pontificado para visitar o Equador, a Bolívia e o Paraguai, contando com a participação de milhões de latino-americanos nas cerimónias presididas pelo primeiro pontífice desta região na história da Igreja Católica.

O Papa percorre 24 730 quilómetros (equivalente a mais de meia volta ao mundo) em sete voos que totalizam cerca de 33 horas.

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Papa Francisco: A família é a primeira escola das crianças, é o grupo de referência imprescindível para os jovens, é o melhor asilo para os idosos

A família esteve no centro do segundo dia do Papa Francisco no Equador. Um «grande recurso social» definiu-a o Pontífice falando a uma multidão de pessoas na esplanada do parque de Los Samanes em Guayaquil – onde presidiu à missa na manhã de segunda-feira 6 de Julho – e recordando o seu papel insubstituível na sociedade.

Daqui o apelo a apoiá-la garantindo-lhe ajudas e serviço. Que não são – especificou Francisco – uma espécie de «esmola», mas uma verdadeira «dívida social» em relação a uma instituição que «contribui de forma significativa para o bem comum». Para o Papa a família permanece hoje uma defesa para a vida de cada sociedade; é uma escola para os mais pequeninos, um ponto de referência para os jovens, um lugar de acolhimento para os idosos. Além disso, constitui uma «igreja doméstica» onde se aprende o estilo do amor e do serviço, e onde se transmite todos os dias a ternura e a misericórdia.

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HOMILIA DO SANTO PADRE

A passagem do Evangelho que acabámos de ouvir é o primeiro sinal portentoso que se realiza segundo a narrativa do Evangelho de João. A preocupação de Maria, transformada em súplica a Jesus: «Não têm vinho!» – disse-Lhe – e a referência à «hora» compreender-se-ão, depois, nos relatos da Paixão.

É bom que assim seja, porque permite-nos ver a ânsia de Jesus por ensinar, acompanhar, curar e alegrar, a começar da súplica de sua Mãe: «Não têm vinho!»

As bodas de Caná repetem-se em cada geração, em cada família, em cada um de nós e nossas tentativas de fazer com que o nosso coração consiga apoiar-se em amores duradouros, em amores fecundos e em amores felizes. Demos um lugar a Maria, «a mãe», como diz o evangelista. E façamos com Ela agora o itinerário de Caná.

Maria está atenta, está atenta naquelas bodas já iniciadas, é solícita pelas necessidades dos esposos. Não Se fecha em Si mesma, não Se encerra no seu mundo; o seu amor fá-La «ser para» os outros. Nem procura as amigas para comentar o que se está a passar e criticar a má preparação das bodas. E como está atenta, com a sua discrição dá-Se conta de que falta o vinho. O vinho é sinal de alegria, de amor, de abundância. Quantos dos nossos adolescentes e jovens percebem que, em suas casas, há muito que não existe desse vinho! Quantas mulheres, sozinhas e tristes, se interrogam quando foi embora o amor, quando o amor se diluiu da sua vida! Quantos idosos se sentem deixados fora da festa das suas famílias, abandonados num canto e já sem beber do amor diário dos seus filhos, dos seus netos, dos seus bisnetos. A falta desse vinho pode ser efeito também da falta de trabalho, das doenças, situações problemáticas que as nossas famílias atravessam em todo o mundo. Maria não é uma mãe «reclamadora», nem uma sogra que espia para se consolar com as nossas inexperiências, os nossos erros ou descuidos. Maria, simplesmente, é mãe! Permanece ao nosso lado, atenta e solícita. É belo escutar isto: Maria é mãe! Tendes coragem para o dizer todos juntos comigo? Então: Maria é mãe! Outra vez: Maria é mãe! Outra vez: Maria é mãe!

Maria, porém, no momento em que constata que falta o vinho, dirige-Se com confiança a Jesus: isto significa que Maria reza. Vai ter com Jesus, reza. Não vai ao chefe de mesa; apresenta a dificuldade dos esposos directamente a seu Filho. A resposta que recebe parece desalentadora: «E que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora» (v. 4). Mas, entretanto, já deixou o problema nas mãos de Deus. A sua aflição com as necessidades dos outros apressa a «hora» de Jesus. E Maria é parte desta hora, desde o presépio até à cruz – Ela soube «transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura» (EG 286), e recebeu-nos como filhos quando uma espada Lhe trespassava o coração –, Maria ensina-nos a deixar as nossas famílias nas mãos de Deus; ensina-nos a rezar, acendendo a esperança que nos indica que as nossas preocupações também preocupam a Deus.

