Clarice Lispector e Ferreira Gullar

 

MEU POETA JORNALISTA

.

Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais…

 


Esta poesia é para ser lida de baixo para cima.

A autoria continua desconhecida, embora circule pela internete com a assinatura de Clarice Lispector.

Apesar de não ter escrito versos, Clarice Lispector publicou crônicas e contos que parecem poemas em prosa.

O importante é lembrar Clarice.

Clarice Lispector © Bluma Wainer

 

MORTE DE CLARICE LISPECTOR
por Ferreira Gullar

.

Enquanto te enterravam no cemitério judeu
de S. Francisco Xavier
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindo ainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção do Botafogo
E as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravam alegremente
que não dependem de nós

Visões d’amor (frases, poesia e música) 1

O espelho, por Fairfield Porter

O espelho, por Fairfield Porter

 

Só depois que a tecnologia inventou o telefone, o telégrafo, a televisão, a internet, foi que se descobriu que o problema de comunicação mais sério era o de perto.
Millôr Fernandes

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Clarice Lispector

Temos a mania de achar que amor é algo que se busca. Buscamos o amor nos bares, na internet, nas paradas de ônibus. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nas platéias dos teatros. Ele certamente está por ali, você quase pode sentir seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade.
Martha Medeiros

Equação do amor

Fico pensando o que é amor.
Como se fosse algo definível.
Façamos uma equação, uma fórmula:
amor é isso mais isso mais isso.
E, provavelmente, menos um milhão de aquilos.
Amor é mensurável em quilos.
Amor é bebido em litros.
Amor é vendido em liras.
É cantado em versos líricos.
Mas eu queria despi-lo de todo o idealismo
de toda a magia que os poetas
– sempre culpados! – construíram.
Queria ser capaz de pensá-lo
e senti-lo
com a praticidade e a realidade
dos velhos ou de novelas tolstoianas.
Negando o poema, eu queria amar.
Render-me à escravidão dos meus medos
(ou meus medos da escravidão)
e sentir por um instante a certeza
(absoluta, plena, sublime)
de que todo o meu organismo
a corrente sangüínea, as trocas de gases,
os ácidos gástricos, as sínteses protéicas
formando memórias
alimenta-se de um combustível
quase sobrenatural
e inegavelmente perene
que pode ter muitos nomes
fundidos em si, despersonalizando-o,
mas que nomeia-se, respeitosamente,
Amor.
Eu queria ter essa certeza
(suspendam-se as certezas!),
para ter a tranqüilidade
acima de todos os tempos verbais.
No entanto (é bom dizer),
talvez a dúvida seja
mais próxima do que seria o amor
se ele existisse.
Porque enche-o de vida.
Porque dizer eu-te-amo é banal,
é vazio – é o que todos fazem
Poetas ou não.
Amar com a sinceridade da dúvida
com a dor da incompreensão
e com a ambigüidade do ceticismo
é muito mais real.
Mais próximo de todos os deuses.
Cristina Moreno de Castro

O vermelho é a cor mais encarnada

Pode tirar meus sapatos, amor:
o frio já vem em vindo.
Nina Rizzi

saudade

MINHA ALEGRIA É TUA PELE LISA

Minha alegria é tua pele lisa
deslizar nela arranca gritos
de um prazer que estava ao desabrigo

Tropecei em muita carne morta e triste
antes de pôr a mão no teu seio
e minha doce água envolver-te

Um poema, por mais belo, não chega
onde aportamos, nus em pelo
com fogo nos olhos e línguas livres
a sentir o gosto salgado do amor

Por isso calo num gemido
e te derrubo com meus braços finos
Nei Duclós

O PACTO SAGRADO

Nem sob tortura
ou em juízo
podes violar
o sagrado pacto
do silêncio

Rasga o diário
mesmo que escrevas
em linguagem cifrada
coisas sem importância
como fez Beatrix Potter
por hábito e exercício

