ENCONTRO COM CARONTE

poema de Talis Andrade

Na tarde avulsa
Francisco Bandeira de Mello
serenamente caminha
embora esteja acesa
a chama amarela do perigo

Chegou a hora precisa
de salvar Ariano
o imperador da Pedra do Reino
Chegou a hora de salvar o amigo
das mãos do velho Caronte
que amarrou o barco
em uma das mil pontes
do Recife

Na tarde avulsa
o franciscano Francisco
serenamente caminha
O importante
o saber pela intuição
não pelo instinto
Conhecer em que ponte
se esconde o inimigo


Publicado in Vinho Encantado, 2004

Foto Ariano Suassuna

 

BANDEIRA POETA ARMORIAL

por Ariano Suassua

Francisco Bandeira de Mello

Bandeira, poeta cortesão,
Bandeira, poeta armorial,
ó claro bardo provençal,
de galo, peixe e hierofonte,
de fauno bêbado e bacante,
do sal, do sol, do mar, do mal.

Bandeira canta como moço
e à morte fala como velho
– mago Bandeira, águr do só!
Do espinho, sol quase vermelho,
do condenado ao pé do espelho,
do solo amargo, do negro pó.

Bandeira fiel a sua amada,
Bandeira fiel ao seu amigo.
Cantar de amor, cantar de amigo
e a morte sempre desejada,
chama amarela do perigo.

Estás e estamos todos na ponte
do velho diabo, nosso inimigo.
Já chega a barca de Caronte:
Bandeira – arqueiro, poeta, fonte,
quero salvar-me mas não consigo!