E, rezar, sempre nos arranca do perímetro das nossas preocupações, fazendo-nos transcender aquilo que nos magoa, o que nos agita ou o que nos faz falta a nós mesmos, e nos ajuda a colocarmo-nos na pele dos outros, calçarmos os seus sapatos. A família é uma escola onde a oração também nos lembra que há um nós, que há um próximo vizinho, patente: que vive sob o mesmo tecto, que compartilha a vida e está necessitado.

E, finalmente, Maria actua. As palavras «fazei o que Ele vos disser» (v. 5), dirigidas aos serventes, são um convite dirigido também a nós para nos colocarmos à disposição de Jesus, que veio para servir e não para ser servido. O serviço é o critério do verdadeiro amor. Aquele que ama serve, põe-se ao serviço dos outros. E isto aprende-se especialmente na família, onde nos tornamos servidores uns dos outros por amor. Dentro da família, ninguém é descartado; todos valem o mesmo.

Lembro-me que uma vez perguntaram à minha mãe qual dos cinco filhos – nós somos cinco irmãos – qual dos cinco filhos amava mais. E ela disse [mostra a mão]: como os dedos, se me picam este dói-me o mesmo que se me picam outro. Uma mãe ama seus filhos como são. E, numa família, os irmãos amam-se como são. Ninguém é descartado.

Lá, na família, «aprende-se a pedir licença sem servilismo, a dizer “obrigado” como expressão duma sentida avaliação das coisas que recebemos, a dominar a agressividade ou a ganância; lá se aprende também a pedir desculpa quando fazemos algo de mal, quando nos ofendemos. Porque, em toda a família, há ofensas. O problema é depois pedir perdão. Estes pequenos gestos de sincera cortesia ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia» (LS 213). A família é o hospital mais próximo, quando uma pessoa está doente cuidam-na lá enquanto se pode. A família é a primeira escola das crianças, é o grupo de referência imprescindível para os jovens, é o melhor asilo para os idosos. A família constitui a grande «riqueza social», que outras instituições não podem substituir, devendo ser ajudada e reforçada para não perder jamais o justo sentido dos serviços que a sociedade presta aos seus cidadãos. Com efeito, estes serviços que a sociedade presta aos cidadãos não são uma espécie de esmola, mas uma verdadeira «dívida social» para com a instituição familiar, que é a base e que tanto contribui para o bem comum de todos.

A família também forma uma pequena Igreja – chamamo-la «Igreja doméstica» – que, juntamente com a vida, canaliza a ternura e a misericórdia divina. Na família, a fé mistura-se com o leite materno: experimentando o amor dos pais, sente-se mais perto do amor de Deus.

E, na família – disto todos somos testemunhas -, os milagres fazem-se com o que há, com o que somos, com aquilo que a pessoa tem à mão. Muitas vezes não é o ideal, não é o que sonhamos, nem o que «deveria ser». Há qui um detalhe que nos deve fazer pensar: o vinho novo, o vinho melhor, como o designa o mestre de mesa nas bodas de Caná, nasce das talhas de purificação, isto é, do lugar onde todos tinham deixado o seu pecado… Nasce do «piorzinho», porque «onde abundou o pecado, superabundou a graça» (Rm 5, 20). E na família de cada um de nós e na família comum que todos formamos, nada se descarta, nada é inútil. Pouco antes de começar o Ano Jubilar da Misericórdia, a Igreja vai celebrar o Sínodo Ordinário dedicado às famílias, para amadurecer um verdadeiro discernimento espiritual e encontrar soluções e ajudas concretas para as inúmeras dificuldades e importantes desafios que hoje a família deve enfrentar. Convido-vos a intensificar a vossa oração por esta intenção: para que, mesmo aquilo que nos pareça impuro como a água das talhas, nos escandalize ou nos espante, Deus – fazendo-o passar pela sua «hora» – possa milagrosamente transformá-lo. Hoje a família precisa deste milagre.