Nenhum lugar
é propício
para manifestar
uma jura de amor
Não esqueças
o divã dos psicanalistas
o confessionário
o auto-de-fé
convincentes armadilhas
dos atiradores de pedras

Certos segredos
incertos desejos
devem permanecer
bem trancados
a sete chaves
as chaves jogadas
no rio Jordão
Talis Andrade

THAÍS

Thaís, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ô, meu bem, não faz assim comigo não
Você tem, você tem que me dar seu coração

Meu amor, não posso esquecer
Se dá alegria faz também sofrer
A minha vida foi sempre assim
Só chorando as mágoas que não têm fim

Essa história de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse Nosso Senhor
Eu não pensaria mais no amor
Joubert de Carvalho

[Troquei o Ta-Hí da composição por Thaís
fica mais assim… Escute cantado por Nara Leão]

“É dífícil se livrar de Clarice Lispector. Não é literatura, é bruxaria”

Bruno Dorigatti entrevista Benjamin Mose biógrafo de Clarice Lispector

 

 

Clarice, por Cleoskull

Clarice, por Cleoskull

Clarice, a escritora falhada

Clarice Lispector foi gerada para salvar sua mãe de uma doença incurável na época. E falhou. Segundo Benjamim Moser, norte-americano que lançou este ano uma alentada biografia da enigmática escritora brasileira nascida na Ucrânia, foi esta culpa que ela carregou por toda a vida, cuja missão não seria outra que tentar, pela palavra escrita, se redimir. Se conseguiu alcançar seu objetivo, talvez nunca saibamos. O que fica, porém, é uma obra única, hoje devidamente canonizada e, a bem da verdade, que já estreou chancelada pela crítica e premiada com seu livro de estréia, Perto do coração selvagemSua obra nunca se preocupou com enredos e histórias, mas com uma investigação interior dos personagens. Foi inclusive uma das primeiras escritoras a publicar no Brasil o que seria chamado de obras de matiz psicológica, mesmo sem conhecer Katherine Mansfield ou ter lido James Joyce, com quem foi comparada.

Nascida no pequeno vilarejo de Tchetchelnik, na Ucrânia, Clarice e sua família – pai, mãe e as duas irmãs mais velhas – estavam em fuga. Judeus, pairava sobre eles a ameaça dos pogroms que varreram a então Rússia após o final da I Guerra Mundial. Sua mãe, Mania, teria contraído sífilis – na época sem cura, que só viria com a descoberta da penicilina – depois de ter sido estuprada por soldados russos. Segundo uma crença da região, uma gravidez poderia curá-la. Com essa finalidade, Haia – esse o nome de batismo de Clarice – foi concebida. Mas não deu certo. A família conseguiu chegar ao Brasil em 1922, estabelecendo-se em Maceió, Alagoas, onde moravam parentes da mãe de Clarice. Depois se mudaria para Recife (PE), onde Mania morre em 1930, e então, o viúvo Phinkas, que aqui viraria Pedro, fixa-se no Rio de Janeiro.

Clarice, (leia-se Clarice vírgula) é a alentada biografia da escritora, que tomou cinco anos de pesquisas, viagens e leituras do jovem Benjamin Moser, norte-americano hoje estabelecido na Holanda. Moser é crítico e tradutor, tem 33 anos e fala seis línguas, entre elas o português. Com o título original de Why this world, a biografia foi lançada nos Estados Unidos pela Oxford University Press, recebendo elogios do The New York Times, que o considerou um dos 100 melhores livros de 2009, do semanário inglês The Economist, além de outras publicações como London Times e a revistaBookforum.

No Brasil, a biografia ganhou bela edição da CosacNaify, em capa dura e 648 páginas, das quais 558 são de texto e as demais, de notas, bibliografia, agradecimentos e índice remissivo. Para contrastar com a belíssima Clarice Fotobiografia, lançada em 2008 pela Edusp e a Imprensa Oficial de São Paulo, de Nádia Batella Gotlib, a edição brasileira do livro de Moser traz apenas uma imagem, a clássica foto de Clarice de perfil, em seu apartamento no Leme, Rio de Janeiro, escrevendo à máquina, feita por Claudia Andujar, em 1961.  Nádia também é responsável por outra biografia de fôlego da autora de A hora da estrela e A paixão segundo GHClarice, uma vida que se conta, lançada originalmente em 1994 pela Ática, teve cinco edições, todas esgotadas. Para esta reedição pela Edusp, lançada em dezembro de 2009, a autora fez uma revisão e ampliação de sua obra. NaFotobiografia ela havia reunido 800 imagens, das quais a maior parte é inédita.

Foto de Claudia Andujar (Clarice)

Foto de Claudia Andujar (Clarice)

Ambos os livros focam e se utilizam tanto de dados biográficos como das obras da escritora e sua fortuna crítica, que dialogam entre si. Moser, porém, aprofunda o que classifica de aspectos do misticismo judaico no texto de Clarice, cuja origem estaria em sua ascendência judaica, embora ela própria desconfiasse da existência de um deus onisciente e onipotente. “Ela quer reconstruir o mundo. E reconciliar o homem com Deus. É uma coisa de uma missão absolutamente espantosa. Acho que é isso que a gente sente quando lê Clarice. Porque não é fácil ler Clarice às vezes”, afirma ele nessa entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo.

Foto de Stefan Hess (Moser)

Foto de Stefan Hess (Moser)

Moser esteve no Brasil em novembro para o lançamento de Clarice, (Cosac Naify) em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, quando nos concedeu esta entrevista. E se emocionou com a recepção que teve dos apaixonados pela a obra da escritora. “É uma satisfação imensa para mim, porque é uma pessoa que eu amo muito. E quando amamos uma pessoa, queremos que os outros também a amem. E é uma satisfação enorme ver que eu não sou o único. E também não sou o último. Ainda bem”, finaliza. Por fim, ele sintetiza bem a sensação que a escritora provoca: “É difícil se livrar de Clarice”. Moser fez um belo ensaio, uma obra de fôlego e detalhismo impressionantes. Com ele voltamos à difícil época do pós-guerra na Ucrânia, passamos pelo Nordeste brasileiro do início do século XX, conhecemos o meio cultural e jornalístico do Brasil e sobretudo do Rio de Janeiro, então capital, em meados do século passado, viajamos à Europa do pós-guerra. Uma obra de fôlego, da altura e da importância de Clarice Lispector.

Você veio para o Brasil a primeira vez em 1996?

Benjamin Moser. Eu estava estudando português na faculdade, nos Estados Unidos, e vim para o Brasil para passar um semestre na PUC do Rio de Janeiro. Foi a primeira viagem que fiz ao país. Conheci muitos lugares, fui para o sul, para o nordeste. Depois disso, acabei voltando muito. Agora me sinto totalmente em casa aqui. Mas a cada viagem tem uma coisa nova que eu não esperava. Agora é essa coisa de ser entrevistado, isso nunca me passou pela cabeça, mas estou gostando.

Como surgiu o interesse por Clarice Lispector?

Moser. Surgiu na faculdade. Antes de eu vir para cá, li uma obra dela em um curso de literatura brasileira, A hora da estrela. Tive que ler por obrigação, e foi essa obra que me segurou, e que nunca mais me abandonou. Mas eu não sabia que 15 anos depois eu estaria aqui, com esse livro, com a paixão por ela, pela obra dela, que nunca parou de crescer.

E como foi essa decisão de fazer uma biografia sobre ela?

Moser. Não foi algo imediato, não, só dez anos depois me decidi por escrever essa biografia. Adoro Clarice, como adoro muitos escritores e artistas. Tem muita gente de quem sou fã, mas a idéia foi se impondo aos poucos. Eu pensava: “É uma pena que ninguém faça nada com Clarice fora do Brasil”. Aqui, ela é muito famosa, todo mundo conhece. Mas fiquei esperando, esperando, e ninguém fez. Então por que não faço eu? Alguém tinha que fazer. Porque é um assunto que tem que ser divulgado, e então eu fiz. E estou muito feliz em ver que chegou até a terra dela.