E toda esta história começou porque «não tinham vinho» e tudo se pôde fazer porque uma mulher – a Virgem Maria – esteve atenta, soube pôr nas mãos de Deus as suas preocupações e agiu com sensatez e coragem. Mas há um detalhe, não é menos significativo o dado final: saborearam o melhor dos vinhos. E esta é a boa nova: o melhor dos vinhos ainda não foi bebido, o mais gracioso, o mais profundo e o mais belo para a família ainda não chegou. Ainda não veio o tempo em que saboreamos o amor diário, onde os nossos filhos redescobrem o espaço que partilhamos, e os mais velhos estão presentes na alegria de cada dia. O melhor dos vinhos aguardamo-lo com esperança, ainda não veio para cada pessoa que aposta no amor. E na família há que apostar no amor, há que arriscar no amor. E o melhor dos vinhos ainda não veio, mesmo que todas as variáveis e estatísticas digam o contrário; o melhor vinho ainda não chegou para aqueles que hoje vêem desmoronar-se tudo. Murmurai isto até acreditá-lo: o melhor vinho ainda não veio. Murmurai-o cada um no seu coração: o melhor vinho ainda não veio. E sussurrai-o aos desesperados ou aos que desistiram do amor: Tende paciência, tende esperança, fazei como Maria, rezai, actuai, abri o coração porque o melhor dos vinhos vai chegar. Deus sempre Se aproxima das periferias de quantos ficaram sem vinho, daqueles que só têm desânimos para beber; Jesus sente-Se inclinado a desperdiçar o melhor dos vinhos com aqueles que, por uma razão ou outra, sentem que já se lhes romperam todas as talhas.

Como Maria nos convida, façamos «o que o Senhor nos disser» Fazei o que Ele vos disser. E agradeçamos por, neste nosso tempo e nossa hora, o vinho novo, o melhor, nos fazer recuperar a alegria da família, a alegria de viver em família. Assim seja.

Que Deus vos abençoe e acompanhe! Rezo pela família de cada um de vós, e vós fazei o mesmo que fez Maria. E, por favor, peço-vos que não vos esqueçais de rezar por mim. Até ao regresso!

Papa Francisco: “A falta ou a perda do trabalho, ou a sua forte precariedade, incidem de forma muito pesada sobre a vida familiar”

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Cidade do Vaticano, 3 jun 2015 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje para as situações que colocam as famílias em vulnerabilidade, denunciando a guerra, “mãe de todas as pobrezas”, e os sistemas económicos que geram miséria.

“Efetivamente, a miséria social atinge a família e por vezes a destrói. A falta ou a perda do trabalho, ou a sua forte precariedade, incidem de forma muito pesada sobre a vida famíliar, colocando duramente à prova as relações”, denunciou, durante a audiência semanal que decorreu no Vaticano.

Francisco defendeu que os cristãos devem estar “cada vez mais perto das famílias que a pobreza coloca à prova”, sublinhando que todos os presentes na Praça de São Pedro conhecem situações de pessoas atingidas pelo desemprego.

Na Praça de São Pedro, denunciou as condições de vida nos bairros desfavorecidos, que causam “ainda mais dificuldades” às famílias, com impacto na “habitação e transporte” e “redução dos serviços sociais, saúde e educação”.

Derrubar os muros

Segundo Francisco, para além dos fatores materiais as famílias são também afetadas por “pseudomodelos” que os meios de comunicação social divulgam, baseados no consumismo e no culto da aparência, que acabam por “quebrar os laços familiares”.

Neste contexto, a Igreja frisou que “deve ser pobre para ser fecunda”, com uma “simplicidade voluntária” nas suas instituições e no estilo de vida dos seus membros para “derrubar todos os muros de separação, principalmente dos pobres”.

“É quase um milagre que no meio de tanta pobreza as famílias continuem a ser formadas, mantendo inclusive relações humanas tão especiais. Devíamos ajoelhar-nos aos pés dessas famílias que são uma verdadeira escola de humanidade, que salva a sociedade da barbárie”, desenvolveu, pedindo uma “nova ética civil” para regulamentar as relações sociais.

Com efeito, é «quase um milagre que, até na pobreza, a família continue a formar-se». Uma realidade que «irrita os planejadores do bem-estar», os quais «consideram os vínculos familiares uma variável secundária». Na realidade, comentou o Papa, «deveríamos ajoelhar-nos diante destas famílias, que são uma verdadeira escola de humanidade que salva as sociedades da barbárie». Por isso, exortou os responsáveis da vida pública a fim de que reorganizem «o vínculo social a partir da luta à espiral perversa entre família e pobreza».

Economia familiar

De facto, a economia actual «especializou-se na fruição do bem-estar individual, mas pratica largamente a exploração dos vínculos familiares», sem que «o imenso trabalho da família» seja «quotado nos balanços». Não obstante isto, prosseguiu o Pontífice, «a formação interior da pessoa e a circulação social dos afectos têm o seu pilar exactamente aqui».

Depois de ter analisado as consequências sociais da miséria sobre as famílias, o Papa chamou em causa a Igreja. E afirmou que, para ser pobre deve praticar «uma simplicidade voluntária – nas suas instituições, no estilo de vida dos seus membros – para abater qualquer muro de separação».

Francisco alertou mais uma vez para as políticas económicas que são contrárias à família cujo trabalho “imenso” não é “contabilizado nos balanços, nem reconhecido”.