Como foi a sua pesquisa?

Moser. Fui a muitos lugares, não só no Brasil. Fui para a Ucrânia [onde Clarice nasceu], um país totalmente inesperado, fascinante. E na Europa: Itália, Suíça, Inglaterra, França, além dos Estados Unidos. Ela viveu em muitos lugares. E também aqui no Brasil, viveu em Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro. O marido dela era diplomata. Eu vivia nessas viagens, e adorei, gosto de viajar. É um bom motivo. Fui parar até na Moldávia. Quando da fuga dos pais de Clarice da terra natal, eles ficaram um tempo na Moldávia. Acho que sem Clarice eu nunca teria visto aquele país. Mas gostei, foi legal.

Clarice Lispector, criança no Recife

Clarice Lispector, criança no Recife

Você conseguiu identificar ainda conexões de Clarice com esses lugares?

Moser. Tem lugares que são só para cheirar, digamos, só para ver. Na Ucrânia, por exemplo, faz 90 anos que eles saíram de lá. Depois de tudo o que aconteceu, não sobra nada de traços pessoais. Mas você pode ver, por exemplo, em Tchetchelnik, a aldeia onde ela nasceu, uma coisa muito curiosa. É uma região de fronteira, então sempre foi muito violenta, desde o século XVII. Tudo o que aconteceu com a família dela, depois da I Guerra [1914-1917], era comum naquela região. Na cidadezinha onde ela nasceu, tem túneis subterrâneos enormes. É um lugar muito pequeno, mas embaixo de todas as casas tem um sistema de túneis enormes, com três, quatro metros de altura, até com rios. Pois servia para a cidade toda se refugiar, inclusive os animais, bois, cavalos etc. E a cidade esvaziava quanto tinha ataques, o que era muito freqüente. Era interessante contextualizar a situação de guerra em que ela nasceu. Um lugar que aparentemente é muito tranqüilo. Mas quando conhece in loco, você vê que era um lugar de perigo.

É uma coisa muito interessante essa coisa subterrânea que ela tem e ajuda a gente a alcançar dentro de nós também. É um símbolo muito interessante para a obra dela. Porque ela foi cavando, cavando, cavando, cada vez mais para baixo. Não é um fato novo na vida dela, mas é uma sensação muito interessante para o biógrafo ver o lugar onde essa pessoa nasceu. Um lugar que, para os brasileiros e para mim, é difícil de imaginar. Não tem nada a ver com o Brasil, ou com nada. É um lugar muito isolado, muito pobre, mas que tem uma coisa muito fascinante.

O que te surpreendeu mais nessa pesquisa?

Moser. Em geral, tinha tantas coisas interessantes na Clarice. E uma das coisas que acho mais espantosa… bom, tem muitas. Se eu tivesse escrito esse livro como um romance, nenhuma editora teria publicado, porque é bizarro demais. É uma vida exótica demais. Ela conheceu muita gente, no Brasil e lá fora. Viajou, presenciou muitíssimas coisas. Se você for fazer um romance com uma pessoa como ela, não daria, porque as pessoas não acreditariam. A coisa mais espantosa é que ela consegue escrever a própria morte. Ela encena a morte durante anos, ela está querendo matar as personagens dela. E, aos poucos, ela não consegue. Nos anos 1970, depois de se machucar muito num incêndio, ela vai, aos poucos, se apagando fisicamente. Só que a obra dela vai florescendo de maneira absolutamente esplêndida. Ela quer morrer, claro, mas não pode deixar as personagens morrerem, senão ela vai ter que morrer. E, finalmente, ela deixa Macabéa morrer, em A hora da estrela. E logo depois de publicar o livro, ela vai pro hospital e morre, ela própria. Então, a coisa mais interessante é que a obra e a vida não têm um vínculo assim de alguém que está contando histórias. É uma necessidade absolutamente vital que ela teve, desde menina.