Nova ética

“É quase um milagre que, em meio à tanta pobreza, famílias continuem sendo formadas, mantendo inclusive relações humanas tão especiais. Deveríamos nos ajoelhar diante destas famílias que são uma verdadeira escola de humanidade que salva a sociedade da barbárie”, considerou Francisco, pedindo aos responsáveis pela vida pública “uma nova ética civil” para regulamentar as relações sociais.

Prosseguindo a catequese, o Papa denunciou a contradição entre as políticas econômicas e a família. “O trabalho da família é imenso e não é contabilizado nos balanços… nem reconhecido” disse, completando que “a formação interior das pessoas e a circulação social dos afetos têm justamente ali seu alicerce. Se ele for derrubado, tudo cai”.

Não só de pão…

“E não é só questão de pão! Falamos de trabalho, de instrução, de saúde. Quando vemos imagens de crianças desnutridas e doentes em tantos lugares do mundo nós nos comovemos muito. E o mesmo acontece ao vermos o olhar de crianças carentes de tudo, quando mostram com orgulho seu lápis e caderno, admirando com amor seu professor ou professora!… As crianças sabem que o homem não vive só de pão; as crianças querem amor!”.

Francisco lembrou que nós cristãos devemos estar sempre mais próximos das famílias que vivem na pobreza. “A miséria social atinge a família e por vezes a destrói. A falta ou a perda do trabalho, ou sua precariedade, incidem fortemente na vida familiar, colocando relacionamentos à dura prova”, advertiu.

Papa adverte que abandonar idosos é “pecado mortal”.

O papa advertiu hoje que abandonar os idosos é um “pecado mortal” e sem “honrar os idosos” não há “futuro para os jovens”

 

 

Cecigian

Cecigian

Francisco falava na audiência geral das quartas-feiras, perante milhares de fiéis concentrados na praça de São Pedro.

“Os idosos deviam ser para toda a sociedade uma reserva de sabedoria”, sublinhou.

“Os idosos são abandonados, não só em condições materiais precárias, mas também enfrentam numerosas dificuldades que devem ultrapassar para sobreviver numa sociedade que não quer a sua participação”, declarou.

O papa referiu que, graças ao progresso da medicina, “a vida humana aumentou, mas o coração não cresceu” perante a realidade dos idosos.

Francisco denunciou a sociedade atual, referindo-se mais uma vez à “cultura do descartável”, que “abandona os idosos” e onde muitos deles “vivem com angústia esta situação de abandono”.

“Os idosos são homens e mulheres, pais e mães, que estiveram antes de nós no nosso caminho, na nossa mesma casa, na nossa batalha quotidiana por uma vida boa. Homens e mulheres de quem recebemos muito”, sublinhou.

“O idoso não é um ser estranho, o idoso somos nós. Dentro de muito ou pouco (tempo), é inevitável. Se não aprendermos a tratar bem os idosos, assim seremos tratados”, acrescentou.

O papa frisou que uma sociedade “sem proximidade é uma sociedade perversa” e a Igreja, “fiel à palavra de Deus”, não pode tolerar essa sociedade. Agência Lusa/ Jornal I

 

Os idosos somos nós

Na audiência geral o Papa Francisco fala da importância dos avós e da sua condição problemática 

Payam Boromand

Payam Boromand

«A atenção dada aos idosos distingue uma civilização»: foi a admoestação lançada pelo Papa Francisco na audiência geral de quarta-feira 4 de Março. Ao encontrar na praça de São Pedro doze mil fiéis provenientes de todas as partes do mundo, o Pontífice prosseguiu o ciclo de reflexões dedicadas à família e analisou a «actual condição problemática» dos avós, face a tantas situações de abandono e indiferença. E definiu «perversa» «uma sociedade sem proximidade» em relação «a esta fase da vida».

Acrescentando, como de costume, algumas considerações pessoais ao texto preparado, o Papa explicou que «os idosos são uma riqueza, não se podem ignorar», porque «esta civilização só irá em frente se souber respeitar» a sua sabedoria. Com efeito, prosseguiu com uma imagem forte, «uma civilização na qual os idosos são descartados porque causam problemas tem em si o vírus da morte».

Inspirando-se na sua experiência durante o ministério episcopal em Buenos Aires, o Pontífice recordou a situação de uma idosa abandonada pelos filhos que não se lamentava não obstante tivessem passado oito meses depois da última visita deles. «Isto chama-se pecado mortal» comentou. Em seguida repropôs a história – que lhe foi contada pela sua avó – de uma família na qual um idoso que «se sujava quando comia» foi relegado para «a cozinha para que não fizessem má figura quando os amigos vinham almoçar ou jantar». A narração prossegue com o cenário de um pai de família que poucos dias mais tarde, quando voltou para casa, encontrou o filho a brincar com madeira, martelo e pregos. Quando o pai lhe perguntou o que estava a fazer, o menino respondeu: «Construo uma mesa para quando tu fores idoso, assim podes comer ali». Demonstrando, frisou Francisco, que na relação com os idosos «as crianças têm mais consciência do que nós».

Onde não são honrados os idosos, não há futuro para os jovens

 Ramses Morales Izquierdo

Ramses Morales Izquierdo

Figuras importantes na família são os avós, a reserva sapiencial da vida. Infelizmente uma certa cultura do lucro insiste em fazer aparecer os idosos como um peso, que se deve descartar. Isto não se diz abertamente, mas é assim que se procede. Com o progresso da medicina, foi possível alongar a vida, mas a sociedade não soube “alargar-se” para a acolher e rejubilar com ela. A Igreja não pode nem quer conformar-se com o modelo consumista actual que olha com impaciência, indiferença e desprezo para a velhice. Os idosos são homens e mulheres, pais e mães que percorreram, antes de nós, as mesmas estradas, estiveram na mesma casa, travaram a mesma luta diária por uma vida digna. São homens e mulheres de quem muito recebemos. Temos de despertar o sentimento colectivo de gratidão, apreço, hospitalidade, que faça sentir o idoso como parte activa da sua comunidade. O idoso é cada um de nós daqui a alguns anos; inevitavelmente, embora não pensemos nisso. Todos os idosos são frágeis; mas há alguns que o são de modo particular porque sem ninguém e a braços com a doença: dependem absolutamente dos cuidados e da solicitude dos outros. Mas, por esse motivo, vamos abandoná-los? Uma sociedade, onde a gratuidade e o afecto desinteressado vão desaparecendo – mesmo para com os de fora da família –, é uma sociedade perversa. A Igreja, fiel à Palavra de Deus, não pode tolerar tais degenerações. Uma comunidade cristã, onde deixassem de ser consideradas indispensáveis a proximidade e a gratuidade, com elas perderia a sua alma. Onde não são honrados os idosos, não há futuro para os jovens. Copyright – Libreria Editrice Vaticana

Ficamos mais intolerantes com o avançar da idade?

No convívio do dia a dia com nossos entes queridos é que surgem as pequenas implicâncias. Precisamos entender que o humor vai mudando ao longo da vida, que limites físicos e psicológicos se instalam silenciosamente

 

É mais fácil sinalizarmos para os familiares o que nos incomoda oferecendo sugestões, do que disparar a lista de críticas

É mais fácil sinalizarmos para os familiares o que nos incomoda oferecendo sugestões, do que disparar a lista de críticas

 

por Elizabeth Ventura

 

icamos mais intolerantes com o avançar da idade? Temos menos paciência com as situações cotidianas? Aquelas que não nos irritavam antes?

No convívio com nossos entes queridos, com a família, justamente na rotina do dia a dia, é que surgem as implicâncias, as pequenas brigas, ou chateações. Às vezes, esses aborrecimentos se estabelecem entre as pessoas, por motivos pequenos: onde um deixou a toalha de banho, porque o outro não fechou a porta do armário, ou porque alguém na casa está ouvindo música num volume muito alto, etc.

Também acontecem conflitos quando um membro da família se aposenta e passa mais tempo em casa, alterando a rotina de quem já estava lá. Lógico que a dinâmica familiar mudou e, dependendo do temperamento das pessoas, o convívio pode ser mais ou menos tenso.

Diálogo para estabelecer novos contratos

Em qualquer situação, vale o diálogo, a conversa aberta e franca para estabelecer novos contratos. É mais fácil sinalizarmos para os familiares o que nos incomoda oferecendo sugestões, do que disparar a lista de críticas. Quem se coloca como “dono da verdade”, de forma inflexível, acaba se isolando, pois as outras pessoas também querem ser ouvidas, compreendidas.

Às vezes, ouço pessoas mais maduras dizendo que já suportaram muito na vida, que já aguentaram bastante e que, agora, na melhor idade, são mais livres, portanto, não precisam ouvir certas coisas.

Precisamos entender que o humor vai mudando ao longo da vida, que limites físicos e psicológicos se instalam silenciosamente. Se estamos sentindo dores pelo corpo, ou insegurança quanto a ficar sozinhos, se estamos sem atividades prazerosas ou desafiadoras, talvez sem que percebamos, nos tornamos rabugentos, sensíveis.