É dífícil se livrar de Clarice.

Havia escritores aqui, como Caio Fernando Abreu, e vários outros… O Caio Fernando teve que se mudar de cidade para escapar da obra dela. Ela já estava morta. Mas é um impacto muito forte, eles dizem que não é literatura, é bruxaria. O que acho muito exagerado, mas acho que entendo o que querem dizer com isso. Não tem como comparar com outros escritores. O aspecto místico – dou muita ênfase no livro aos aspectos do misticismo judaico, muito presentes na obra dela – faz com que a obra tenha uma missão sagrada, como ela própria teve. Porque ela foi gerada para curar a mãe de uma doença incurável. E fracassou. Mas, menina ainda, contava histórias mágicas com finais milagrosos, aonde algum santo chegava e salvava a mãe. Uma prima dela me contou isso no Recife. Só que essa missão fracassa, porque a mãe teve uma doença muito séria, que não se cura com historinhas de uma menina. A origem da escrita dela está nessa missão sagrada. Então, nunca é só uma literatura de contar piadas, contar casos, fazer descrições de morros e praias. Não é por aí. Ela quer reconstruir o mundo. E reconciliar o homem com Deus. É uma coisa de uma missão absolutamente espantosa. Acho que é isso que a gente sente quando lê Clarice. Porque não é fácil ler Clarice às vezes.

Mas você acha que ela tinha essa dimensão, essa percepção sobre ela mesma, como missionária?

Moser. Ah, ela fala, diz isso. Ela diz que foi gerada para curar a mãe, que fracassou. Ela se descreve como a escritora falhada. Mas, ao mesmo tempo, um homem me disse em uma livraria em São Paulo, que, apesar desse fracasso, ela salvou e curou muita gente. Sem saber. Acho que hoje em dia ela é lida, no Brasil e no mundo, como uma amiga, que está muito próxima da gente. Não é uma imagem distante, não é um mito. Embora tenha esse lado mitológico dela, quem gosta de Clarice, na verdade sente mais amor, paixão. [silêncio] Tentei colocar esse lado humano aqui, mais do que o mitológico. Porque o mitológico é engraçado, tem historinhas divertidas sobre ela, e muitas. Mas não quis isso.

E como é lançar o livro no Brasil?

Moser. É um prazer tão grande estar aqui no Brasil, na terra dela, falando com as pessoas. Porque eu fiz o livro para torná-la mais conhecida na Europa e nos Estados Unidos. Então, tenho passado por muitos países falando dela, mas é sempre uma introdução, as pessoas não sabem nada sobre ela. O que era a minha idéia, levar essa pessoa para outras que não a conheciam. Mas aqui, em um país onde ela é tão amada e tão conhecida, as pessoas vêm realmente apaixonadas para falar sobre ela. É uma satisfação imensa para mim, porque é uma pessoa que eu amo muito. E quando amamos uma pessoa, queremos que os outros também a amem. E é uma satisfação enorme ver que eu não sou o único. E também não sou o último. Ainda bem.

OFELIA GRANDE: “Argentina es un país de muchos y buenos lectores”

Siruela, editorial española que hace menos de un año imprime algunos títulos en el país, pone la mira en América en medio de la crisis económica europea y apuesta a ampliar el mercado en “un país con muchos y muy buenos lectores”, dijo su directora, Ofelia Grande, de visita en la 39na. Feria del Libro de Buenos Aires.

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Grande es tajante: “Con una tasa de desempleo cercana al 27 por ciento en España —la gente no va al cine, ni a restoranes ni a tiendas, paga el colegio de sus hijos y ya— nos enfocamos más en América y con mucha expectativa en Argentina, un país con gran interés lector y un público interesado en la cultura”.

En diálogo con Télam explicó que “como resultado de las dificultades en la importación de libros, con cupos que se redujeron y la falta de títulos fundamentales, Siruela decidió imprimir en Argentina cuatro autores que reclamaba el mercado -Italo Calvino, Jostein Gaarder, Clarice Lispector y Cees Nooteboom- logrando muy buena calidad de impresión y que los títulos vendan”.