Mente ativa, corpo em movimento e amizades

Mais do que nunca, é fundamental manter a mente ativa, o corpo em movimento, mesmo em menor ritmo, sem deixar de lado os contatos sociais. Converse com antigos amigos, chame-os para um café, entre nas redes sociais, faça cursos.

Conviver, compartilhar ideias e ações, não é tarefa fácil, em nenhuma idade, pois o ser humano tende a ser egoísta, e cada um tem uma mania. No entanto, somos todos dependentes uns dos outros, e aprendemos muito com as diferenças . São elas que nos fazem crescer,questionar, reciclar nossos pensamentos.

Que tal exercitar mais tolerância e paciência? Que tal experimentar viver em paz? Pense nisso.

 

 

Elizabeth Ventura, psicóloga com especialização em Psicosíntese, terapeuta individual e de grupo, coordenadora do projeto ‘Permitir-se’, formação holística de base (UNIPAZ), colunista do Portal Terceira Idade

 

 

El asilo, última opción para el adulto mayor

 

Los hogares para personas de esta edad son una modalidad socio-sanitaria compleja. En ellos existe una variedad de actores que se interrelacionan entre sí. Muchas familias, en especial las mujeres de la casa, tratan de sostener el cuidado de su familiar, pero al volverse éste más dependiente o agresivo, surge la necesidad de delegar el cuidado.

 

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por Margarita Murgieri/ Argentina

En principio el domicilio es el mejor lugar para vivir. Hay un viejo aforismo que reza: “En casa mientras sea posible, en la residencia cuando sea necesario”.

Muchas veces no están claras cuáles son esas necesidades. ¿Transitorias o definitivas?, ¿médicas o sociales? Pilar Rodríguez define Residencia de Adultos Mayores como centro “abierto” de desarrollo personal y atención socio-sanitaria multiprofesional en el que viven temporal o permanentemente personas mayores con algún grado de dependencia (física, mental, funcional o social).

Cuando hablamos de centro abierto nos referimos a que los hogares deben ser de puertas abiertas y el ingreso con el consentimiento de la persona mayor. Muchas residencias privadas son de puertas cerradas y ello puede ser un concepto de privación ilegítima de la libertad.

Un centro residencial también debe ser abierto para el ingreso de las personas de la comunidad (para prácticas pre-profesionales, acciones de voluntariado, espectáculos musicales de danza o teatro, etc.).

Cuando se menciona ‘desarrollo personal’ está implícito el hecho de que a la residencia se va a vivir, no a estar internado. La vida implica proyectos, desarrollo, crecimiento. Otro punto a tener en cuenta es que se trata de centros donde la atención es socio-sanitaria. No solo social y no solo sanitaria. La atención es multiprofesional. Aquí podríamos cambiar el término por interdisciplinaria, lo cual establece mejor las pautas de atención integral que el adulto mayor necesita.

Martin Pérez del Molino llama a las Residencias de Personas Mayores Centro de Cuidados Continuados. Esta nueva definición pone ‘valor’ al término residencia. La institucionalización de adultos mayores es una alternativa válida cuando se han explorado otras opciones. Un aforismo médico anónimo del siglo XV dice: “Se cura algunas veces, se alivia con frecuencia, se cuida siempre”. A los médicos, tan apegados al modelo biológico y omnipotente, este aforismo nos llama a la reflexión. Pero el cuidado no es resorte solo del ‘arte’ médico o de enfermería, sino de cualquier miembro del equipo interdisciplinario.

Cuidar implica tareas específicas de cada disciplina, pero también implica relaciones y sentimientos. La gestión pública está centrada en el ciudadano. La función de la institución pública es crear valor público: es una ganancia o un beneficio a la calidad de vida de la población. Así como en lo privado los beneficiarios son clientes, en las instituciones públicas los destinatarios son derecho-habientes y su principal condición es ser ciudadanos.

El valor público se alcanza cuando se logra satisfacer lo más plenamente los objetivos de la institución, en nuestro caso, el cuidado socio-sanitario equitativo y de calidad de las personas mayores.

Existen varios desafíos que plantea el cuidado en Centros Residenciales, así podemos mencionar:

Desafío o controversia: es aquel derivado de la heterogeneidad y la diversidad en la tipología de los residentes: Doble concepción y exigencia de ser un lugar para vivir y un espacio de atención especializada con cuidados médicos y de enfermería. Una residencia no puede ser un efector de salud, pero es un aspecto que no debe ser descuidado. La provisión de medicamentos, las guías preventivas, la provisión de prótesis, las interconsultas a especialistas, la evaluación médica mensual son aspectos que no pueden ser dejados de lado.

Un desafío derivado del anterior es la problemática de convivencia. Cuando personas mayores tan diferentes unas de otras intentan convivir ocurre lo que podemos llamar colisión de estilos de vida y colisión de derechos.

Por otro lado, las personas que provienen de situación de calle muchas veces padecen patologías psiquiátricas larvadas sin diagnóstico ni tratamiento y frecuentes trastornos de personalidad, lo que también dificulta la convivencia.

La frustración hace recurrente la queja. Al hogar se lo ama y se lo odia. Es el lugar que les da pertenencia, protección y cuidado; si no estuvieran allí, vivirían en la calle, pero por otro lado no es lo que hubieran deseado de sus vidas.

El ingreso a la institución es un factor de fragilidad como un cambio de domicilio, donde se desestructuran los mapas mentales y son desencadenantes a veces de síndromes geriátricos como las caídas.

Muchos residentes temen la pérdida de control, a la vez que se alteran los hábitos, hay que cumplir horarios y reglamentos que si bien no son restrictivos tienden a ordenar la convivencia.

A pesar de la interesante oferta de talleres y actividades que se les presentan, los residentes tienen gran cantidad de tiempo libre. A efectos de mejorar la convivencia se efectúan intervenciones en equipo interdisciplinario. Es un gran esfuerzo lograr la compatibilidad. Es función del equipo trabajar sobre las personas ya instaladas para que mejoren su convivencia.

Hay una gran tendencia al aislamiento, les cuesta mucho hacer nuevas amistades. La propuesta es que ellos puedan elegir con quién vivir (pareja o no). El personal debe entrenarse en el manejo de conflictos y habilidades de negociación. No siempre la respuesta es la esperada por el residente, que suele tener una actitud acreedora con el hogar.

Existen muchos autores a favor de crear unidades especializadas, por ejemplo para enfermos que padecen de Alzheimer, porque el personal puede tener mayor capacitación y dedicación.

Por otro lado, puede adecuarse el espacio físico a pacientes con demencia. Esto genera residentes dependientes o se deterioran cognitivamente no pueden mantener la misma habitación durante su estadía en el centro.

DATOS

Personas que han perdido sus redes vinculares por adicción al juego, drogas o alcohol, delitos o trastornos de la personalidad, sin vinculación familiar.

Personas que han perdido su trabajo, trabajadores en negro o precarizados. En situación de calle porque no pudieron acceder a vivienda, la han perdido o se han desvinculado de su familia.

Personas que han caído económicamente y socialmente producto de la movilidad descendente durante la crisis del 2001. En el caso de Argentina pero igual fenómeno sucede en otros países.

Personas mayores con diversas patologías crónicas e incapacitantes que no pueden ser cuidadas en el hogar (amputados, diabéticos, incontinentes, dementes y con patologías psiquiátricas, con problemas mentales y funcionales complejos).

Personas mayores en situación de alta por enfermedades agudas o reagudización de crónicas, bloqueando camas hospitalarias, sin poder externarse.

Enviados por juzgados, por cualquiera de las razones anteriores.

EL CUIDADO DESDE LA ÉTICA

“Los derechos y obligaciones de los residentes se ponen en juego cada día”

Palabra Mayor / Voces en el Fénix

La ética del cuidado es aquella que coloca a los sujetos en medio de una red de relaciones. Es un valor personal y profesional.

La ética del cuidado se pone en práctica al ingreso, a través del consentimiento informado, la aceptación de la persona, el ofrecimiento de otras alternativas, y durante la estadía, a través del respeto máximo de la autonomía, deseos, decisiones sobre la intensidad y el tipo de cuidados en el marco del mejor equilibrio entre derechos y obligaciones.

La ética del cuidado se sostiene a través del buen trato, la atención centrada en la persona, protocolización de las sujeciones físicas, el derecho a la información y protección de datos personales, el respeto a la diversidad y la satisfacción diferenciada de las necesidades de quienes están a nuestro cuidado.

La institución para personas adultas mayores es una modalidad socio-sanitaria compleja, por la variedad de actores que se interrelacionan entre sí, por los derechos y obligaciones que ponen en juego cada día, porque sus residentes son sujetos de cuidado a la vez que sujetos de derecho, porque muchas veces el principio de autonomía roza la responsabilidad que los funcionarios tienen sobre las personas que están a su cuidado.

Algunas personas mayores, sobre todo aquellas ingresadas desde la calle con alto grado de vulnerabilidad social, no van a vivir aquí hasta sus últimos días ya que son posibles las externaciones a casas de familiares, a otros hogares, a hoteles con subsidios u otra vez a la calle pasado el frío invernal.