“Aunque ahorremos en logística los costos de producción no se reducen pero conseguimos permanecer en un mercado que nos interesa mucho: América suma un tercio de la facturación total de Siruela y Argentina cerca de un décimo”, señala la directora del sello que en el país distribuye Grupal.

Estas modificaciones en la gestión editorial generan complicaciones de otro tipo, como “asimilar un sistema de trabajo diferente”.

Muchos autores no aprueban que su libro se imprima fuera del territorio en que firmaron contrato, “habituados a trabajar con sellos que tienen un sólo idioma para un sólo país —detalló la editora—, y Siruela está comprando derechos en español para vender en España por un lado y en Argentina y México por el otro, donde los costos sí son menores”.

La editorial “una empresa cultural independiente económicamente de grandes grupos, y libre para decidir su catálogo si bien otras realidades definen lo posible dentro de la edición”, se instaló en el predio de avenida Sarmiento 4201 con la intensión de mostrarse y hallar jóvenes escritores locales para sumar a su catálogo.

El sello ya cuenta entre sus filas con Elsa Osorio, elegida por “su escritura emocional”, y con Ernesto Mallo, “un autor policíaco como los de antes, que te hace vivir el desgarro de sus personajes y muy argentino, una cultura con la que España se siente muy afín. Es como vernos del otro lado del espejo. Los españoles de América…, nuestro espacio mítico”, describió Grande.

Respecto del futuro de la edición, sintetizó: “En España hay dos crisis, una es esa inconsistencia económica que afecta al consumo en general y arrastra a todos, y por tanto a la venta de libros y toda la industria editorial; y la otra producida por la piratería digital”.

“El incremento de venta de aparatos lectores, como ipads y readers, es exponencialmente más alto que el de descargas digitales legales -denunció-, y aunque perfectamente podría elaborarse una legislación de control no ocurre porque sería antipopular; y a esto suma que en España el IVA al libro en papel es del 4% mientras que al digital se aplica 21% encareciendo los precios esperados por el usuario” que, de esta manera, prefiere una descarga ilegal.

A su entender, más allá de una idiosincrasia abierta y pública de una Web que tiene sus propias reglas, esto responde a que “falta educación, a nuestros jóvenes nadie les ha dicho eso es robar”.

“Es legítimo aplicar a las versiones digitales los costes del trabajo editorial y es muy difícil vender un e-book a 1,50 euros”, dijo.

“Países con otra conciencia social, como los del norte de Europa, tienen un sistema educativo que logró que sus jóvenes no pirateen y en Francia, por ejemplo, detectan desde qué ordenador pirateas y te cortan la conexión, tampoco sé cuánto sirve eso, pero somos latinos y por algún motivo este tipo de cosas se entienden diferente”, sonríe.

Los editores tendrán que ver si este contexto “les compensa publicar e-books, muchos costos, por no decir todos, son absorbidos por el libro en papel, por lo que consideran esa ganancia como un añadido, pero las descargas son mínimas, un promedio de 300 por título en dos años, fuera de las compras institucionales que llegaron a las 20.000”, cuando se trata de textos escolares comprados por el Estado.

Grande reconoció que “es un dinero que no ha costado mucho producir pero que modifica el negocio tal como lo entendemos ahora, lo digital replanteará muchas de sus variables y términos en un sentido que al presente no puedo vislumbrar”.

“Nos pasamos 10 años hablando que venía el libro digital, por fin llegó hace año y medio y, en términos porcentuales el incremento del negocio es bestial —si vendiste un e-book hace un año y ahora dos tuviste un incremento del 100 por 100— pero en términos reales es nada”, ejemplificó sin perder las esperanzas: “En Estados Unidos, que nos lleva más o menos tres años de ventaja, hay grandes editoriales  cuya venta on-line alcanza el 30 por ciento de la recaudación total”.