La institucionalización sirve como un lugar (antropológico) para recomponer fuerzas, cubrir sus necesidades básicas, conectarse con su interioridad, conocer la problemática de los otros, compartir, volver a sentir pertenencia y afiliación, configurar su identidad y restaurar el vínculo con la sociedad.

Merklen Denis habla de “sentido de pertenencia dañado” en aquellos que viven en los márgenes y aquí les es posible repararlo.

La institucionalización es un punto de inflexión en los trayectos de las vidas de estas personas mayores.

Esta relación afectiva ambigua hacia la institución hace que se la rechace y se la necesite, sentimiento acompañado del miedo a volver a la situación de marginación y exclusión a la que los arrojó el fracaso en el sistema laboral o familiar.

Los hogares para personas adultas mayores son una modalidad socio-sanitaria compleja. En ellos existe una variedad de actores que se interrelacionan entre sí, donde los residentes tienen derechos y obligaciones que se ponen en juego cada día. Para ello se requiere de un tratamiento profesional que apunte a mejorar la calidad de vida de los internos.

 

Lxs chicxs crecen

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¿Recuerda cuando los niños y niñas hablaban de repollos y de encargos a París? ¿De hadas y hombres de la bolsa? ¿Cuando el concepto de infancia ni siquiera existía y los locos bajitos eran adultos imperfectos? Las infancias cambian junto con las sociedades, pero la imaginación y la lucidez siguen siendo motivo de registro como el que puede leerse en esta nota. Una de los grandes desafíos que enfrentan las familias no heternormativas es liberarse de la necesidad de demostrar que sus hijos son tan normales como el resto o que son mejores. Graham Greene lo decía con una frase críptica y sabia: siempre hay un momento en la infancia en que una puerta se abre y entra el futuro. Ojalá esa puerta tenga la amabilidad de permitir que entre un futuro mejor.

Yaser Abo Hamed

Yaser Abo Hamed

Camila, que ahora tiene 9 años, es hija de Ariel de una pareja hétero anterior. Cuando nosotros nos conocimos ella tenía un año y medio. Desde chiquita ya intuía que nosotros no éramos solamente amigos, ya que cuando estábamos cerca ella nos juntaba las cabezas para que nos besáramos en el cachete. Y empezamos a preparar el terreno para contarle. Le dijimos: “Cami, ¿viste que ahora es común que las familias sean papá y mamá, mamá y mamá y papá y papá?”. Y ella nos respondió: “¿Por qué decís ahora? ¿Antes no era normal?”. Cuando Ari le explicó (con muchísimos nervios) que éramos pareja, Camila con naturalidad le dijo: “Tranquilo, pa, ya lo sabía. Ustedes se dicen ‘gordo de aquí’ y ‘gordo de allá’ y los amigos no se dicen ‘gordo’”.

Camila vive con su papá Ariel Ghiglione y el novio de su papá, Federico Hoffmann.

Nuestro hijo Vicente creció en un hogar con dos mamás. Me acuerdo de una anécdota en donde la prima de Vicente, que se ve que se había quedado pensando en nuestra familia, salta con la pregunta: “¿Vicente tiene dos mamás?”. “Sí”, le respondemos. Lo medita unos segundos y remata: “Y a mí qué me importa. ¡Yo tengo dos abuelas!”.

Com olhos apagados e mãos que nem nervosos passarinhos

Reunião de Família

bela-abody-nagy-generaciones

por Sylvia Plath
Tradução de Gian Le Fou

Lá fora na rua eu escuto
Uma porta de carro bater; vozes para um ouvido astuto
Trechos estranhos de conversas
E sapatos tiquetaqueando na travessa
A campainha rasga o sol vespertino
Com unhas de navalha;
Uma pausa imperceptível.
O barulho embotado dos meus pulsos
Luta contra um silêncio que se esgota
Alguém de dentro abre a porta.
Ó, ouça os sons das pessoas que se encontram —
As gargalhadas e os gritos dos que se amam:

Eternamente gorda e sem ar
Um beijo gorduroso em cada bochecha
Da tia Guiomar;
Olhe lá, lá está a rosadinha, que vive dando gritinhos
Prima Jane, a solteirona
Com olhos apagados
E mãos que nem nervosos passarinhos;
Enquanto isso, parecendo madeira estilhaçada, tio Paulo
Atravessa a sala
E com sua voz desagradável
Conta detestáveis piadas.
O sobrinho mais novo geme irritavelmente
E baba na fila de doces como um demente.

Como um mergulhador numa região elevada
Eu fico em pé no último degrau da escada
Um redemoinho diz que vai me dar sorte,
Eu me despeço da minha identidade
E mergulho para a morte.


Tela Gerações – Bela Abodi Nagy

Veja vídeo do poema e o texto original